EDIÇÃO 25 » COLUNA INTERNACIONAL

NBC Heads-Up: Rounds 3 e 4

Hellmuth vs. “Durrrr”, e Hellmuth vs. “ElkY”


Phil Hellmuth

Depois de ganhar meu primeiro confronto no NBC National Heads-Up Poker Championship contra Mike Sexton — quando meu A-J teve a sorte de derrotar a Q-Q dele — e após eliminar Jeffrey Ishbia na segunda rodada, eu me classifiquei para as oitavas-de-final, que eles chamaram de “Doces 16”, eu enfrentei a sensação do poker online de 22 anos Tom “Durrrr” Dwan. Durrrr tem enorme talento e potencial, e pode eventualmente se tornar o melhor jogador de poker do planeta.

Eu sabia que esse confronto receberia a atenção de todo o mundo do poker. Quer dizer, não apenas era uma coisa “velha guarda” versus “nova geração”, como também era considerada um acerto de contas. Afinal, eu estava enfrentando o homem que me eliminou na primeira rodada do NBC Heads-Up 2008 quando o TT dele quebrou meu par de ases logo na terceira mão. Depois de perder aquela mão, eu ainda estava tão em choque por ter sido eliminado tão cedo no meu primeiro confronto com a melhor mão possível, que entrei em modo “Poker Brat”: eu explodi pra cima do Durrrr por causa do modo como ele tinha jogado com TT! Desde então, não sei nem dizer quantas pessoas me perguntaram se eu e Durrrr já tínhamos jogado outra vez. O mundo do poker vinha falando de uma revanche, e até mesmo exigiam um tira-teima nos fóruns de poker ao redor do globo!

Para minha surpresa, Durrrr começou jogando devagar, quase nunca aumentando ou reaumentando antes do flop. Quer dizer, ele é conhecido aos quatro ventos por seu estilo de jogo superagressivo e rápido: ele normalmente dá raise e reraise como um louco. Fui eu quem começou jogando de forma lenta, cadenciada, enquanto observava meu oponente e sua tática. Então tentei bolar uma estratégia eficiente contra a tática que meu oponente estava utilizando. Portanto, o jogo “veloz e furioso” que todo mundo estava esperando se tornou um lento “small-ball”. É claro que eu estava preparado com um contraataque diante um eventual jogo rápido de Durrrr, mas uma posuta lenta dele não atrapalhou meus planos, pois se tornou mais uma partida padrão para mim. Quer dizer, geralmente quando eu jogo heads-up contra um grande oponente, o jogo é lento, e aqui não foi exceção, pelo menos durante a primeira hora.

Depois de uma hora, consegui uma boa liderança de 105.000 em fichas contra 55.000 de Durrrr, quando ele finalmente mudou de marcha para seu jogo rápido. Eu percebi isso, e meu contraataque consistia em fazer boas leituras. Se Durrrr desse raise ou reraise com uma mão fraca, eu fazia o último aumento, na esperança de forçá-lo a largar ali mesmo. Caso ele aumentasse ou reaumentasse com uma mão fraca e eu tivesse uma extremamente forte, eu fazia slowplay com ela — deixando que ele fizesse o último aumento e blefasse algumas fichas a meu favor.

Com blinds em 1.000-2.000, eu abri raise de 6.000 com 63, e Durrrr aumentou para 15.400. Enquanto eu o observava aumentar, senti grande fraqueza e decidi que, nesse confronto, eu precisava seguir meus instintos se quisesse ganhar. Sendo assim, menos de 20 segundos depois do aumento dele, eu anunciei: “All-in”. Essa foi uma jogada do tipo “vamos nessa”. Quer dizer, se eu estivesse errado e Durrrr tivesse uma mão forte, eu ficaria em grande desvantagem e potencialmente daria a ele uma liderança em fichas de 110.000 para 50.000!

