Existe fórmula para o sucesso? Se sim, o entrevistado de hoje já a descobriu há muitos anos.
Casado. Duas filhas; e corintiano roxo. André Akkari poderia ser apenas mais um entre as 190 milhões de pessoas espalhadas pelo Brasil. Mas quis o destino que ele nascesse para brilhar.
Em 2006, o paulistano de Tatuapé decidiu apostar todas as suas fichas no poker. Deu certo. Anos mais tarde, ele tornou-se campeão mundial e principal ícone do esporte mental no País.
Como foi o seu primeiro encontro com o poker?
Eu, junto com dois amigos, tinha uma pequena empresa de tecnologia. Nós então recebemos uma proposta para fazer o e-commerce de um site de poker – vender boné, camiseta, essas coisas. E eu era o responsável por fazer esse tipo de trabalho. Então, tive que instalar o software e abri umas mesas para ver como as coisas funcionavam. Eram jogos play money (dinheiro fictício). Acabei me interessando e comecei a jogar. Comprei um livro aqui e outro ali, e a coisa foi andando.
Como foi a profissionalização e a troca de emprego?
Só pensei em largar o emprego quando já estava ganhando regulamente. Eu já tinha mais lucro com o poker do que com meu trabalho. Isso em maio de 2006, um ano após eu ter conhecido o poker. Então, eu conversei com a minha esposa, Paula. Ela deu apoio, apesar de não saber nada do jogo. “Se você acredita que vai da certo, manda bala”, ela me disse. Eu confiei, caí de cabeça no negócio e deu tudo certo.
E como reagiram as pessoas próximas a você?
Meus sócios viram que eu estava levando a sério e que eu tinha resultados. Eles me deram muito apoio e disseram que eu deveria tentar a vida no poker. Falaram que eu poderia sair, e caso não desse certo, eu poderia voltar. Isso também me deu uma segurança maior.
Com meu pai, eu não tinha muito contato. Era separado da minha mãe, morava em outro lugar. Mas, do jeito dele, acabou apoiando. Ela ficou preocupada. Porque, até então, o poker não era benquisto. Ela sempre me chamava para conversar. “Cuidado, você tem duas filhas, tem um monte de história de gente que perdeu tudo no jogo”, dizia ela. Eu rebatia. Explicava que o poker não era um jogo de azar, mas sim de habilidade. Aos poucos ela aceitou, principalmente com os resultados no Bellagio e no Conrad, também quitei o apartamento etc.
Escute o que André Akkari tem a dizer sobre o preconceito contra o poker.
Em matéria publicada na Card Player Brasil, Pedro Nogueira mostrou que o poker é o esporte individual mais rico do Brasil. E quando há cifras milionárias envolvidas não podemos deixar de pensar na questão social. O que você poderia dizer sobre isso?
Eu sempre tive um lado social atuante. Sempre gostei de ajudar, mas nunca tive muita condição de fazer. Então, era muito mais com a boa vontade. Financeiramente era complicado. Agora já acho que posso fazer diferença. Comecei a me planejar mais para algo maior, que realmente ajudasse rotineiramente mais pessoas. Resolvi montar um instituto. Eu sempre fiz questão de ajudar, mas não precisamos fica fazendo estardalhaço sobre isso. O instituto é apenas mais um passo.
Eu tenho certeza de que muitas pessoas fazem isso. A mídia sempre divulga diversas iniciativas ao redor do mundo. Quando o poker é bem jogado, ele traz retorno aos profissionais. Existem muitos, que eu conheço, com esse mesmo tipo de consciência. É uma minoria, infelizmente, como em qualquer área.
Hoje em dia, ninguém pensa em ajudar ninguém, mas graças a Deus temos alguns que fazem alguma coisa. Como o poker tem muito dinheiro envolvido, tomara que mais gente pense assim, no Brasil e fora.
No poker, apontar quem é o melhor jogador é correr o risco de cair no ridículo. Mas é inegável que, hoje, você é o principal ícone desse esporte no Brasil. Como se deu esse processo?
