EDIÇÃO 86 » MISCELÂNEA

Card Drops: Comporte-se!


Khatlen Mitzi Guse
Qualquer atividade social tem suas características próprias, mas todas são cerceadas pelo bom senso, gentileza e cordialidade. E assim surgem padrões de comportamento aceitos pela sociedade, as chamadas etiquetas sociais ou regras de convívio, em que o direito de um termina quando começa o direito do outro. No poker não é diferente. 
 
Por ser um esporte que reúne centenas de pessoas, cada uma com características únicas, dentro de um mesmo ambiente, são necessárias também algumas regras de etiqueta social, muitas vezes não adotadas por relaxamento ou falta de equilíbrio emocional de alguns, por alguma bad beat, ego ou impaciência.
 
No Card Drops desta edição, conversei com Bruno Kawauti, Ivan Santana e Larissa Metran, profissionais acostumados a disputar longos torneios ao vivo e em vários lugares do mundo, e perguntei a eles quais atitudes consideram exemplares ou condenáveis numa disputa, os cuidados que devemos ter para não fazermos feio nos torneios ao vivo.
 
Bruno Kawauti
 
(positivo)
 
O que sempre me alegra ao ver em uma mesa de poker é quando um jogador aceita uma bad beat de uma forma amena e, se possível, sorrindo (risos). No poker, vamos jogar milhões de mãos durante a vida — e não se pode ganhar todas. Quando perdemos por bad beat, temos que entender que, no longo prazo, são essas jogadas que farão parte da composição do nosso lucro. Alguém que encara assim as bad beats está um passo à frente dos demais psicologicamente.
 
Outra coisa que me marca muito, e eu tento fazer durante todos os torneios, é melhorar a postura na mesa. Não se deixar “derreter” na cadeira, nem deixar a cabeça baixa, porque isso manda uma mensagem para seus adversários: que você está cansado ou não está pronto pra batalha. 
Gosto também de tentar prestar atenção em todos os detalhes possíveis durante as mãos, manter contato visual sempre e tentar não ficar usando o celular. Às vezes fico muito no celular, mas tento corrigir isso a cada torneio que jogo. Em relação a isso, quem mais me marcou foi o Stephen "stevie444" Chidwick. Ele sempre está atento a tudo que acontece durante todas mãos jogadas. 
 
(negativo)
 
Uma das coisas que não gosto é que comentem a jogada de alguém. Caso ele tenha feito uma jogada ruim, você quer que ele continue fazendo isso, certo? Por acaso, em um combate do UFC, o Jon Jones vai falar: “Ei, Gustafsson. Levanta a guarda. Se ficar assim, vou conseguir acertar o seu queixo”. E segundo porque é deselegante. Cada um está jogando seu torneio e tem o direito de fazer o que quiser com suas fichas.
 
Outra atitude que não aprovo é pedir tempo para um jogador que está pensando. Existe a necessidade em alguns casos, mas vejo muitas vezes alguém utilizar desse artifício em situações que o torneio de alguém está em risco, em decisões realmente difíceis. Sem falar que, muitas vezes, o jogador que pede tempo nem participando da mão está. 
 
Bom, eu tento ser um jogador tranquilo na mesa. Mesmo focado, tento deixar as pessoas à vontade e acredito que isso seja uma parte essencial do poker.
 
Ivan “RoyalSalute” Santana
 
(positivo)
 
O principal em uma boa conduta no jogo ao vivo é não criticar a jogada dos outros jogadores da mesa. Parece simples, mas o que tem de amadores e profissionais criticando outro jogador porque perdeu uma mão em que ele jogou mal não existe. Infelizmente, como o poker mexe bastante com o ego, muitos jogadores sentem a necessidade de mostrar que sabem mais que o outro e acabam sendo mal-educados na mesa, mas ninguém é obrigado a jogar o jogo 100% de forma correta e todos nós cometemos erros. Fora isso, se o seu oponente está jogando mal, você deveria torcer para ele continuar a jogar assim e não reclamar e apontar os erros. 
 
