O final do verão em Las Vegas pode se tornar insuportavelmente quente, então eu decidi fazer uma viagem em direção ao norte para visitar meu amigo canadense Grant, em Waterloo, Ontário, para jogar um pouco de golfe em um clima ameno e conferir algumas partidas de poker no Brantford, um cassino administrado pelo governo, nos arredores de Toronto, que tem uma sala de poker. Todas as terças-feiras, eles jogam limit hold’em de $50-$100. Nos outros dias, o limite mais alto é de $20-$40, então a partida mais cara gera muito interesse local e muita ação.
Eu gosto de competir em ambientes diferentes. Às vezes, pode ficar cansativo jogar sempre na mesma localidade. A familiaridade muitas vezes leva ao marasmo. É claro que você perde a vantagem de “jogar no seu próprio campo”, pois você conhece seus adversários e os respectivos estilos de jogos – mas jogar em outro lugar força você a se adaptar a um novo grupo de pessoas cujos estilos você não conhece. Força você a pensar conceitualmente para adaptar seu jogo ao novo ambiente, o que pode ser uma valiosa experiência de aprendizagem. Quando eu entro em uma mesa nova, gosto de sentir o que está acontecendo e conhecer os oponentes, para determinar quais são os melhores movimentos para se fazer contra eles. Quando você joga sem essa sensibilidade, seu poker fica muito limitado. Quando você é o novo competidor da mesa, também tem a oportunidade de criar a imagem que quiser, pois seus adversários não conhecem seu estilo. Eu geralmente começo bastante conservador, tentando não arriscar minhas fichas em situações marginais nas quais estarei diante de decisões em que não tenho certeza de todos os aspectos. Eu uso esse tempo para focalizar intensamente em meus oponentes, observando a seleção de mãos deles, compreendendo como eles as jogam, determinando o nível de conhecimento deles e coletando as dicas que eles dão. Eu invisto tempo e energia não apenas na observação, mas também na análise dos processos mentais de meus adversários, tentando entrar na mente deles. Quando eu consigo uma melhor percepção, abro um pouco mais meu jogo. Minhas decisões são baseadas em um alto nível de informações, o que faz com que minhas jogadas tenham mais qualidade. Eu saberei contra quem posso blefar, contra quem posso fazer apostas para valorizar meu jogo, de quem eu posso induzir blefes, quem quer ação e quem devo evitar. Com estes dados eu aumento imensamente o valor de qualquer mão que eu jogue, o que me permite ter lucro com uma enorme gama de cartas. Conceitualmente, quanto maior for sua habilidade de jogar melhor que seus oponentes, maiores são as mãos/situações que se pode jogar. Contudo, procure não levar isso ao extremo, jogando muitas mãos/situações e ficando muitas vezes com o segundo melhor jogo. Ao se sentar junto a um novo grupo, seus oponentes também estão pouco familiarizados com o seu estilo. Isso lhe dá a oportunidade de manipular o que eles pensam, de modo a criar a imagem que você considera mais lucrativa na partida. Eu acredito que seja melhor deixar seus oponentes irem em direção ao que eles naturalmente tendem a ir. Se eles cometem o erro de pagar muitas apostas, você deve fazer com que eles paguem ainda mais, enquanto você joga com um estilo mais sólido e se aproveita dos erros deles. Se seus oponentes são weak-tight, você deve induzi-los a ser cada vez mais fracos e mais tight, enquanto você os derrota, levando o pote quando eles estiverem com mãos ruins e sem deixá-los participar da ação quando estão fortes. Depois de observar durante um tempo a partida de $50-$100 que eu estava jogando, concluí que a maioria dos participantes era loose demais. Portanto, para criar uma situação em que eles entrassem na ação quando eu tivesse mãos melhores, joguei alguns draws rapidamente, “baralhando” e construindo grandes potes. Apesar de perder os draws e de, em alguns casos, até mesmo desistir da pequena margem que tinha, a imagem que criei produziu mais valor para minhas mãos futuras. Se a partida estivesse cheia de jogadores weak-tight, eu teria criado uma imagem que aparentasse que eu jogava apenas com mãos boas, o que agregaria valor aos meus blefes e semi-blefes. Para fazer isso, eu mostraria grandes mãos com as quais roubaria os blinds, falaria sobre meu suposto estilo tight e tentaria intimidar sem ofender nenhum dos jogadores. Durante meu período de observações, detectei um jogador que entrava em todos os potes. Se ele achava que uma jogada agressiva iria funcionar, ele a realizava – e acabou ganhando alguns potes assim, mas, como um todo, ele era excessivamente agressivo. Eu passei então a jogar de forma passiva contra ele, e a deixá-lo blefar para que eu só pagasse a aposta. Eu ganhei muitas extra bets desse jeito. Também dei muitos check-raises contra ele, tanto para proteger minha mão contra outros oponentes quanto para valorizar as apostas. Fiz ainda várias jogadas agressivas contra ele com draws, e até mesmo sem ter nada. Como o sujeito blefava a toda hora, era possível levar o pote quando ele não tinha nada.
Analise e ajuste seu jogo com base nos estilos e no conhecimento de seus oponentes. Ter um único estilo não compensa: é preciso ser capaz de se adequar e entender a partida, de modo a conseguir fazer esse ajuste com perfeição. E quando você estiver sentindo a melancolia do verão, cogite uma viagem ao norte da fronteira para esfriar os ânimos – lá você encontrará partidas que esquentam a alma de um jogador! ♠