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Leonardo "Toddasso" - Campeão Brasileiro de 2012


Marcelo Souza

Quem joga poker sabe que o jogo muitas vezes é injusto. Um torneio perfeito que vai por água baixo depois que um dos três outs do adversário aparece no river. Aqueles três ou quatro flips seguidos que você perde na reta final de um major de domingo. Situações como essas são apenas dois exemplos. Geralmente, a justiça nesse esporte anda junto com o longo prazo, mas nem sempre. E foi o que aconteceu em 2012.

Nos últimos anos, a organização da Brazilian Series os Poker adotou um sistema polêmico de pontos para nomear o campeão brasileiro de poker. Em 2010 e 2011, os campeões disputaram apenas uma única grande etapa. Neste ano, o ranking premiou a regularidade e, também, um dos melhores jogadores brasileiros da atualidade: Leonardo Cavage Martins, o “Toddasso”.

O apelido, no mínimo engraçado, combina com a personalidade desse extrovertido paulistano de 29 anos e já é inerente a ele desde o seu início no poker. “Quando eu fazia cursinho, não consumia nada com álcool, e sempre chegava para as aulas tomando um Toddynho. Aí já viu, né?”, conta. E pegou. Hoje, no meio do poker, ele é o “Toddasso”, e se falarem Leonardo, por aí, é provável que a maioria não relacione o nome ao campeão brasileiro de poker.

Formado em Administração, ele trabalhou no mercado financeiro até julho deste ano, quando largou seu emprego por falta de motivação. Mas engana-se quem pensa que foi por causa do poker. “Eu saí do banco para trabalhar em um negócio que o meu pai estava abrindo, não para ser um profissional do poker. No entanto, não descarto a possibilidade para o futuro”, revela. 

Oriundo do poker live, mais precisamente das mesas de cash games, quando o assunto é estilo de jogo, seu caminho foi inverso ao da maioria dos jogadores. Os livros para iniciantes pregam a seleção de mãos e a solidez como pré-requisitos para a construção de uma base no poker. Toddasso, no entanto, não deve ter lido esses livros. Conhecido por seu estilo extremamente agressivo, ele afirma que sua característica sempre foi a de jogar muitas mãos: “Na verdade, eu testei todos os limites do jogo loose para depois começar a me ajustar”, conta. “Quando entrei em contato, principalmente, com esse pessoal de torneio, vi que eles são bem nits [jogam apenas com mãos fortes], e pude absorver muita coisa. Nesse último BSOP Milllion, por exemplo, nos quatro níveis iniciais, acho que joguei umas duas ou três mãos”, revela. Mas não se iludam. É bem provável que o Toddasso “mais comportado” só possa ser observado nos estágios iniciais de eventos deep stack. “Do mesmo jeito que eu começo bem tranquilo, na reta final, estou na outra ponta da curva. Tento colocar o máximo de pressão e jogar o maior número de mãos possível. Porque é um momento que a galera está se segurando. Na bolha, então, acho que até tenho feito algumas jogadas irresponsáveis”, finaliza com uma risada descontraída.



E o que ele diz não é mentira. Sua agressividade o colocou, em menos de um ano, em três mesas finais de BSOP, sendo uma delas na etapa do milhão de 2011. Apesar disso, ainda faltou título. Ele teria pecado em algo? Toddasso acredita que não: “Um torneio é decidido por detalhes. É preciso dar tudo certo naquela etapa, naquele exato momento”, conta. “Em Curitiba, por exemplo, foi uma das minhas melhores apresentações. Não cometi erros na mesa final. No heads up, entrei com uma vantagem de 3-para-1 em fichas, mas aí perdi duas mãos em que eu era favorito. Em BH, entrei como chip leader, só que perdi quatro races [situações em que as chances de vitórias são bem parecidas para os envolvidos nas mãos] seguidas. Então, acho que faltou um ‘ventinho’ no final. Queria ter ganhado, mas faltou aquele detalhe”.

Apesar de não se dedicar integralmente o poker, seus resultados não são por acaso, em 2011, inclusive, fez coaching com o colunista da Card Player Brasil, Felipe Mojave, mas não parou por ali. “Este ano foi, sem dúvida, o que eu mais aprendi no poker. E, embora meus principais resultados tenham sido no primeiro semestre, foi de julho para cá que consegui uma grande evolução no meu jogo, principalmente nos torneios”, conta. Regular nos rings games, ele admite que precisou de muita ajuda na transição para os torneios. “Eu estou acostumado a jogar sempre com muitas fichas, e nos momentos decisivos dos torneios, você trabalha com stacks de 20 ou 30 Big Blinds. Graças a Deus, tenho amigos que são jogadores de torneios incríveis e que estão praticamente à minha disposição 24 horas”, diz Toddasso. “Eles são os responsáveis por 90% da minha evolução como jogador”, completa.

