Há três anos, venho realizando um trabalho que mistura o lado jornalístico com o educacional para o poker brasileiro. Diversas iniciativas, como escrever o livro “Aprendendo a Jogar Poker” e “Dominando a Arte do Poker”, que será lançado após a WSOP, em agosto, têm o objetivo de disseminar o nosso jogo pelo país.
Estive presente em todas as edições da CardPlayer Brasil, tentando misturar artigos técnicos com outros mais narrativos da cultura, como o especial sobre a mesa final da WSOP do ano passado (vide edição n. 17 da CPBr). Fui o único brasileiro a cobrir a mesa em que Peter Eastgate tornou-se Campeão do Mundo. Meu website (leobello.com.br) foi mais um passo na direção de me aproximar do público interessado em aprender o jogo, pois lá eu troco experiências com os leitores através da seção “Pergunte ao Pro”, além de ter aberto um canal para notícias e textos mais informais pelo meu blog.
Porém, eu ainda queria encontrar novas maneiras de me aproximar dos leitores e fazê-los sentir como é a experiência de jogar um torneio pelos olhos de um profissional. E parece que encontrei uma maneira criativa e diferente, e que comecei a colocar em prática em uma bela oportunidade, quando, coincidentemente, joguei um torneio importante e obtive um bom resultado.
Foi durante a 5a Etapa do Circuito Paulista de 2009, que aconteceu no H2 Club, com o patrocínio do BestPoker e do Full Tilt Poker, que resolvi testar uma nova mídia para fazer a cobertura do torneio: o Twitter.
Para quem não sabe, o Twitter é uma mistura de uma rede social com microblog. Eu posso mandar mensagens com até 140 caracteres, seja de texto ou contendo links, que são visualizadas por todas as pessoas que tiverem decidido acompanhar os meus posts nesse site.
Você cria uma conta no site twitter.com e adiciona pessoas que você deseja acompanhar. A partir daí, toda vez que você acessar a página do Twitter (ou até pelo seu celular, pois existem programas que mostram direto na telinha do aparelho) verá as últimas mensagens enviadas pelas pessoas que você segue.
Dessa forma, é possível interagir com essas mensagens, fazendo um “retweet”, ou seja, reproduzindo a mensagem como sua dando crédito ao autor original, gerando um efeito viral, pois agora seus seguidores também lerão aquela mensagem. Você também pode responder à pessoa que postou originalmente, ou até mesmo não fazer nada, e só se divertir com as informações.
O Twitter começou a tomar o mundo do poker, e hoje eu acompanho, por exemplo, as mensagens enviadas por jogadores como Daniel Negreanu (RealKidPoker), Annie Duke (RealAnnieDuke), Phil Hellmuth (Phil_hellmuth), Joe Sebok , Barry Greenstein, David Williams, Justin Bonomo; além de personalidades do poker como Jeffrey Pollack, que é o comissário da WSOP, ou mesmo de instituições como PokerNews, DeucesCracked e PokerListings.
No Brasil, já temos a presença de pessoas interessantes no cenário do poker, como o GuiKalil, que apresenta o Podcast da CardPlayer Brasil; DC, diretor de torneios da Nutzz; a jogadora Maridu, e Juliano Maesano, apenas para citar alguns. Basta procurar nas listas de seguidores desses jogadores para encontrar incontáveis outras personalidades ligadas ao nosso esporte. Quem quiser me adicionar, basta procurar por leobello. Ah, e você pode olhar nas pessoas que sigo, que encontrará muitos profissionais de poker.
Ok, mas o que todos esses jogadores e instituições estão fazendo lá? Bem, além de contar pequenos pedaços de suas vidas pessoais, como em um microblog, e interagir entre si (você pode mandar mensagens diretas ou até mesmo conversar em um post colocando o símbolo @ na frente do nome da pessoa que você quer que leia. Exemplo: @leobello “Fala Leo, tudo bem?” Isso vai aparecer direto na minha lista de mensagens), a grande maioria está falando dos torneios de poker de que participa ou das sessões que joga online.
Agora, durante a WSOP, os profissionais estão enviando em tempo real, direto das mesas, informações sobre como estão indo nos torneios, mãos importantes jogaram e notícias em geral. É bastante interessante ouvir do Daniel Negreanu diretamente, como ele está se sentindo do início ao fim de um torneio e como ele pensou durante determinada mão. Isso é possível, pois você pode atualizar direto do seu celular.
E foi assim que surgiu a idéia de trazer para o pessoal que me segue no Twitter, mais uma maneira de acompa-nhar um torneio, com uma visão individual do que está acontecendo. Quando você acompanha uma cobertura de um BSOP ou do CPH, ou mesmo durante a WSOP, no site do BestPoker Team, por exemplo, terá notícias globais sobre o evento, com fotos, vídeos e o desempenho de cada jogador, visto pelos olhos de um jornalista espectador. Mas, e como seria acompanhar pelo ponto de vista de quem está jogando, e só tem informações pela própria mesa em que está e através do telão. Lendo os jogadores da mesa, contando mãos importantes e passando pelas variações e agruras do torneio.
