EDIÇÃO 87 » COLUNA NACIONAL

A importância das anotações na hora de blefar


Ramon Sfalsin
Hoje, falarei sobre conceitos práticos, no pós-flop, de como as anotações são importantes na hora de definir a melhor linha estratégica para blefar.

Para entender as linhas técnicas é de suma importância entender novamente o conceito de “valor”. Muitos jogadores cometem o erro de apostar só porque acham que estão ganhando a mão, porém, apostar representa força e pode fazer o oponente desistir de todas as mãos fracas que estávamos ganhando. Claramente, não é isso que queremos. Um dos nossos objetivos é sempre manter as mãos piores do oponente no pote, pois são delas que tentaremos ganhar mais fichas. Portanto, “apostar por valor” é quando no range de call do oponente estão mais mãos que estamos ganhando do que perdendo.

Agora vamos falar de três linhas mais comuns quando o jogador é o agressor pré-flop:

BET/BET/BET

Essa sem dúvidas é a linha padrão mais forte no poker. O jogador que aposta no flop, turn e no river, provavelmente, tem uma combinação muito forte ou simplesmente está blefando, pois mãos de valor médio tendem a jogar passivamente, controlando o pote, em alguma das rodadas. 

É muito incomum um jogador apostar no flop, turn e no river com A-3 no board A-J-2-8-7, sendo bem nítido que o kicker é muito fraco e as chances do oponente ter uma mão melhor são enormes (top pair, dois pares e trincas). A tendência é que o jogador passe a vez no flop ou turn para controlar o tamanho do pote, mostrar fraqueza e manter as mãos piores do oponente em jogo, como J-X e pares médios, para tentar extrair fichas dessas mãos no river. Se o jogador apostar no flop e no turn, a tendência é pedir mesa quase 100% das vezes no river, por causa do kicker. 

Portanto, fica bem nítido que essa linha geralmente é uma combinação forte ou um blefe tentando representar força.



BET/CHECK/BET 

É bem simples entender o porquê essa linha geralmente é valor. Se o jogador apostou no flop com nada e quisesse insistir no blefe, ele apostaria novamente no turn, pois não faz muito sentido passar a vez no turn, mostrar uma certa “fraqueza” e apostar no river blefando. 

Por exemplo: damos raise pré-flop, apostamos no flop A 5 2 e o adversário paga. As mãos mais prováveis que o adversário pode ter nessa situação são A-X, pares médios e trincas. O turn é um 7, ambos passamos a vez e o river é um 3. Quais as chances do adversário desistir para uma aposta com qualquer uma das mãos que definimos para ele no flop depois que mostramos uma “passividade/fraqueza” no turn? Se quiséssemos blefar, representando um top pair, dois pares ou trinca, não seria melhor apostar novamente no turn? Portanto, fica evidente que esta linha na grande maioria das vezes é uma mão de valor.

CHECK/BET/BET 

Um bom jogador de poker não vai apostar somente quando tem uma boa mão, pois ele sabe que em muitas situações uma aposta pode representar força, espantar quase todas as mãos do oponente e consequentemente ganhar o pote.

Depois de ser o agressor pré-flop, o jogador inteligente raramente vai passar a vez no flop com a intenção de tentar blefar no turn ou no river contra um jogador fraco ou desconhecido, pois passar a vez mostra fraqueza para este tipo de adversário e aumentam as chances do blefe não funcionar.

Há muitas flops que não acertam a maioria das mãos do oponente. Por exemplo, demos um raise no meio da mesa, o adversário no big blind paga. O range padrão de call do oponente aqui é algo como 22-TT, AT+, KQ, KJ, QJs, JTs, T9s, 98s, 87s. O flop é A-7-3 rainbow (três naipes diferentes), o adversário passa a vez e nós apostamos. Percebam que, independente do que temos, apostar coloca o oponente em uma situação complicadíssima se ele não tiver pelo menos um par de Setes, e na maioria das vezes ele não terá, portanto. Mesmo que não tenhamos acertado, apostar para blefar aqui é muito lucrativo. O jogador que foi o agressor pré-flop e não aposta nesse excelente flop para blefar, obviamente terá uma mão média ou monstra tentando confundir o oponente, mostrando “fraqueza”, para tentar extrair mais fichas no turn e no river.

Apesar de incomum, há jogadores fracos que dão raise pré-flop e desistem da mão no flop quando não acertam nada, mas depois que o oponente passa a vez novamente no turn, tentam roubar o pote desesperadamente.



Agora vamos para o exemplo mais comum que ocorrerá centenas ou milhares de vezes na vida de vocês.

Nesse exemplo, os blinds são 75-150, optamos por aumentar para 350. Somente o jogador no big blind paga.

Pergunta: Qual a melhor linha para blefar nesta situação? A resposta é: depende.

“Poxa, Ramon! Mas sempre ‘depende’?”

Sim. Os três principais pontos para determinar qual linha adotar são:

— Padrões de valor do oponente.
— Seus padrões de valor na visão do oponente.
— Metagame.

Enfrentando um jogador que não tem muitas tendências de fazer jogadas mirabolantes ou entrar em guerra psicológicas complexas, optar pela linha que o oponente faria com a maioria das mãos de valor no seu lugar será a melhor escolha. Se você viu seu oponente optar pela linha bet/check/bet com Q-J em um bordo J-8-2-8-3, a melhor opção para blefar será obviamente a mesma linha. 

Se você viu seu oponente optar por check/bet/bet com A-T no bordo A-6-6-J-5, provavelmente este jogador tem tendências da linha check/bet/bet e talvez essa linha mostre mais força contra ele do que apostar no flop e turn, pois você representa uma força muito extrema, polarizando entre mãos monstros (A-K, A-6, A-3, 6-6 e 3-3) e blefes. Sendo assim, o vilão pode cogitar muito mais blefes no seu range do que eventualmente uma mão fortíssima.

E depois de todas essas análises, ainda há a possibilidade do oponente estar em uma guerra psicológica tentando te confundir de alguma forma, seja fazendo o inverso ou até mesmo a jogada padrão. Cabe a você, em cada situação especificamente, fazer a leitura e determinar em qual linha psicológica o oponente está.


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