EDIÇÃO 65 » COLUNA NACIONAL

Entre Ases e Damas

Mão complicada que pode ser jogada de várias maneiras


Felipe Mojave

Nesta edição, vou tratar de um assunto que parece simples, mas, no fim das contas, sempre tira o sono de muitos jogadores em torneios. Trata-se de uma mão complicada, pois pode ser jogada de várias maneiras – e é isso que acaba iludindo muitos.

A mão em questão aconteceu com o meu amigo Ruly Vieira, no Dia 2 do BSOP Million.

Os blinds estão em 1.000/2.000 com antes de 200. O vilão tem 90.000 fichas e abre raise do UTG para 4.800. A mesa roda em fold, e nós temos A-Q, no button, e um stack de 41.000. O que fazer?

Bom, antes de pensar na ação, é preciso buscar mais informações. Se o poker fosse um jogo tão simples, uma jogada padronizada serviria como resposta para quase todas as situações.

O primeiro ponto aqui é: se deu certo uma vez, não quer dizer que funcionará sempre. O poker é um jogo sem padrões, com muitas variáveis. Portanto, neste caso, ir all-in com nossos 20 BBs (a média deveria estar na casa dos 35 BBs) seria a resposta padrão da maioria, mas a solução não está aí.

Você mudaria sua decisão se soubesse que o UTG é um jogador tight, cujo range é bem curto? E se eu dissesse que o vilão é muito loose? Ainda assim você manteria o seu raciocínio?



Para ambos os casos apresentados, o all-in nunca será a melhor opção. No primeiro, você só será pago por um range que está à frente da sua mão (AQ+, TT+). No segundo, a gama de mãos que seu oponente abre raise é tão grande que seria bem difícil ele dar call.

Nessa situação, um jogador muito agressivo é capaz de ir all-in com A-Q e achar um alguém para pagá-lo com A-J. Mas lembre-se: seu oponente precisa estar atento à sua imagem para que a efetividade da jogada seja grande. A sua imagem diz muito. Então, use-a.

Se você está pensando em apenas roubar o pote, apostar tudo é um erro. Caso não encontre um monstro pela frente e quebre, você estará perdendo valor com uma excelente mão, se todos os oponentes desistirem. Sendo assim, resta o jogo pós-flop, que premia os melhores jogadores em longo prazo – e aliado ao fator posição, essa se torna a melhor opção.

Em geral, o all-in será a melhor jogada contra um jogador loose que está disposto a pagar a sua volta com mãos piores. Por exemplo, um vilão com muitas fichas que abre o pote segurando K–Q e não daria fold para um all-in de 20 BBs.

Se a situação for diferente do descrito acima, com certeza, é melhor dar o call em posição e ficar com 17,5 BBs, para o jogo pós-flop, frente a um pote com 6,5 BBs. O flop trará mais informações sobre a jogada, deixando-o mais confortável para continuar, desistir ou blefar.

Outra questão importante é que o call abre a possibilidade de maximizar os ganhos se houver algum jogador muito agressivo para agir à sua esquerda. Como o pote já está muito atrativo, ele pode tentar roubá-lo, e é aí que o seu A–Q torna-se uma mão de grande valor e máxima lucratividade. O fold, aqui, estará fora de cogitação, com raras exceções.



Quando você tem um stack apertado para torneios ao vivo, fica muito difícil gerenciar 3-bets com sucesso. Geralmente, essa jogada demonstrará muita força e fará seus oponentes desistirem com frequência. Mas, veja bem, toda vez que você fizer uma 3-bet e receber um all-in como resposta, as chances de estar perdendo são grandes, mas será obrigado a dar o call devido às odds do pote – já que investiu praticamente de 25% a 40% de suas fichas na jogada.

Quanto mais técnica for a sua análise e mais variáveis ela envolver, mais chances de sucesso na sua decisão você terá. A precisão em destrinchar as informações também é muito importante, inclusive em momentos complicados, como no Dia 2 de um torneio em que o vilão é um jogador que acaba de ser movido para a sua mesa.

Acreditar que existe sempre a jogada correta para cada situação é um erro que lhe tornará um jogador de torneios perdedor em longo prazo. Espero que depois deste artigo o raciocínio de vocês esteja mais aberto para futuras análises.





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