Realizar em um espaço de uma semana, sem interrupções, dois eventos do porte do Latin American Poker Tour e do Brasil Poker Tour já daria muito que falar. O que dizer então se a semana escolhida fosse a de carnaval? Bem, o PokerStars resolveu arriscar. E o resultado vocês conferem agora.
PARTE I: Latin American Poker Tour
“Estou no Brasil?” – caso você tivesse caído de paraquedas, no dia 17 de fevereiro, no meio do salão do WTC Sheraton em São Paulo, essa pergunta não seria nenhum absurdo.
Espalhados nas mais de 30 mesas, jogadores de todos os cantos do mundo tomaram conta da etapa de encerramento da 4ª Temporada do LAPT. Europeus, latinos, asiáticos e norte-americanos superavam o número de brasileiros no salão.
O primeiro nível de blinds já havia terminado e, por todos os lados, podia-se observar uma legião de profissionais do PokerStars: a bela Fátima Moreira de Melo, o simpático belga Matthias de Meulder, o frio ucraniano Eugene Katchalov, dentre outros tantos. No entanto, os curiosos de plantão tinham a atenção voltada para mesa da TV.
A maior estrela do PokerStars tinha acabado de chegar: o canadense Daniel Negreanu. Ao sentar-se à mesa, ele já mostrou que não tinha vindo ao Brasil apenas a passeio. Em questão de minutos, Negreanu mandou dois adversários para a casa e assumiu a liderança do torneio. Um prato cheio para todos os amantes do poker.
Assim como o astro do PS, o mineiro Caio Pimenta vinha construindo um stack monstruoso. Após o estouro da bolha – um blefe gigante de Felipe Mojave que não passou –, Caio e Negreanu continuavam entre os líderes.
Mas as coisas não foram bem para os brasileiros. Um a um todos foram caindo, e quando o próprio Caio caiu na 12ª posição (R$ 19.100), restava a Vitor Torres, o Vitão, tentar não deixar o caneco levantar voo para terras estrangeira. Tarefa nada fácil, sendo ele o short-stacked da mesa final.
MESA FINAL
Vitor Torres e Daniel Negreanu. Esses eram os favoritos da torcida que acompanhavam o torneio pela Tv Poker Pro. Infelizmente, os dois tiveram vida curta na FT. Com poucas fichas, Vitão acabou deixando o torneio na sétima posição ao trombar contra um par de reis do chileno Felipe Morbiducci. Os mesmos King Kongs viriam a eliminar Negreanu. Carlos Ibarra, também chileno, foi o carrasco dessa vez.
Com apenas cinco jogadores na mesa, o alemão Daniele Nestola soube impor seu jogo. Com uma sólida liderança desde o início da mesa final, ele chegou ao heads up com uma boa vantagem e não demorou a derrotar o venezuelano Gasperino Nicolás. Restava aos brasileiros tentar buscar a redenção no BPT...
1º Daniele Nestola (Alemanha) – R$ 324.600
2º Gasperino Nicolás (Venezuela) – R$ 214.700
3º Carlos Ibarra (Chile) – R$ 148.840
4º Felipe Morbiducci (Chile) – R$ 89.570
5º Jonathan Markovits (Equador) – R$ 64.540
6º Daniel Negreanu (Canadá) R$ 48.730
7º Vitor Torre (Brasil) R$ 35.560
8ºJuan Gonzalez (Argentina) – R$ 26.340
Ficha Técnica
4ª Temporada do Latin American Poker Tour – Grand Final
Data: 17 a 20 de fevereiro
Local: WTC Sheraton (São Paulo – SP)
Buy-in: R$ 4.000
Field: 367 jogadores
Prize Pool: R$ 1.357.900
ENTREVISTA COM DANIEL NEGREANU
No Brasil, ainda existem pessoas que pensam mal sobre o poker. O que você diria para elas?
