Nesta edição vamos falar um pouco sobre implied odds, um conceito muito usado, difundido, mas mal compreendido por algumas pessoas. Sabemos que o fato de termos que pagar apostas futuras reduz nossas “pot odds” numa determinada mão. Porém, em alguns momentos do jogo, é justamente o fato de essas apostas futuras existirem que irá nos motivar a jogar determinada mão.
Assim, as implied odds surgem como a chance de ganharmos mais dinheiro nos últimos rounds de apostas, deixando o pote final maior: é a possibilidade de lucro futuro.
O exemplo clássico para o caso das “implied odds” é o da trinca. David Sklansky, na conceituada obra Teoria do Poker, ensina que, quando estamos com um par na mão, temos chances de aproximadamente 8-para-1 de floparmos uma trinca. Mas, em muitos casos, ainda que tenhamos algo em torno de 5-para-1 de pot odds, podemos jogar esse par. Se há $50 num pote, e o call lhe custar $10, você terá implied odds de cerca de 150-para-10 ou 15-para-1, desde que consiga um lucro de pelo menos $100 quando acertar a trinca.
Já o jogador Allen Cunningham, ao comentar a mesma situação, afirmou que existem muitas situações nas quais se pode colocar 5% ou menos do seu stack para ver o flop e acertar uma trinca. Ele pondera, lembrando que você teria 8-para-1 de chances de acertar uma trinca no flop, mas que, em contrapartida, teria 20-para-1 de “implied odds” desde que, no momento em que acertar sua trinca, consiga dobrar suas fichas.
Nesse exemplo da trinca, a regra geral usada pela grande maioria dos jogadores é que, caso o call custe até 10% dos stacks efetivos, ele é válido. Para quem não sabe o que é “stack efetivo”, vamos a um exemplo: numa determinada mão, com blinds em $100-$200, você tem $4.000 fichas e seu oponente $2.000. O stack efetivo nessa situação é aquele que pode ser “absorvido”. Você só pode ganhar mais $2.000 fichas nessa mão, assim como seu oponente só pode tirar $2.000 fichas de você. Então, os stacks efetivos nessa mão são de $2.000 fichas, ou 10 big blinds.
Concluímos então que, nas situações em que estivermos com um par pequeno ou médio, e o nosso call custar até 10% dos stacks efetivos, estamos autorizados a dar o call em busca da trinca, devido às implied odds. Certo? Errado! E é nesse ponto que muitas pessoas se equivocam com o conceito.
Tomemos como exemplo um cash game de NL Hold’em $0.50/$1. Você abre raise para $3 com um par de setes, e seu oponente volta um reraise, cujo call lhe custará mais $7. Logo, se seu oponente tiver mais do que $70 fichas, você teoricamente poderia dar o call. Porém, o grande X da questão aqui é: com que frequência eu acertarei a minha trinca e levarei as $70 fichas? É nesse ponto que as pessoas superestimam o conceito.
Em primeiro lugar, você precisa avaliar qual a probabilidade de seu oponente acertar uma mão que o pagará. Suponhamos que o vilão do nosso exemplo seja um jogador muito tight, tenha um range para reraise de JJ+ e AK, e que frequentemente irá ao chão caso flope um top pair ou algo melhor. Esse é o tipo de oponente ideal, mas mesmo com um perfil desses, não existem garantias concretas de sucesso. Vejamos...
Se o flop mostrar cartas baixas, ele terá AK aproximadamente 40% das vezes, e o máximo que você vai ganha é a sua continuation bet. Se o ás ou o rei bater, você levará as fichas quando ele tiver AK, mas não quando ele segurar JJ e QQ.
Contra um oponente mais loose a situação é ainda pior, já que seu range de 3-bet será um pouco mais amplo. Jogando com uma gama maior, com mãos que incluem suited connectors, o vilão loose não só acertará o flop menos vezes, como também acabará acertando o flop em situações que baterão sua trinca de setes com mais frequência.
Basicamente, para ter sucesso aqui, será preciso desenvolver a habilidade de colocar o seu oponente num range de possíveis mãos, bem como a capacidade de compreender as tendências de jogo pós-flop dele. Para que sua estratégia baseada nas implied odds tenha sucesso, esses fatores, em si, serão mais importantes do que o stack efetivo por trás do vilão.