Nota: Este é um excerto editado do novo livro de Jeff, Advanced Pot-Limit Omaha: Small Ball and Short-Handed Play.
Quando nos sentamos à mesa (ou diante do computador) e classificamos nossos oponentes como bons/ruins, loose/tight, passivos/agressivos ou fracos/fortes, ou fazemos qualquer julgamento sobre o que eles devem fazer em determinada situação (“Ele apostaria com uma mão fraca aqui?”), estamos traçando perfis deles. Infelizmente, como indivíduos são únicos e complexos, os perfis dos nossos oponentes às vezes podem ser difíceis de se traçar com precisão. Isso é especialmente verdadeiro no curto período de tempo que nós às vezes levamos para chegar a uma conclusão sobre um jogador antes de nos envolvermos com ele, como nas primeiras poucas vezes em determinada mesa.
Além do mais, traçar perfis requer de nós atenção e raciocínio constante entre as mãos, o que pode ser bastante exaustivo. Como resultado, nós com frequência tomamos atalhos, que por sua vez nos levam a erros de perfis, cujas definições tomei emprestadas, em sua maioria, de Essentials of Organizational Behavior, Ninth Edition (Noções Básicas de Comportamento Organizacional, nona edição), de Stephen P. Robbins e Timothy A. Judge.
Estereótipos
Quando julgamos as pessoas com base em nossa percepção do grupo em que nos inserimos, estamos estereotipando. Estereotipar não é necessariamente errado — vez que a maioria dos estereótipos se baseia na realidade. Contudo, fazer isso pode lhe custar caro caso seu oponente forneça indícios suficientes de que o estereótipo não se aplica e você continuar a jogar contra ele ignorando isso.
Por exemplo, você espera que uma mulher madura (digamos, por volta de 70 anos) jogue de forma relativamente conservadora e raramente blefe. Então, naturalmente, você deve jogar contra ela como se ela tivesse o nuts sempre que apostar, até que ela lhe dê evidência em contrário. Mas se, após algumas rodadas, notar que ela joga toda mão e aposta em todo flop, você pode querer reconsiderar sua leitura inicial e ajudar seu jogo de acordo com isso.
Digamos agora que um homem asiático na casa dos 40 anos se sente à sua mesa. Sua primeira suposição é de que ele é provavelmente um apostador, um maníaco. E ele não parece desapontá-lo; depois de cerca de uma hora, parece que ele está sempre dando raise antes do flop, e ele parece dizer “pote” bastante antes do flop. Mas depois de duas horas e de uma análise mais aprofundada, você percebe que ele aumenta muito apenas de posição final e que joga de maneira competente após o flop.
Portanto, embora esse jogador inicialmente tenha aparentado ser um maníaco, evidências posteriores sugerem o contrário. Então, se o flop vier 9-8-7 rainbow e ele apostar o pote do small blind diante de cinco oponentes, você provavelmente não deve querer dar call se tudo que você tiver forem dois pares.
Efeito Primazia
O efeito primazia é nossa tendência de atribuir peso indevido às nossas observações iniciais. Alguns jogadores bastante fortes tiram vantagem da influência da primazia mudando de ritmo. Eles podem passar uma imagem loose no começo, de modo que todo mundo na mesa os tomem por determinado tipo de jogador, e depois mudar para um estilo tight para serem pagos com suas mãos altas.
Efeito Halo
Quando temos uma impressão geral de um individuo com base em uma única característica, estamos sujeitos ao efeito halo. Por exemplo, nós podemos ser mais propensos a atribuir a uma pessoa bonita características favoráveis — como inteligência, bom humor, ambição e polidez — muito embora não tenhamos qualquer outra razão para crer que o indivíduo de fato possui alguma dessas características. Do mesmo modo, quando rotulamos um jogador de “profissional” habilidoso e experiente, podemos logo supor que ele vai tribetar sem ases antes do flop, que ele é uma ameaça a dar check-raise baixo em confrontos heads-up, ou que ele é capaz de pagar um check-raise no flop sem ter nada e depois seguir em frente com um raise blefando no turn, muito embora jamais o tenhamos visto fazer qualquer uma dessas coisas.
Às vezes, você vai estar errado.
Projeção
Projeção é a tendência a atribuir suas próprias características a outras pessoas. Assim como o efeito halo, esse problema ocorre com frequência no poker quando damos aos nossos oponentes crédito por fazerem jogadas que eles podem sequer saber que existem. Por exemplo, podemos supor que, porque damos call sem nada (float), nossos oponentes devem estar fazendo o mesmo, ou porque somos capazes de pagar um check-raise no flop sem nada e depois dar raise blefando no turn, nossos oponentes são capazes de fazer a mesma coisa.
Projeção às vezes é a desculpa que usamos para dar calls ruins ou fazer jogadas idiotas.
Erro de Atribuição Fundamental
Erro de atribuição fundamental é a tendência de subestimar a influência de fatores externos e superestimar a influência de fatores internos ou pessoais. No poker, podemos supor que nosso oponente seguiu determinado curso de ação por uma razão, quando na realidade ele pode não ter a menor ideia do que está fazendo.
Por exemplo, seu oponente — um turista que jamais jogou poker antes — aposta $600 em um pote de $1.000 no river. Você se pergunta o que ele tem. Você se pergunta o que ele acha que você tem. Você se pergunta o que ele acha que você acha que ele acha que você tem... e assim por diante. E você tenta analisar o tamanho da aposta dele.
Apesar de todos os múltiplos níveis de raciocínio que você cogitou, é possível que o tamanho da aposta dele seja absolutamente aleatória. Talvez o relógio dele tenha mostrado “00”, talvez uma garota tenha entrado na sala e ele tenha dado nota “6”, então ele simplesmente juntou “6” e “00” e resolveu apostar $600!
A conclusão é que você precisa tomar cuidado para não pensar demais em uma mão, pois às vezes seus oponentes não vão estar no seu nível. ♠
Jeff Hwang é um jogador de poker semiprofissional e autor de dois aclamados livros de Pot-Limit Omaha. Você pode conferir seu site no endereço jeffhwang.com.