Eu não sei se posso ser definido como tal. São várias as pessoas que têm uma boa representatividade no Brasil. Houve uma combinação de fatores que me colocaram acima dos outros em termos de mídia. Por exemplo, ser comentarista da ESPN. Isso me deu uma visibilidade muito boa. Obviamente, meus resultados, online e ao vivo, também ajudaram.
Mas, desde o início, eu sempre me preocupei com algo além do jogo. Eu sou formado em publicidade, então sempre tive essa preocupação de trabalhar minha imagem. Eu criei um projeto para administrar minha carreira, tanto tecnicamente como na parte de marketing. Não que eu seja maior ou melhor que alguém. Eu só acredito que fiz as coisas bem feitas até agora, nos feltros e fora dele. Mas eu acho que a tendência é que mais pessoas assim apareçam no País.
No ano passado, André Akkari se tornou o segundo brasileiro a conquistar um título da World Series of Poker, a série de torneios mais importante da modalidade. Veja o que ele disse sobre isso.
O poker é um esporte que causa uma comoção única no Brasil. Por exemplo, vários palmeirenses já declararam que vão torcer pelo Chael Sonnen no duelo contra o Anderson Silva. Mas quando um brasileiro está em uma final de um torneio, o apoio é praticamente unânime. No seu título em Las Vegas, os próprios organizadores da World Series disseram nunca ter visto uma torcida parecida. Como você explicaria isso?
O Brasil vem tratando o poker de um jeito diferente. Como o jogo rapidamente criou muitos adeptos, as pessoas rapidamente abraçaram o poker como uma paixão. Elas se sentiram bem jogando, e querem garantir o direito de jogar sempre.
O poker tornou-se quase que como um filho para cada um. Se alguém fala mal, você já quer sair para briga. Isso virou uma cultura aqui no nosso País. O grupo de aficionados pelo esporte se abraçou, todos dentro de uma comunidade. E eu tenho certeza que fui um dos grandes representantes dessa filosofia. Eu, na mesa final da World Series, com aquele grupo de pessoas em volta, era mais ou menos o filho daquela galera que estava brigando pelo título, pelo esporte. E todos sabiam que, se eu ganhasse, a missão do esporte ficaria mais fácil. Então houve essa comoção, um grupo de pessoas que ama o poker e que sabe é válido quase tudo para brigar pelo seu esporte. Eles surtaram, choraram, espernearam... Entraram no clima e me ajudaram a conquistar o título.
Akkari e seu bracelete da WSOP 2011
Eu não consigo ver o poker fora do Brasil como ele é visto aqui. O brasileiro é passional. Quando ele abraça uma coisa, vira guerra, questão de honra. Não é assim no resto do mundo. Você vê um francês ganhando um torneio da WSOP e não tem mais que uns dez amigos torcendo pelo cara. Aqui, o esporte cai nas graças da galera. O brasileiro está acostumado a torcer pelo futebol, e ele acha que aquela paixão futebolística serve para tudo. “Diretas Já”, ele vai pra rua e é guerra.
Com o poker foi a mesma coisa, a coisa aconteceu naquela emoção. E é muito bacana você fazer parte de uma comunidade dessas. Saber que se você estiver na mesa final tudo irá se repetir. Não só para mim, mas para qualquer um que faça parte disso. Graças a Deus, isso aconteceu para mim, mas eu tenho certeza absoluta que vai acontecer com os caras que vão pra Vegas esse ano ou no próximo. Pode ter certeza, se um gringo encarar um brasuca em uma batalha valendo um bracelete, ele vai sentir a pressão; a pressão da torcida brasileira.
O poker é um esporte elitista? É preciso ser rico para jogar? Akkari mostra que não...
Na segunda parte da entrevista, que vocês conferem na semana que vem, Akkari fala sobre seu patrocínio, o que é necessário para se tornar um profissional, lado empreendedor, o futuro dos atletas da mente no Brasil e muito mais. Fiquem ligados.
O editor da revista Card Player Brasil se considera um sujeito humilde e trabalhador, mas há controvérsias. Acredita ser um gênio dos fantasy games.