EDIÇÃO 30 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Empurrar do Small Blind

Uma boa jogada ou não?


Matt Lessinger

No ano passado, eu joguei milhares de torneios sit-and-go hiperturbo six-handed (HTs), nos quais você começa com 500 em fichas e os limites sobrem a cada três minutos. Os dois melhores jogadores ganham quase 2,5 vezes o buy-in, enquanto o terceiro colocado recebe o dinheiro de volta. Obviamente há muita sorte envolvida em cada HT, mas, no longo prazo, os melhores jogadores claramente vencem.

Há um jogador em particular que eu considero de elite — vamos chamá-lo de “Jonas” — e como ele joga bastante, é quase impossível evitá-lo. De fato, se ele tem algum defeito, é jogar muitos HTs simultaneamente de modo que seu jogo às vezes fica muito preso a fórmulas. Talvez seu movimento mais padrão seja ir all-in pré-flop do small blind sempre que a mesa roda em fold. Eu nunca fui fã dessa jogada (ou de qualquer outra) de maneira indiscriminada, e intuitivamente eu acho que ela não deve ser a estratégia correta 100% das vezes. Mas eu respeito muito o jogo dele, além disso, ele é um vencedor substancial e consistente, então agora eu preciso decidir se essa é uma fórmula que vale a pena ser adicionada ao meu arsenal.

Eu não vou focar tanto nas vezes em que nem o small blind nem o big blind estão short-stacked, pois senão quase sempre seria a jogada correta. A única exceção ocorre quando você está com poucas fichas no small blind com uma mão muito ruim e, se você der fold, outro jogador short-stacked seja forçado a ir all-in antes de você ser forçado a tal. Se a eliminação dele lhe catapultar para a segunda ou terceira colocação, às vezes é melhor tentar a sorte, na esperança de ele ser eliminado, do que ir all-in contra um big blind que vai pagar quase que com certeza, e que provavelmente vai lhe derrotar. Mas, a não ser nessa situação específica, é em regra correto empurrar do small blind com poucas fichas ou colocar um big blind short-stacked em all-in. O lado positivo potencial de acumular fichas e/ou eliminar um jogador, mesmo com o que possa ter a pior mão, vale o risco.

Então, em vez disso, vamos pensar nas vezes em que ambos os blinds têm algumas fichas. Como exemplo, abordarei a primeira mão de um HT. Tanto o small blind quanto o big blind têm 500, os blinds são de 25-50 com antes de 10, e quando todo mundo dá fold até Jonas no small blind, ele dá shove 100% das vezes. Como não há por que analisar as vezes em que ele tem uma mão de verdade, pois ele obviamente deveria ir all-in nesse caso, vamos dar a ele uma mão como 8-4 offsuit, com a qual ele dá shove de qualquer maneira.



Essa é Uma Boa Jogada ou Não?

Há três resultados possíveis:
1. Se Jonas ganhar sem contestação, ele vai aumentar seu estoque para 600.
2. Se alguém der call e ele ganhar, ele vai ficar com 1.040.
3. Se alguém der call e ele perder, ele será eliminado.

Então, a pergunta é: a combinação desses resultados é melhor do que dar fold e ficar com 465?

Isso depende estritamente da frequência com que o big blind pagaria. Obviamente, quanto mais tight for o big blind, melhor se torna a jogada. Se o big blind der call com apenas 10% de suas mãos, sua jogada certamente vai funcionar a favor de Jonas, ainda que ele perca 80% desses confrontos. Isso quer dizer que Jonas será eliminado apenas 8% das vezes, vai duplicar 2% das vezes e subir para 600 nos 90% restantes das vezes.

Ter um big blind que dá call apenas 10% das vezes nessa situação de HT pode soar tight demais, mas um número surpreendente de jogadores se enquadra nessa descrição. Muita gente, mesmo em um HT que dure apenas 10 minutos, quer algum custo-benefício. Ser eliminado na primeira mão os deixaria com uma sensação mais negativa do que a sensação positiva que poderiam sentir dobrando. Além disso, embora alguns jogadores sejam liberais com seus requisitos de raise, eles se recusam a dar call em um all-in sem uma mão premium. Portanto, mesmo nessa situação, eles dariam fold com uma mão como Q-10. Contra tais jogadores, Jonas está absolutamente correto em ir all-in, e na maioria das vezes ele vai obter um lucro de 100.

Esse é um lucro bem mais significativo do que pode parecer. Ele não apenas está aumentando seu estoque em 20%, como também será o chip leader, o que significa que ninguém pode eliminá-lo em um único confronto. Além do mais, como ele vai estar no button na mão seguinte, ele realmente estará no assento do motorista. Ele pode se dar ao luxo de ser paciente ou pode continuar sendo agressivo, e geralmente a ação antes dele vai ditar qual é o melhor caminho.



E Contra um Big Blind Mais Loose?

Agora a jogada se torna mais arriscada. Digamos que o big blind dê call 40% das vezes e ganhe 70% delas. Isso significa que Jonas vai ser eliminado 28% das oportunidades. Ele vai dobrar 12% das vezes e vai subir para 600 em 60% delas. Aqui, eu acho que ir all-in com 8-4 é uma proposição desfavorável — não muito, mas o suficiente para me fazer preferir dar fold e ficar com 465. Mas isso é minha opinião pessoal. Eu simplesmente acho que, como bom jogador, ele tem chances decentes de dar fold e depois vir a ganhar, de modo que não precisa correr um risco de 28% de eliminação na primeira mão.

Então, o que eu faria de diferente se fosse Jonas? Eu continuaria a ir all-in indiscriminadamente contra oponentes desconhecidos e mais tight. Contra adversários mais loose, ou contra aqueles que tornaram seus requisitos mais loose por saber que ele está empurrando com quaisquer duas cartas, eu descartaria as mãos 20% mais baixas. Parece que estou falando disso de maneira hipotética, mas, de fato, é isso que eu faço. Portanto, isso me torna um pouco mais previsível que Jonas, mas me conforta saber que eu vou cair com uma mão lixo como 7-2 ou 6-3.

O que eu faço contra Jonas? Conforme mencionei, tornei meus requisitos de call drasticamente mais loose, de modo que eu pago cerca de 40% das vezes. Acho que tenho uma modesta vantagem nessas situações, e preciso tirar pleno proveito de qualquer oportunidade de eliminar um jogador tão perigoso. Por outro lado, isso me força a dar calls all-in com mãos como Q-10 e 3-3. Em um mundo ideal, eu preferiria não ter que arriscar minha vida no HT com mãos tão marginais. Portanto, nesse sentido, ele claramente me tirou da minha zona de conforto.

Isso basta para fazer essa jogada valer a pena? Acredito que a resposta é que eu ainda não sei ao certo. Ele vai continuar jogando dessa maneira e eu vou continuar jogando da minha. E tudo bem. Conforme eu disse um tempo atrás, se todos nós jogássemos da mesma maneira, o poker seria um jogo bastante entediante.




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