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A dois passos do Paradisus

Para a etapa de abertura da terceira temporada do Latin American Poker Tour, o PokerStars escolheu um resort paradisíaco na Costa Rica. E o resultado não poderia ser outro: um evento inesquecível dentro e fora das mesas.


Bruno Nóbrega de Sousa

Sol e Água Fresca
Teve de tudo nessa etapa de abertura – e as emoções começaram muito antes do “shuffle up and deal”. Para chegar ao Paradisus, um resort all-inclusive no estilo vila incrustado no meio da reserva ambiental de Playa Conchal, é preciso paciência e certa dose de coragem: para quem saía do Brasil, era necessário pegar pelo menos três aviões (incluindo um monomotor que se recusava a se alinhar com a pista na hora do pouso) e um ônibus, em um total de cerca de 20 horas de viagem. Mas o resultado compensa cada segundo perdido entre voos, aeroportos e transfers, pois o Paradisus Playa Conchal é um dos destinos mais bonitos que se pode encontrar na América Latina.

Não bastasse o local do evento ser de frente para o Pacífico, o sol e o céu azul da Costa Rica também eram um convite aos atrativos que o hotel punha à disposição. Entre os mimos para os hóspedes, havia equipamento leve de mergulho, bicicletas, e aulas de arco-e-flecha e tai-chi-chuan. Para os que estavam em busca de algo mais hardcore, era possível alugar jet-skis e deslizar sobre o mar cristalino da Playa Conchal – como fizeram Akkari, Alê Gomes e Cláudio Baptista – ou quadriciclos para levantar poeira pelas trilhas que entravam pela mata atlântica, opção de André “Dexx”, Rodolfo Lacerda e Pedro Mendes. Havia ainda uma imensa piscina com bar molhado, onde o que mais se ouvia era o nosso legítimo portunhol, geralmente pedindo “una cervezita, por favor”. Em outras palavras, o PokerStars acertou em cheio ao começar a terceira temporada do LAPT nesse verdadeiro paraíso.

“Shuffle Up and Deal”
Quando essa fatídica frase é pronunciada, o que era expectativa se transforma em ação. O tilintar das fichas dos 259 jogadores inscritos passa a ser trilha sonora da disputa, e a nova estrutura de blinds do LAPT faz durar mais tempo essa sinfonia de uma nota só: 60 minutos por nível.

Enquanto isso, passeando pelas mesas, encontramos as figuras carimbadas do circuito. Como de costume, estavam lá Humberto Brenes – e família, claro –, Victor Ramdin, JC Alvarado, Leo Fernandez e José Ignácio Barbero, os brasileiros do PokerStars Team Pro Alexandre Gomes, André Akkari, Maridu e Gualter Salles, e mais uma comitiva verde e amarela composta por Felipe Mojave, Claudio Baptista, Marcelo Dabus e companhia.

Falando em Dabus, ele foi um dos que viu as fichas balançarem mais do que o teco-teco a caminho do resort. Logo nas primeiras mãos, suas 20 mil iniciais subiram para 50, caíram para 44, chegaram a 70, despencaram para 23 e encerraram o dia na casa dos 26 mil. Junto com ele, passaram para o Dia 2 outros onze brasileiros: Alexandre Gomes, Felipe Mojave, Maridu, Dexx, Akkari, Gualtinho, Nelson “mumtum”, Reinaldo Marques, Fabiano Negrelli, Alphonse Voigt e o tamandareense André Franke.

De Almirante Tamandaré para o Mundo
Mesmo em meio a tantas estrelas do feltro latino-americano, foi um comerciante de morangos de Almirante Tamandaré, região metropolitana de Curitiba, que acabou chamando a atenção.

André Franke chegou ao LAPT como um ilustre desconhecido, mas acabou sendo o assunto mais comentado entre os brasileiros na Costa Rica. Isso porque ele desembarcou na Playa Conchal sem ter gastado um centavo: simplesmente superou uma multidão de jogadores que tentaram a sorte através dos freerolls classificatórios do PokerStars!

“Pedi para minha esposa tirar uma foto minha enquanto o pessoal do SBT me entrevistava, senão ninguém lá em Almirante ia acreditar”, disse André, sorrindo. E é para achar graça mesmo, pois são histórias assim mantêm viva a chama do poker. – “Pura Vida!”, como diriam os costarriquenhos.

A Ver Navios
Dos brasileiros que passaram para o Dia 2, quando ocorreria o estouro da bolha, apenas três chegariam ao dia final. Dentre os que deram adeus e foram “forçados” a ir para a piscina estavam Akkari, Mojave e Gualter Salles.

Akkari, que vinha colecionando fatiadas em coinflips, acabou colocando seus 20 mil restantes no meio da mesa com par de cincos. Só que dois barbudos o esperavam do outro lado, e esse par de reis decretaria que o primeiro brasileiro a integrar o time de profissionais do PokerStars seria eliminado. GG Akkari.

Outro brasuca que deu adeus ainda no Dia 2 foi Gualter Salles. Ele, que recentemente subiu de patente no Stars, assumindo o posto de “Team Pro”, estava no big blind quando a mesa rodou em fold e o button apostou 6 mil. O small blind deu call, e Gualtinho voltou a casa, colocando seus 45 mil restantes no pote. O Button largou, mas o small pagou. Mau sinal. Os dois mostraram as cartas, e o brasileiro tinha J-J contra A-Q do adversário. Com ás não se brinca, e logo no flop um espeto furou as esperanças de Gualtinho. Eliminado, ele tratou de calçar as chuteiras e ir bater bola, num sofrível confronto entre dois times de futebol formados por jogadores de poker – valeu pela brincadeira e pela interação entre os players.