Primeiro, elas têm que entender que poker é diferente de quaisquer outros jogos de apostas, como os de cassino, por exemplo. Não é como roleta ou caça-níqueis. Nesses jogos, você joga contra a casa e, é claro, que você não vai ganhar. E isso realmente é frustrante. O poker é um jogo de habilidade. Se eu jogar contra você e não estiver com a mente mais preparada, eu perderei. Poker é um jogo limpo. Honesto. No longo prazo, os melhores sempre levarão a melhor.
As pessoas não esperavam que você fosse jogar seriamente um torneio no Brasil. Diziam que você viria mais pela diversão. Mas, mostrando um poker de altíssimo nível, você terminou na sexta colocação. Fale um pouco sobre isso.
Realmente, eu queria me divertir por aqui – no carnaval, principalmente. Mas, ao mesmo tempo, não queria desapontar ninguém caindo no primeiro nível de blinds. Eu sei que muitos fãs vieram aqui para me ver jogando sério e, quem sabe, vencer. Então, fiz o melhor que eu podia. Dei o máximo. Não pelo dinheiro, porque isso não é sobre dinheiro, mas porque, simplesmente, não queria desapontar ninguém.
Pergunta do leitor Rafael Giordani de Minas Gerais: Você é uma espécie de “raio X humano” que consegue muitas informações ao conversar com o adversário. O que você pensa sobre essa nova regra de ter que ficar calado durante a mão?
Eu vou ser bem honesto quanto a isso. Uma boa parte do poker diz respeito à interação. Você pergunta para alguém, “você está blefando?”, e vê como ele reage. Isso é parte do jogo. Sempre foi. Essa regra é estúpida. Se eu te faço uma pergunta, você não é obrigado a responder. Pode apenas ficar calado. Então, desde que não seja ofensivo com os outros na mesa, você deveria poder fazer o que quiser.
Quais suas impressões sobre o LAPT? E sobre o Brasil?
Eu diria que o torneio foi sensacional. David Carrión (presidente do LAPT) é um cara sensacional e esperto. Eu gostei da estrutura, de tudo.
Minha experiência no Brasil foi muito boa e eu espero retornar. O carnaval é realmente fantástico. Você vê a paixão no rosto das pessoas. Mais de 60.000 delas festejando em um mesmo lugar. Incrível!
Algumas palavras sobre André Akkari.
Ele foi um dos que me convenceram a vir. Ele já vinha me dizendo que eu tinha que conhecer o Brasil. Eu respeito muito o André. É um bom embaixador para o Brasil e o para o mundo. Um cara muito simpático e, sem dúvidas, um grande jogador. É um jogador completo. Então, é fácil entender o porquê de ele ser tão popular aqui.
Você é considerado o embaixador do poker mundial. Quais responsabilidades vêm com isso?
Acredito que a principal responsabilidade é ser honesto. Não ter a vergonha de dizer a verdade. Se algo estiver errado, eu definitivamente direi alguma coisa, mesmo se for contra o PokerStars. Não importa se for eu contra o resto do mundo, desde que eu sinta que o que eu estou fazendo seja certo. Se você procurar, verá que eu nunca me omiti perante polêmicas. As pessoas costumam até dizer, “opa, se o Daniel falou sobre isso, é porque tem coisa errada aí”. Isso é ser um embaixador. Não ficar sentado e observando. Veja esse caso com o Full Tilt. Alguém precisa dizer algo. É uma vergonha para o poker. Eles precisam fazer um tipo de declaração ou algo do tipo. Dar uma satisfação aos jogadores. Mesmo tendo amigos lá, eu jamais ficaria calado diante isso. Se algo não estiver correto, definitivamente, eu direi alguma coisa.
Pergunta do leitor João Couto de Minas Gerais: Você é também famoso por jogar nas mesas de cash-game mais caras do mundo. Por que ainda não vimos o Negreanu junto com Tom Dwan, Phil Ivey e Gus Hansem em Macau, onde rolam os jogos mais insanos?
Sempre me perguntam isso. Mas eu nunca irei jogar em Macau – pelo menos não enquanto houver cigarro por lá. Meu Deus, eu não suporto a fumaça.
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