Eu, particularmente, gosto de jogar em mesas mais descontraídas também — nada contra os jogadores sérios, que são verdadeiros “túmulos” na mesa. Mas quando jogamos ao vivo, ficamos horas na mesa, e um ambiente mais descontraído deixa o jogo menos cansativo. No entanto, há alguns cuidados que devemos tomar. Por exemplo, se algum jogador se envolve na mão é recomendado parar o assunto e esperar que a mão termine. Deixe-o focar no jogo, já que ele pode ter que tomar alguma decisão importante. Se o jogador também não está muito para papo, devemos respeitar.
 
Outra boa maneira nas mesas é sempre tratar bem os dealers, mesmo quando eles erram. Se já é cansativo para os jogadores, imaginem para eles, que devem estar atento a todo segundo e em todas as mãos. Às vezes, errar acontece e devemos ter paciência. É muito feio o jogador que grita ou xinga os dealers.
 
(negativo)
Uma coisa que me irrita muito no jogo ao vivo são os jogadores que colocam o protetor nas cartas e só vão ver as cartas, lentamente, na vez deles, e sempre levando alguns segundos sempre para tomar a decisão. Independente se estão com um 7-4o, eles sempre fazem um teatro. Eu sei que alguns livros dizem para fazer isso, com o intuito de evitar passar tells, antes de a ação chegar até você, mas isso é pura baboseira. Além de ser raro alguém pegar esse tipo de tell, isso só atrasa o jogo. Ver as cartas e não mostrar euforia ou desinteresse não é uma tarefa de outro mundo. No poker ao vivo, o jogo já é lento e jogamos poucas mãos por hora, quando há na mesa três ou quatro jogadores que ficam esperando a ação chegar até eles para lentamente desistir ou aumentar com mãos triviais o jogo fica ainda mais devagar.
 
Larissa Metran
 
(positivo)
Acho que tudo já vem de princípios básicos que cada um carrega dentro de si. Tem gente muito educada, assim como tem gente muito inconveniente. É precisa ter bom senso sempre.
 
Há jogadas em que é nítido o desconhecimento da regra — o que acontece muito com iniciantes ou senhores mais velhos. Por exemplo, situações como quando o jogador deixa a carta atrás das fichas, o que seria uma ação de all-in. É uma coisa clara para um jogador experiente, mas não para alguém que não está acostumado com torneios bem estruturados. Então, eu acho legal que se releve de vez em quando. Não dá para ficar chamando o floor toda hora.
 
Além disso, podemos ser gentis ajudando os dealers. Não é trabalho nenhum para o jogador colocar as fichas referentes aos blinds e aos antes mais à frente, de modo que facilite o recolhimento dos mesmos. Não é nada fácil ficar 10, 11, 12 horas sentado em uma cadeira e tendo que se esticar a cada cinco segundos para recolher fichas e cartas. 
 
(negativo)
Aqui eu tenho muito pra falar (risos). A pior delas, para mim, é quando um jogador, principalmente se tratando de jogadores experientes, fica pedindo carta em voz alta. É muito chato e muito inconveniente quando temos uma situação de all-in e call e o vilão fica pedindo a carta dele em voz alta. Por quê? É óbvio que todo mundo quer ganhar, mas não precisa ficar externando isso. 
 
Outra coisa bastante chata é quando tem uma situação de all-in e call e você está lá em um pote gigantesco, muitas vezes em coin-flip — ou até mesmo perdendo a mão —, precisando de dois ou três outs, e alguém vira para você e fala que tinha sua carta, justo a que você precisa para ganhar. Isso não vai mudar nada, deixa o cara achando que ainda tem os outs. 
 
Não só de situações específicas do jogo se tratam as situações irritantes, sempre existe umas pessoas sem noção. Parece que se esquecem de que vivem em sociedade. Já sentei no LAPT ao lado de um cara que estava com um cheiro insuportável. Quando ele caiu, a mesa agradeceu. E isso é uma questão básica de higiene pessoal. Eu não tenho nada com a vida do cara, mas é questão de bom senso.
 



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