Quanto a Mojave, ele por pouco não foi agraciado com o título de “bubble boy”.  Duas posições antes de os jogadores ficarem in the money, ele olhou para as cartas e viu nada menos do que um par de ases tinindo na sua mão. Faminto para puxar um belo pote, ele só não esperava que um J-T fosse cruzar o seu caminho e acertar dois pares num all-in. Incrédulo, Mojave se levanta e sai, com aquela sensação de que poderia ter ido muito mais longe no torneio.

E Marcelo Dabus? Bem, o carioca sangue bom também caiu antes de a bolha estourar, numa trombada entre A-Q e um par de cincos que ainda trincou no river. Uma pena.

Brava Gente Brasileira
Mas chega de histórias tristes, afinal, quatro brasileiros viram a cor do dinheiro no LAPT Playa Conchal: Alphonse Voigt, Alexandre Gomes, Maridu, e ele, a sensação de Almirante Tamandaré, André Franke!
Alphonse, apresentador do noticiário esportivo da Band de Curitiba, caiu em 31º, na última mão antes do encerramento do dia. Numa tentativa de steal, ele colocou todas as suas fichas com A 9, mas tomou call de um par de quatros atrevido, que insistiu em segurar. Fim de jogo para o curitibano, mas com premiação no bolso.

Já nos primeiros movimentos do Dia 3, foi a vez de Alê Gomes “capotar o jipe”, como ele mesmo diz. Os dois pares que ele acertou não foram suficientes para conter a sequência do oponente. O único brasileiro detentor de braceletes da WSOP e do WPT ficou com a 30ª colocação.

O 27º foi André Franke, que já estava curtindo bastante o passeio na Costa Rica com sua esposa e ainda voltou com US$4.000 para contar a história. Ele mesmo admitiu ter ficado muito travado enquanto a bolha não estourava, e talvez por isso não tenha ido ainda mais adiante. Mesmo assim, sua participação foi sensacional. Parabéns, André!

Melhor colocação entre as mulheres e entre os integrantes do PokerStars Team Pro, Maridu mostra que por trás do par de óculos wayfarer azul turquesa há um talento do feltro e uma mente que funciona a mil por hora. Seu jogo técnico fez com que ela conquistasse a 24ª colocação dentre 259 participantes.
Cada um ao seu modo, esses quatro brasileiros representaram de forma brilhante a nação verde e amarela na tabela de premiação.

Tem Canadense no Mambo
E o torneio foi se afunilando até que a mesa final com oito participantes fosse formada, da qual mais da metade era canadense: Daren Keyes, Sol Bergren, Amer Sulaiman, Eric Levesque e Francis Nicolas. Completavam a final table o costarriquenho Rogelio Pardo, o guatemalteco Carlos Girou e o holandês Patrick de Koster.

Esse, aliás, o primeiro a cair, depois que seu A-7 bate de frente com o Q-Q de Levesque. O flop ainda traz um 7, mas para por aí. A essa altura, o chipleader é Sol Bergren, que faz mais uma vítima. Dessa vez, o representante da Guatemala, Carlos Giron.

Logo após a queda do sétimo colocado, mais um se despede do torneio: Darren Keyes vai all-in com 371 mil fichas e toma call do iraquiano naturalizado canadense Amer Sulaiman. No embate entre A-7 contra o A-K de Sulaiman, o 7 no flop o dá esperanças até o river, quando um rei faz com a mesa se limite aos últimos cinco jogadores.

Algum tempo depois, Sulaiman paga outro all-in. Do cut-off, Francis-Nicolas coloca todas as suas fichas com K-9. Mas um par de ases estava no seu caminho: GG Francis, e Sulaiman começa a se agigantar. Sol Bergren não deixa por menos e, depois de tomar um reraise do falastrão Eric Levesque, empurra tudo no pote e é pago. Bergren apresenta 8-8; Levesque, A-Q. O par baixo guerreiro segura, e despacha Levesque em quarto lugar.

Para a tristeza da torcida local, Rogelio Pardo ficaria fora do heads-up decisivo. Ele vai all-in com A 3 e recebe call de Bergren, com 5 5. O bordo final é 8 6 K 4 5, e o jovem canadense consegue, novamente com um par baixo na mão, eliminar um oponente. Estava definido o heads-up entre Sol Bergren e Amer Sulaiman, e a batalha duraria três horas.

Ao final, depois de inúmeras inversões na liderança, a experiência parece ter falado mais alto. Amer Sulaiman, iraquiano de 45 anos radicado em Toronto, fez uso de sua paciência e de uma estratégia small-ball, até finalmente ir all-in com T 7 e receber call de Bergren, com 7 6. O bordo não ajuda ninguém, e Sulaiman ergue o troféu de campeão da etapa de abertura da terceira temporada do LAPT, além de faturar US$ 172 mil dólares.

Com a etapa de Playa Conchal do Latin American Poker Tour, o PokerStars prova que nenhuma empresa se torna uma potência por acaso. É preciso profissionalismo, planejamento e ousadia – e isso eles têm de sobra. A próxima parada do LAPT será em Punta Del Este, no final de fevereiro. E aqui na CardPlayer Brasil você fica por dentro de tudo o que acontecer edição uruguaia do circuito. Até lá!


FICHA TÉCNICA
Latin American Poker Tour
Local: Paradisus Playa Conchal (Costa Rica)
Datas: 19 a 22 de Novembro de 2009
Buy-In: US$2.700,00
Estoque Inicial: 20.000 fichas
Blinds: 60 minutos
Field: 259 jogadores
ITM: 40 mais bem colocados
Realização: PokerStars.net




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