Depois de eu ir all-in, Durrrr deu fold, e eu me senti ótimo. Eu tinha confiado em meus instintos e feito uma grande jogada, e estava certo. Como resultado, ganhei uns 15.000 e agora tinha uma liderança em fichas de 120.000 para 40.000.  Muitos jogadores teriam mostrado essa mão para se exibir ou deixar seu oponente tiltado, mas eu respeito Durrrr, e achei que mostrar um blefe para ele lhe daria uma “leitura gratuita” sobre mim. Quer dizer, se eu revelasse, ele poderia tentar uma jogada similar, mas se eu não mostrasse, ele provavelmente acharia que eu tinha uma mão forte, e acabaria por aí. Acabei vencendo Durrrr quando ganhei uma interessante mão que discutirei em algumas colunas.

Meu oponente seguinte seria outra jovem superestrela: Bertrand “ElkY” Grospellier, nas quartas-de-final. Recentemente, ele saiu na capa da CardPlayer americana, e participou da mesa final o evento high-roller do WPT Championship, com buy-in de $25.000. ElkY vem mostrando um impressionante desempenho em torneios, tanto online quanto ao vivo. Ele tem apenas 25 anos e deve ser uma ameaça durante muitos anos por vir.

Antes de o confronto ter início, Mike “The Mouth” Matusow me ligou para me dizer o quanto ElkY gostava de blefar. Eu não gosto de ouvir relatos sobre meus oponentes, pois prefiro me sentar, observá-los com cuidado, confiar em meus instintos e então desenvolver uma estratégia para contraatacar seja lá o que eles estejam tentando fazer. Na primeira mão, com 160.000 em fichas cada um e blinds de 1.000-2.000, entrei de limp do button com 8-5. O flop veio Q-8-7. ElkY pediu mesa, eu atmbém. A carta do turn foi um rei, e ElkY apostou 3.700. Havia duas cartas de espadas no bordo, bem como alguns straight draws. Meu par de oitos se mostrou a melhor mão, então aumentei para 10.000. Ele voltou 24.000 e eu paguei. A última carta foi um 7, e agora eu não conseguiria ganhar de nada além de um draw perdido. Caso ele tivesse um rei, uma dama ou um 7 em sua mão, derrotaria meu par de oitos. Ele apostou 33.300, e eu comecei a me perguntar por que ele tinha apostado tão alto. Quer dizer, eu não achava que ele tivesse três setes ou uma dama apenas, então devia ter algo realmente forte ou um draw que não bateu. Continuei a pensar sobre o relato que tinha ouvido de que ele blefava, então paguei. Mas ElkY estava longe de estar blefando! Ele tinha K-Q, e eu vi que tinha cometido um erro. Perdi muito — logo na primeira mão da partida.

Mesmo assim, sou um profissional, e sei que uma liderança inicial não significa muita coisa. Na mão seguinte, ElkY aumentou, e eu aumentei sem nada (5-2 offsuit) e ganhei o pote. Agora eu tinha 50.000, e me senti um pouco melhor. Na oitava mão, aumentei para 6.000 com Q-Q, ElkY aumentou para 17.000 e eu fui all-in com uns 110.000. ElkY deu insta-call e mostrou par de ases: foi um balde de água fria! O bordo veio T-3-2-T-8, e eu fui eliminado. Mesmo que eu não tivesse ido all-in pré-flop, eu teria perdido muitas fichas com aquele flop.

Eu me orgulho muito do fato de ter dado os folds mais difíceis do universo do poker, e uma de minhas frases famosas é: “Eu consigo desviar de balas, baby!” Essa foi uma ótima oportunidade de largar Q-Q antes do flop (ou no flop, caso eu tivesse apenas pagado o reraise pré-flop dele) e mostrar ao mundo minha força — e desperdicei! Se eu quiser permanecer no topo do poker, preciso continuar a executar grandes folds que outros jogadores não conseguem, apenas para me dar uma ou duas “vidas” extras em cada torneio que disputo. Mas fale a verdade: não era quase impossível largar aquelas damas? Sim, mas eu devia ter dado fold, porque eu consigo desviar de balas, baby!




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