Gualter Salles tem história pra contar. Ex-piloto de automobilismo profissional, entrou no mundo do poker como "amigo" (friend) do PokerStars, estudou, se dedicou ao jogo e, hoje, é um dos mais respeitados profissionais do poker no Brasil.
Durante a disputa do LAPT Grand Final, em Rosario (ARG), Gualtinho, como é chamado, falou com a Card Player Brasil.
Na conversa, o hoje membro do Team PokerStars Pro falou sobre sua carreira, seus projetos, suas ambições e, é claro, sobre a histórica passagem pelo main event do WSOP 2010, quando conseguiu terminar ITM mesmo depois de sobrar com apenas uma ficha. Confira!
Card Player Brasil: Pra começar bem: conte direito essa história do main event da WSOP 2010...
Gualter Salles: A WSOP 2010 foi inesquecivel para mim. Vivi uma situação inusitada. Eu ja estava ITM, num torneio muito duro, no qual não consegui crescer em momento algum. Não entrava jogo, mas fui me segurando até conseguir chegar na faixa de premiação. No meio do torneio, tomei uma bad beat horrível, consegui me recuperar, voltei pro jogo, entrei no dinheiro e, quando faltavam 500 jogadores, me envolvi numa parada com par de valetes e acabei perdendo. Achei até que tinha sido eliminado, mas me sobrou um ficha de mil [o menor valor àquela altura]. com essa ficha, no mesmo dia, consegui me recuperar, dobrar varias vezes e terminar o dia com 939 mil fichas. No dia seginte, fui a 1.350.000 fichas. Foi maravilhoso, uma sensação indescritível. Acabei eliminado em 117, mas foi algo absolutamente inesquecivel. Ir de uma ficha de mil para mais de 1,3 milhão não dá pra esquecer! O reconhecimento de todos também foi incrível, me deixou muito feliz.
CPB: Na noite da última segunda-feira, você ficou em segundo no WCOOP Second Chance. Foi a coroação do seu melhor ano no poker?
GS: Não sei se este é o meu melhor ano, mas foi um deles com certeza. Eu venho evoluindo ano a ano... em 2008 também tive bons resultados no EPT, no WPT. Em 2009, cheguei em 12 num evento paralelo da WSOP. Em 2010, fui longe no main event do WSOP e online também consegui ótimos resultados. É difícil dizer se um é melhor que outro, porque as circustâncias são diferentes em cada situação. O importante é que eu tenho certeza que a cada ano cresço um pouco. Melhorei muito meu jogo, sei que evoluí consideravelmente nos últimos tempos, mas também sei que ainda tenho muito a aprender. Já melhorei várias coisas, mas ainda tenho muito a melhorar. Com certeza, meu melhor ano no poker ainda está por vir.
CPB: Mesmo com grandes resultados desde que se tornou profissional, parece que nos eventos do LAPT você não dá muita sorte...
GS: Pois é... o LAPT não tem me tratado muito bem, perco jogadas incríveis [risos]. Nos LAPT eu só vou bem em eventos paralelos. Nos main events, só consegui ir longe na etapa do México [na segunda temporada], que acabou interrompido no meio. Cheguei na faixa de premiação, mas o torneio não foi até o final. Já fiz algumas mesas finais nos torneios Second Chance, e só. Mas sei que vou virar, sair dessa situação. E, quando isso acontecer, vai ser logo pra buscar uma mesa final, um título.
CPB: Existe alguma dificuldade específica nesses eventos? Por que isso acontece? Por causa da estrutura do torneio? Ou por causa do nível do field?
Ouça o próprio Gualter explicando no player abaixo!
CPB: O que você achou do retorno do LAPT ao Brasil com a etapa em Florianópolis, em agosto passado?
GS: O LAPT Floripa foi muito legal. O único problema é que estava frio, não deu pra curtir tanto o lugar, os estrangeiros não puderam aproveitar e conhecer as verdadeiras características do lugar. Mas o torneio em si foi sensacional, com quase 400 jogadores inscritos. Espero que ano que vem continue, em Floripa ou nao, mas de preferência numa época que dê pra curtir mais o lugar.
CPB: Como membro do Team PokerStars Pro, você vive o universo do poker intensamente, sempre viajando, jogando os maiores torneios do mundo. O que se ouve a respeito do poker brasileiro lá fora? Os gringos reconhecem nossa força? O crescimento do poker no Brasil pode ser notado lá fora também?
Ouça a resposta no player abaixo!
CPB: Você se considera um jogador de poker online ou live?
GS: Eu gosto dos dois. Apesar de terem as mesmas regras, são jogos diferentes. Tem muitas coisas que você faz num torneio online que não vai fazer em um ao vivo, e vice-versa. Mas é tudo uma questão de prática. A diferença é que online eu jogo em média 40 torneios por semana. Ao vivo, talvez um por mês. Então acabo praticando muito mais o poker online do que ao vivo. E isso é algo que eu gostaria de mudar...
CPB: Como você poderia fazer isso? Jogando torneios no Brasil?
GS: Infelizmente, por motivos contratuais, não posso jogar os torneios do BSOP. Eu gostaria muito de participar, porque estes torneios estão crescendo muito, o nível do field melhora a cada etapa... mas meu contrato com o PokerStars não permite. Espero mudar isso em breve. Jogando o BSOP eu poderia disputar mais torneios live sem viajar, sair do pais, e ainda disputando bons prêmios. Mas por enquanto isso esté no meu contrato e tenho que respeitar.
CPB: Se não houvesse essa cláusula, você deixaria de jogar um torneio internacional pra disputar, por exemplo, uma etapa do BSOP?
GS: Depende muito do torneio. No Brasil, esses torneios com buy-in de mil reais, mil e pouco, são bons pra quando estou no país, sem viagens programadas. Não tenho como deixar de jogar um LAPT, um EPT, um NAPT, um WSOP, que são torneios de valores maiores, com nível muito mais alto, onde eu consigo desevolver muito mais o meu jogo, brigando por prêmios enormes, pra jogar no Brasil. Mas eu poderia, tranquilamente, conciliar os dois. Tem época que estou no Brasil, sem viagens marcadas ou torneio acontecendo lá fora, que eu poderia estar jogando, por exemplo, alguma etapa do BSOP.
CPB: Você entrou no PokerStars como um jogador "semi-profissional". Hoje, já pode dizer que o poker é a sua profissão?
GS: Sem dúvidas! Hoje, sou jogador de poker profissional. Também sou empresário no automobilismo, mas minha principal atividade, que eu, disparado, dedico a grande parte do meu tempo, é o poker. Seja jogando ou com o Tv Poker Pro, que é um projeto meu, do Andre Akkari e do Alexandre Gomes.
CPB: Além de ex-piloto profissional, qual sua ligação com os esportes? Ainda pratica alguma atividade física? Isso te ajuda no poker?
GS: Os esportes fazem parte da minha vida, não consigo ficar sem. Quando não consigo praticar esportes, me sinto mal, despreparado pras lutas do dia a dia. O esporte ajuda em tudo, melhora muito nosso rendimento em qualquer atividade. É fundamental. Quando não estou em torneio, jogo muito tênis. E, é claro, curto muito futebol. Sou flamenguista doente e estou sempre de olho - ou jogando. Faz bem para mim.
O editor da revista Card Player Brasil se considera um sujeito humilde e trabalhador, mas há controvérsias. Acredita ser um gênio dos fantasy games.