Será que daria certo? Será que as pessoas curtiriam essa outra experiência de jogar um torneio pelos olhos de um profissional? Resolvi fazer o primeiro teste no Circuito Paulista. Celular em punho, um blackberry, instalei um aplicativo chamado de TwitterBerry, e ia atualizando mi-nhas impressões sobre o torneio. Lembrando que, como o espaço para cada mensagem é limitado (140 caracteres), muitas vezes eu tinha que fazer uma grande ginástica gramatical para que tudo coubesse naquele pequeno espaço. Contava uma mão abreviando termos como dealer (D), reraise (RR), check (Ch) e outros.
Mas segui firme e forte, falando das alterações de blinds e tentando dizer quem estava bem na minha mesa, além das mãos que alteravam meu stack. Entrei no quarto nível de blinds, logo após o add-on, e estava me sentindo muito confiante. Mas tinha um problema, era aniversário da minha irmã no dia seguinte, e eu tinha planejado ir até o Rio de Janeiro visitá-la. Assim, tinha comprado um vôo para a madrugada, e não tinha muita expectativa de poder jogar até o final do torneio. Então decidi agir de forma mais agressiva, para tentar ficar grande em fichas ou sair do torneio.
Jogar sem muitas responsabilidades, mas ao mesmo tempo tranquilo e sem tentar fazer muita besteira (pois eu tinha que contar minhas mãos no Twitter, não podia passar vergonha) tornou toda a competição mais prazerosa. Jogando de forma livre, consegui progredir até atingir um stack de aproximadamente 20 mil fichas (tendo começado com 11 mil). Eis que veio a mão que começou a mudar meu torneio – e olhe que joguei com a mentalidade de explodir em fichas ou cair logo.
Salim Dahrug, jogador muito agressivo, veio para minha mesa tendo um stack de mais de 50 mil em fichas. Logo depois tivemos o primeiro break, no final do sexto nível de blinds. Ao retornarmos, acabamos no envolvendo numa confusão muito lucrativa para mim. Eu estou no big blind com o Salim a minha direita, no small blind. A mesa roda em fold, e o Salim aumenta a aposta. Ele daria esse raise com um range enorme de mãos, e nesse ponto estou meio no escuro. Mas vendo J-9 no meu big blind, acredito que estas sejam cartas que joguem bem contra as mãos aleatórias do Salim.
O flop veio 9-8-2, sem chamadas para flush. Salim coloca cerca de 2,4k fichas. Eu já tinha ido até ali com top pair, e agora precisava saber onde estava: decidi aumentar para 6 mil. Então, Salim automaticamente volta all-in. O movimento foi muito rápido e eu senti que era um roubo, por ele achar que eu poderia estar aumentando sem nada. Nessa hora, soube que ele tinha algo, talvez um par na mão ou uma pedida para sequência. Por outro lado, se eu ganhasse esse pote, ficaria muito bem no torneio, com quase o triplo da média atual.
Decidi dar call. Ele mostrou 77. O meu par de noves estava na frente e segurou até o river – direto para o Twitter! Lindo call na aposta do Salim (embora altamente arriscado). E eu estava entre os Top 5 do torneio, com um belo caminho à frente.
Segui “twittando” mão-a-mão, inclusive mostrando ao pessoal que acompanhava, como passei horas sem receber um bom jogo, e sem muita ação. Acho que isso é importante para mostrar a paciência que devemos ter. Até mesmo quando tirei AA, não tive nenhum cliente e não levei fichas.
Nesse meio tempo, mudei de mesa duas vezes e fui mantendo o meu stack, mas sem conseguir alterar muito. Quando restavam apenas quatro mesas, sem receber jogos fortes, resolvi ficar bem agressivo e comecei a subir com mãos mais fracas, que só o pessoal do Twitter acompanhava: Q7, J5, A4, e, para minha sorte, roubando os blinds ou levando o pote no flop.
Mas a mão que acabou sendo decisiva foi um belo blefe sobre o jogador Guilherme, que naquele momento era o chip leader da minha mesa. Aumentei com Q8 quando ele era o big blind. O jogador “Cofrinho”, de Araraquara, e o Cristiano, de São Paulo, reclamaram do meu aumento, chiaram que tinham boas mãos, mas deram fold. Guilherme, no Big blind, pensou um pouco e deu call. O flop veio 7-3-2, bastante inocente. Os blinds já estavam 3k/6k, e eu tinha aumentado 13.4k pré-flop. Guilherme, após pensar um pouco, sai atirando 15 mil.
