EDIÇÃO 4 » COLUNA INTERNACIONAL

Jogo Monstro

Uma decisão difícil valendo muito dinheiro


Phil Hellmuth

Recentemente eu joguei uma partida de no-limit hold’em com buy-in de $50.000 em Las Vegas. Os blinds começaram em $200-$400, mas com apenas duas horas de jogo pularam para $500-$1.000. Os rebuys eram de $50.000, e tudo isso fez com que esse se tornasse o maior evento de no-limit hold’em do qual participei. Contudo, quando joguei no excelente programa High Stakes Poker (que hoje é exibido semanalmente) da GSN (Game Show Network), o buy-in era de $100.000 e os blinds de $300-$600, com ante de $100. Então os jogos são equivalentes em tamanho, a não ser pelo fato de aquele com buy-in de $50.000 não ter nenhum profissional e, portanto, ser melhor de se jogar. De qualquer modo, uma excelente mão surgiu durante a partida. Quando os blinds estavam em $500-$1.000, o Jogador A aumentou para $4.000, o Jogador B pagou do small blind, e o Jogador C também pagou, com J-10. O flop veio J104, o Jogador B pediu mesa e o Jogador C, também. O Jogador A apostou $15.000, o B pagou e o C anunciou, “Eu aumento”. Esse último colocou mais $45.000, o Jogador A desistiu e o Jogador B pagou instantaneamente, dizendo, “Eu pago”. Mas, curiosamente, não colocou nenhuma ficha no pote (tudo bem, pois declarações verbais são válidas). No turn apareceu o 9, e agora o Jogador B rapidamente falou: “Eu vou de all-in”. O Jogador C estudou por um momento — com seus dois pares altos — enquanto contava seu stack. Ele tinha mais de $150.000 em fichas restantes, e estava diante de uma difícil decisão. O que você faria com este J-10? O Jogador B poderia estar fazendo uma destas três jogadas: um slowplay com uma excelente mão (como um flush no flop), um blefe descarado, ou estar tentando acertar o straight. Se o Jogador C pagasse e estivesse por baixo, praticamente daria adeus aos seus $150.000, a não ser que conseguisse um valete ou um 10 (odds de 10-para-1) e montasse um full house. A maioria de nós desistiria dessa mão, a não ser que tivéssemos feito uma excelente leitura do oponente. Afinal, é raro que alguém blefe com essa quantidade de dinheiro, e igualmente difícil que outro jogador seja capaz de chamar essa aposta. E exatamente por isso eu dei enorme crédito ao Jogador C por efetuar esse fantástico call – tudo dependia da leitura que ele tivesse feito do Jogador B. Ele achou que o oponente estivesse blefando e teve a coragem de colocar seus $150.000 no pote. Teria sido fácil para o Jogador C desistir e continuar o resto da noite com $150.000; na verdade, ele ainda estaria ganhando $100.000. Então, foi um ótimo call. Mas ele ainda não estava a salvo, pois o Jogador B mostrou AQ. Ele tinha 15 outs: nove cartas de espadas, três reis e três oitos. O Jogador C tinha o resto do baralho, 29 cartas. Assim, esse último tinha pouco menos que 2-para-1 (29-para-15) de chance de vencer o pote de aproximadamente $450.000. Quando o 3 apareceu no river, o ótimo call do Jogador C valeu a pena. Eu devo dizer que critico o Jogador B por ter dado um blefe de $150.000. É preciso muito sangue frio para empurrar $150.000 em um blefe! No entanto, eu teria gostado mais da jogada se ele tivesse ido de all-in no flop. Se tivesse feito isso depois do raise de $45.000 do Jogador C, ficaria com quase 50% de chance de levar o pote. E, desse modo, fingiria ter feito um flush. Eu também enfrentei uma decisão interessante naquela noite. Eu tinha 5-5, no flop veio 985 e eu apostei alto, mas dois jogadores pagaram, inclusive o Jogador B. O turn foi o 4, e dessa vez o B apostou $20.000. Embora aumentar fosse a maneira mais eficaz de assustar aqueles que tinham flush draws e/ou straight draws, decidi esperar mais uma carta aparecer. Eu apenas paguei, pois talvez o Jogador B fosse fraco e pretendesse blefar no final. Ou talvez fosse forte, mas não o bastante para derrotar minha mão, e eu apostaria no river. A quinta carta foi o 4(9-8-5-4-4) e o Jogador B fez sua segunda maior aposta da noite: $60.000. O 4foi uma das melhores cartas que poderiam ter virado, então eu contei minhas fichas e vi que ainda tinha $65.000. Enquanto contava, eu pensava: “Devo ir de all-in ou não?” Esse parece um all-in fácil na maioria das vezes, mas, novamente, essa era a segunda grande aposta que o Jogador B tinha feito a noite inteira! Eu não queria fazer um rebuy, mas a decisão certa é a decisão certa. Se eu tivesse mais $200.000, não teria ido de all-in, mas com $65.000, eu achava que devia apertar o gatilho, e fui de all-in. O Jogador B desistiu rapidamente, resmungando que tinha um par de oitos. Fazer grandes calls é uma questão de ler o oponente com perfeição, ter coragem e muito sangue frio.




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