Análise de mãos é a base para a evolução do nosso jogo. Quando analisamos uma mão podemos encontrar erros na nossa estratégia e corrigi-los. O ideal é buscarmos mãos chaves que ocorreram durante a sessão ou simplesmente rever as que perdemos mais dinheiro.
Antes de tudo, para quem joga poker online, é interessante a utilização de softwares como o Hold’em Manager ou Poker Tracker. Ambos possuem todas as ferramentas necessárias para que possamos analisar todos os detalhes de nossas mãos. Além disso, podemos utilizá-los para outros fins. Eu, por exemplo, gosto de rever algumas mãos com a intenção de fazer anotações sobre meus adversários – fator muito importante quando partimos para uma análise.
Nesta coluna, vamos destrinchar uma mão jogada por mim em uma das minhas sessões.
PRÉ-FLOP: Estamos em uma mesa com seis jogadores. Todos possuem stacks com 100 big blinds (BBs).
AÇÃO: Eu sou o primeiro a falar e dou um raise de três vezes o big blind, com 4-4. O jogador no botão e o small blind pagam.
ANÁLISE: Esse meu aumento pré-flop é padrão. Sendo o primeiro falar, em uma mesa com seis jogadores, eu jogarei mais tight. Minhas gama de mãos para aumentar é composta pelas cartas destacadas abaixo:
FLOP: O pote tem agora 10 BBs, e o bordo é 8♠ 4♣ 3♠.
AÇÃO: O small blind pede mesa e eu aposto 7 BBs. O botão desiste, e o small blind paga.
ANÁLISE: A minha aposta no flop parece uma aposta padrão, mas não é. Hoje, nos cash games high stakes, os jogadores costumam se defender bastante depois de pedirem mesa. Assim, um outra alternativa seria eu pedir mesa com a intenção de mostrar para os meus adversários que eu também peço mesa com mãos fortes.
O senso comum nos diz que uma pessoa não tem uma mão forte quando ela aumenta pré-
flop e depois pede mesa no flop. Assim, deveríamos sempre atacá-la no turn, já que sua gama
de mãos é, teoricamente, fraca. Portanto, pagar a aposta do adversário, depois de pedirmos mesa, fará com que nossos oponentes nos agridam menos – pois já mandamos o recado: “ei, também peço mesa com monstros” – mesmo que em 75% das vezes tenhamos uma mão fraca.
Mas voltemos à mão. Nesse flop, eu pediria mesa com 8-8, e apostaria com 4-4 e 3-3. Eu prefiro ser agressivo com as trincas que não são formados pela carta mais alta, pois os adversários têm mais chances de terem acertado um top pair quando eu tenho 4-4 ou 3-3 do que quando eu tenho 8-8.
TURN: O pote tem 24 BBs, e carta virada é um 9♥.
AÇÃO: Eu aposto 17 BBs. O small blind paga.
ANÁLISE: Grande parte da gama do meu adversário é: pares, como 9-9, 10-10 e J-J, e flush draws. Eu não acredito que ele tenha 3-3 ou 8-8. Conhecendo seu histórico, sei que ele não é capaz de fazer armadilhas, e o normal seria que ele reaumentasse se tivesse acertado uma trinca no flop.
Ao apenas dar call, ele me mostra que seu range é fraco. Nesse turn, com vários draws para flush e para sequência, fora de posição e com o pote já inflado, é raro que um jogador apenas pague a aposta tendo uma mão decente.
Então, podemos restringir sua gama em pares, 10-10 e J-J, e alguns draws.
RIVER: A última carta é um 3♥. O pote tem 58 BBs, e cada um de nós tem 73 BBs restantes.
AÇÃO: O small blind pede mesa, e eu empurro all-in.
ANÁLISE: Mas por que all-in, se a gama de mãos do nosso adversário – composta por draws perdidos e pares que só ganhariam o pote contra blefes – é fraca?
Muitas pessoas ficam tentadas a fazer uma aposta pequena no river, na esperança de serem pagos pela parte da gama do adversário que é composta por pares. Eu não acredito que seja uma boa linha. O melhor é colocar nosso adversário em uma situação difícil, e ainda potencializar nosso ganho matemático.
Lembrem-se:
– Geralmente, é mais lucrativo ganhar muito algumas vezes do que pouco várias vezes;
– Devemos sempre deixar nossos adversários com decisões difíceis a tomar. Se eu apostasse metade do pote, seria fácil para ele pagar com alguns pares;
- É preciso lembrar que, tendo uma gama de mãos balanceada, em situações semelhantes, eu estarei com um draw perdido em vez de um full house. E esse é outro motivo para deixarmos nosso oponente em uma situação desconfortável com suas mãos mais fracas;
– Em home games, apostas pequenas, no river, com mãos muito fortes podem ser muito efetivas, mas, definitivamente, contra adversários experientes, essa seria uma estratégia explorável.
Viram? Analisando apenas uma mão, exploramos diversos conceitos do poker. Aprendemos mais sobre gama de mãos, textura de bordos e a extrair o máximo de valor do adversário. Seja sozinho ou discutindo com amigos, analisar a fundo cada uma de suas jogadas trará benefícios imensuráveis para seu jogo. ♠