Bem, eu não acertei nada, mas ele também não deve ter conseguido nada forte. Além disso, se ele estivesse com um jogo bom, teria dado reraise pré-flop, pois tinha muita fichas. Pronto, decidi: reraise! Anuncio meu raise, e a dealer, sem querer, abre o turn, sem esperar meu raise. Uns segundos de confusão até que a dealer reembaralhasse as cartas, e eu anuncio meu raise all-in de mais 50 mil fichas. Guilherme pensa um pouco e larga. Pronto, puxei um pote grande blefando com overcards! Decidi mostrar esse blefe para dizer a todos que eu estava disposto a arriscar o torneio inteiro em jogadas como essa. E fui direto para o Twitter, pois agora, pela primeira vez, eu tinha mais de 120 mil fichas.
O torneio estava se encaminhando para um final muito feliz, pois até o momento eu não tinha tomado bad beats e seguia subindo em fichas com certa facilidade. Aí veio o primeiro castigo. Em uma mão que eu tinha TT, subi e fui pago pelo dealer. O flop veio 8-4-2. Dou bet de 23 mil, metade do stack do meu adversário (40 mil). Ele volta all-in. Tenho que pagar e vejo uma trinca de oitos. Meu stack volta para cerca de 70 mil, e estou próximo da média novamente. Tristeza. Isso também foi para o Twitter.
Fiquei um bom tempo nessa situação, mudei de mesa, e a paciência foi recompensada: após roubar alguns blinds para me manter, fui premiado com um AA em UTG. Subi, e o button voltou all-in. Ele tinha AQ, e minhas “bullets” seguraram. Dobrei e fui para 160 mil. Infelizmente, só para perder 40 mil na mão seguinte, quando eu estava no BB, e arrumando as fichas, recebi um all-in de 40 mil com os blinds em 4k-8k. Paguei com 99, e encontrei novamente AQ. Só que dessa vez o ás apareceu. Fiquei com 120 mil.
A mão mais ingrata foi a próxima. Eu, ainda abalado pela perda, vejo o jogador que perdeu contra mim no AA, ir all-in de 54 mil. Fernando Viana anuncia apenas call (ele tinha cerca de 200.000). Olho pras minhas cartas e vejo AK. E agora, o call do Fernando Viana não estava nos planos. Por que ele não isolou? Está fraco ou tem um monstro ali? Resolvo dar fold. O primeiro mostra QJ. Viana tem AJ. Eu tinha largado AK, e já no flop bate um rei... Eu levaria a mão em um pote com mais de 130 mil fichas já no meio. Se eu jogo essa e ganho, chego a 250 mil e viajo... para mesa final!
Depois disso, meu stack diminuiu após umas duas jogadas mal sucedidas. E na bolha da mesa final eu tenho que dar o call pela minha vida no torneio, contra o Kima. Eu estava no BB. Ele, em UTG, sobe para 39 mil (blinds 6k-12k). Volto all-in de 70k com 77. Ele dá call. E o medo...? Dez jogadores apenas. Bolha da mesa final. Meu 77 segura e eu dobro – o Twitter me deu sorte. Quem acompanhou ao longo do dia, viu um torneio em que eu não tinha grandes pretensões, mas bati 160 jogadores para chegar na final. A felicidade era grande, pois uma mesa final do CPH é sempre um prestígio. Para vocês terem uma idéia, desde o meio do ano passado eu não conseguia chegar lá.
Felicidade à parte, Twitter bombando, eu infelizmente não durei muito na mesa final. Quer dizer, joguei por mais de uma hora, dois níveis de blinds, e recebi até KK que infelizmente não foi pago por ninguém. Meu stack já estava em 80 mil quando o Fernando Viana (que viria a ser o campeão do torneio) deu raise que já tinha metade das minhas fichas. Vi JJ e voltei all-in. Fiquei muito feliz ao ver KJ. Três outs para o Fernando, e eu dobraria se nenhum barbudo aparecesse. Bem, dos três reis restantes, dois vieram me visitar neste bordo. Oitavo lugar, cansaço, e o twitter com as informações em primeira mão! Parabéns aos campeões, Fernando Viana, José Carlos Rodrigues e Kima.
No próxima mês estarei lá na World Series Of Poker, twittando todos os meus torneios, e claro, mandando notícias também pelo meu site. Vou jogar o Main Evento da WSOP pelo BestPoker Team, e também outros torneios menores do Venetian e do Caesar’s. Quem quiser acompanhar é só me adicionar. Mande também uma mensagem para trocarmos uma ideia. E, quem sabe, comece você a reproduzir seus jogos também. Lembre-se de que esse aspecto de rede social pode ajudar o poker a se difundir ainda mais pelo país.