“O imposto é um caminho que temos que percorrer para a legitimação e excelência do esporte, mas a política tributária do Brasil é abusiva”

- Leonardo Toddasso

Mesmo conseguindo chegar à casa dos seis dígitos em premiações, em um espaço de um ano, Toddasso não se ilude. Para ele, é difícil que um jogador consiga sobreviver jogando apenas torneios ao vivo. “Primeiro, apenas São Paulo possui torneios diários com premiações altas, ainda assim é difícil bater a variância”, explica. “Segundo, em torneios grandes, como a BSOP, a tributação atrapalha demais a lucratividade. O imposto é um caminho que temos que percorrer para a legitimação e excelência do esporte, mas a política tributária do Brasil é abusiva”, conclui.

Ainda assim, jogar ao vivo é um “mal necessário”, pelo menos para aqueles que querem reconhecimento. Alexandre Gomes e André Akkari são bons exemplos. Mesmo tendo grandes resultados online, seus feitos fora das telas foram decisivos para que caíssem nas graças do público. “Todo jogador quer reconhecimento, não tem como negar”, admite. “Isso abre portas. Um patrocínio, talvez, que vai proporcionar-lhe segurança financeira ou quem sabe colocar você naquele torneio dos sonhos”.

Mas apesar do glamour e da visibilidade que os jogos ao vivo trazem, Toddasso sabe que para ser levado ao seu limite é preciso encarar os tubarões da internet. Neste ano, ele entrou para o time de torneios de dois dos principais jogadores do Brasil: Fábio Eiji e Cássio “cassiopak” Kiles. “Hoje, jogo quatro ou cinco dias na semana, online, começo às 13 horas e não tenho hora para parar. E isso me fez diminuir um pouco minha rotina ao vivo”, conta.  “Para mim, isso está servindo para pegar experiência em torneios – de jogo, estrutura e até para aprender a fazer acordos nas retas finais”.

Jogar em alto nível, tanto na internet quanto ao vivo, serviu também para enxergar além da parte técnica do poker. Com propriedade, ele explica porque alguns jogadores do online não conseguem ou demoram a conseguir encaixar o jogo nas mesas ao vivo. “O nível de agressividade do live, principalmente pré-flop, é muito diferente o online. As pessoas preferem o call à 3-bet ou ao raise. Ao vivo, jogaremos muitas vezes contra mais de um oponente. Então, é preciso ajustar-se”, explica. “Outro fator importante são as tells. Eu tomo várias decisões observando o comportamento do meu adversário durante a mão. Os caras do online, muitas vezes, não controlam a linguagem corporal, simplesmente, porque não precisam fazer isso em frente ao computador”. 

Para o ano que vem, graças ao título, Toddasso já garantiu o buy-in para todas as etapas, além de um carro 0 km no valor de R$ 50.000. Ele já prometeu que vai brigar pelo bi e também elegeu um dos seus mais fortes concorrentes: “Um cara que é complicado jogar contra ele é o ‘Guilis’ [Guilherme Garcia, quinto colocado no ranking]. Ele é um dos melhores jogadores do Brasil”, diz. “Já vi ele destruindo em retas finais. Foi um cara que deu bastante trabalho durante o ano e que tomou meu bracelete em Curitiba e foi correr atrás do meu título brasileiro até os dois últimos eventos do BSOP Million. Ainda bem que consegui escapar (risos)”.

Além do BSOP, a agenda de Toddasso, para 2013, incluem os LAPTs e, novamente, o Main Event da WSOP. Entre os objetivos, conseguir finalmente um título de uma etapa do brasileiro. Com o que ele já apresentou neste ano, alguém ousaria duvidar? 



O Caminho do Título Brasileiro de Leonardo "Toddasso"

1ª ETAPA (SÃO PAULO)
25º Colocado no Evento Principal – 140 pontos

2ª ETAPA (RIO DE JANEIRO)
Não participou

3º ETAPA (CURITIBA)
2º Colocado no Evento Principal – 850 pontos
4º no Pot Limit Omaha – 480 pontos

4ª ETAPA (BELO HORIZONTE)
6º Colocado no Evento Principal – 480 pontos

5ª ETAPA (SÃO PAULO)
5º Colocado no High Roller – 260 pontos

6ª ETAPA (FORTALEZA)
1º Colocado no Super Turbo – 420 pontos

7ª ETAPA (BALNEÁRIO CAMBORIÚ)
Não pontuou

BSOP MILLION (SÃO PAULO)
Não pontuou





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