Nesta edição, vou falar sobre um assunto que dá calafrios em muitos jogadores, mas do qual não temos como fugir para sempre: a matemática do poker. O que está por trás da decisão de dar call ou fold quando nos deparamos com um all-in e não podemos dar raise? Vamos tentar descobrir.
Aqui, vou analisar um cenário em que as possibilidades são apenas de desistir ou pagar, e no qual não haverá futuras ações – por exemplo, você está contra apenas um oponente e ele dá all-in. Escolhi começar do modelo mais simples para trabalharmos com mais facilidade os conceitos básicos. Nos próximos artigos, vou explorar a possibilidade de raise e de ações futuras.
O Basicão
Pot Odds
O termo, velho conhecido nosso, remete à porcentagem de fichas que você tem que colocar no pote para continuar na mão, em relação ao tamanho total do pote. A forma de calcular essas odds é dividindo o quanto você tem que pagar pelo valor total do pote. (valor do call/valor do pote)
Exemplo I: Pote com 900 fichas, adversário vai all-in com 700 fichas restantes. Isso significa que temos que pagar mais 700 para continuar na mão. Logo, estamos colocando 700 em um pote que terá 900 + 700 + 700. Assim, nossas pot odds são de 700/2300 = 0,3043 ou 30,43%.
Exemplo II: Pote com 2.000 fichas, adversário vai all-in com 700 fichas restantes. Precisamos pagar 700 continuar. Logo, temos 700 / (2000 + 700 + 700) = 0,2058 ou 20,58%.
Equidade
Remete à porcentagem das vezes que vamos ganhar o pote, levando em conta nossas cartas. Perceba que esse conceito é um pouco subjetivo, um cálculo estimado, já que não sabemos as cartas dos adversários. Meu artigo da edição anterior fala sobre range de mãos do oponente, e é um guia inicial sobre como colocar nosso adversário em uma mão para, a partir daí, calcularmos nossa equidade.
Exemplo I: Todos com 100 big blinds, exceto um short stack, que tem 10. A mesa roda em fold até nós, que damos raise do button com AJs. O small blind também desiste e o short stack vai all-in. Já o vimos fazer isso antes com certa frequência, e também já vimos alguns showdowns em que ele mostrava um range fraco como pares baixos, ou qualquer ás. Assim, nosso AJ do mesmo naipe está à frente desse range. Em outras palavras, ganharemos o pote uma porcentagem maior de vezes e temos, portanto, uma equidade superior a 50%.
Para facilitar um pouco nossa vida na hora de estimar a equidade, o famoso jogador Phil Gordon difundiu a chamada “Regra do 2 – 4”. O macete funciona quando resta apenas uma carta por vir: basta multiplicar nossos outs (aquelas cartas que nos fazem ganhar a mão) por 2, e somar mais 2 ao resultado. Logo a seguir veremos um exemplo prático dessa regra.
Tudo Junto e Misturado
O primeiro conceito (pot odds) define a porcentagem de fichas que colocaremos no pote. O segundo (equidade), a porcentagem das vezes que vamos ganhar o pote. Agora pare e pense um pouco: Que cenário matemático precisamos ter para fazer uma jogada lucrativa?
Se você pensou que a equidade deve ser maior que as pot odds, parabéns! É isso mesmo!
Para fazermos jogadas lucrativas e ganharmos dinheiro no longo prazo, devemos ganhar a mão uma porcentagem das vezes maior que a porcentagem das fichas totais que colocamos no pote. Bingo!
Para ficar ainda mais claro, vamos a um exemplo: Todos com 100 big blinds. O UTG da raise de 4 big blinds, dois jogadores pagam. Nós também pagamos, do button, com 9-9. O flop vem 9-5-2 com duas de copas, e o pote tem 16 blinds. O UTG continua tomando a ação na mão e aposta 12 big blinds, os outros dois jogadores também pagam. Nós disparamos um raise de 48 big blinds. Dois oponentes dão call e o turn, com 160 blinds no pote, traz um 8♥ e completa a possibilidade de flush. Pela minha experiência, nessa situação, quase 100% das vezes alguém tem o flush. Dos dois jogadores que sobraram, um vai all-in com seus 48 blinds restantes e o outro paga. A partir dessa ação eu concluo, com mais certeza ainda, que pelo menos um deles tem um flush. Para decidirmos entre dar call ou não, vamos recorrer à matemática:
• O pote já tem 160 + 48 + 48 = 256 blinds. Assim, nossas pot odds são de 48 / (256 + 48) = 15.79%
• Com auxílio da “Regra do 2 – 4”, podemos estimar nossa equidade. Nossos outs são: acertar um Full House (com três 5, três 2 e três 8) ou um Four (com um 9). Assim, temos 10 outs, totalizando uma equidade de aproximadamente (10 x 2) + 2 = 22%. Porém, pode ser que aconteça de acertarmos um full house, mas perdermos para um four (é raríssimo, mas é possível), reduzindo nossa equidade em um ou dois pontos percentuais, para cerca de 20% ou 21%.
No Fim das Contas
Analisando nossas pot odds e nossa equidade, o correto seria dar call. Pois vamos investir apenas 48 blinds para ganhar 304 blinds. Considerando que ganharemos 20.5% das vezes, isso nos renderá, no longo prazo, pouco mais 62 blinds por pote jogado.
Espero que vocês tenham gostado deste artigo. Críticas e sugestões são bem vindas e podem ser enviadas para o email contato@cardplayerbrasil.com, que o pessoal da revista redirecionará para mim. Até a próxima! ♠