EDIÇÃO 88 » COLUNA NACIONAL

Desafio do Eiji


Fábio Eiji
Este final de ano tem sido bastante atarefado; muitas atividades relacionadas ao poker, como torneios e coachings, têm tomado bastante o meu tempo. Para não deixar vocês sem um artigo neste mês, resolvi publicar aqui na Card Player uma análise que foi o tema do Desafio do Eiji I, que vocês podem acessar no meu blog www. fabioeiji.com.br.
 
Trata-se de uma questão aparentemente simples, mas interessante pelos conceitos e stacks envolvidos. 
 
A MÃO
Em MP2, Hero, com 18 bbs, faz um mini-raise com A8. Apenas o jogador no CO paga. Ele tem 30 bbs de stack e não temos maiores informações.
O Flop traz A 2 J.
Devemos fazer uma continuation bet? 
 
PRÉ-FLOP
Não tenho absolutamente nada contra o raise pré-flop se estiver jogando em uma mesa tight. Hero tem um blocker (Ás) e suited, e a tendência é enfrentar poucos calls por causa do stack curto. A favor do raise é que dificilmente seremos explorados — é muito difícil, por exemplo, fazer uma 3-bet light com um stack de 18 bbs.
 
Por outro lado, se jogamos uma mesa cheia de jogadores passivos, o fold é mais recomendável, já que jogaremos muitas vezes o pós-flop fora de posição, com uma mão fraca e um pote grande em relação ao nosso stack.
 
VALOR E BLEFE
Antes de ser uma pergunta sobre continuation bet, esse desafio é uma pergunta sobre um conceito básico do poker: o motivo pra apostar. Pode parecer simples, mas é um dos grandes erros que os jogadores cometem.
 
Só existem dois motivos pra apostar no poker: valor ou blefe.
 
Uma aposta por valor é aquela que recebe ação de mãos piores.
 
Uma aposta por blefe é aquela que consegue fazer mãos melhores desistirem.
 
No caso do A8s, quais mãos melhores do que a nossa vão desistir? Nenhuma. Logo, a aposta não funciona como blefe. E quais mãos piores vão dar call? Muito poucas. Por isso, não há um grande valor nessa aposta.
 
Estão erradas todas as respostas que justificam as ações com algum desses argumentos: “eu quero encerrar a mão logo”, “preciso saber onde estou pisando”, “vou apostar porque tenho top pair”. Veja bem, nenhuma dessas ideias são realmente motivos para apostar. Informação e proteção são consequências da aposta, não motivos.
 
FLOP: FAZER A C-BET OU NÃO?
Dependendo do jogador, há de se fazer ajustes. Por isso, considero corretas duas respostas:
 
Se enfrentamos um jogador mais passivo, a c-bet de 1/3 do pote funciona bem, já que a tendência é que esse tipo de jogador tenha um range grande de flat call pré-flop e seguirá na mão com praticamente todas as broadways (por serem straight draw) além dos Valetes. Dessa forma, o Hero vai criando um pote grande e induzindo o oponente a se comprometer com uma mão marginal. Mas veja bem, não estamos falando aqui em “encerrar a mão” ou “mostrar que temos força”. Nada disso. Estamos falando em uma aposta por valor.
 
Contra jogadores mais agressivos, o check é a melhor opção, já que o range de flat do vilão é mais definido (por exemplo, jogadores agressivos tendem a ir 3-bet pré-flop com AJ+) e ele tende a explorar nosso check mais vezes que o jogador passivo. Esse tipo de vilão transformará em blefe muitas mãos que tenham valor de showdown, como J-X e alguns pares. Além do que, quando optamos pela c-bet contra esse tipo de jogador, facilitamos demais sua vida e, a partir de então, ele praticamente não cometerá erros.
 
Como padrão, o check-call flop segue sendo a melhor linha, já que a maioria dos jogadores que enfrentamos cometem mais erros no turn e river do que no flop.
 
JOGANDO TURN E RIVER
Como padrão, podemos assumir a linha do check-call flop e ajustar conforme o jogador que enfrentamos.
 
Na maioria das vezes não há mais como dar fold depois do check-call flop. Isso porque teremos aproximadamente um pote pra trás, SPR = 1 (para saber mais sobre SPR, você deve ler o meu artigo publicado na edição 76), e o range do vilão tem poucos A-X. Nossa mão é um bluff catcher (pega-blefe) em uma situação que é possível induzir a muitos blefes. Quando não há chance do adversário blefar, há a possibilidade do check-fold. Mas cuidado, é preciso ter informações sólidas pra esse fold funcionar bem.
 
Quando enfrentamos check behind no flop, a linha do bet turn e bet river é boa, justamente porque você elimina os A-X do seu range aos olhos de um vilão mais despreparado. Dessa forma, ele tende a não dar fold em um J para duas apostas. Aliás, muitas vezes não dão fold em par algum.
 



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