Acho que todo mundo já teve essa sensação, mas às vezes sinto que nós, amantes do poker desportivo, ficamos tão imersos em nossas atividades cotidianas que acabamos por esquecer do compromisso que temos para com uma causa maior, a saber: esclarecer à população em geral sobre o que é, e como funciona um torneio de poker. Para nós, que estamos inseridos no meio, é bastante óbvio que o poker é um jogo de habilidade, e que somente através de muita prática e experiência teremos resultados consistentes.
Toda vez que explico detalhadamente a um leigo a dinâmica de um torneio, sinto que é informação o que realmente falta. O conceito da pessoa muda “da água para o vinho” quando ela passa a entender alguns princípios básicos, como “limite de perdas”, por exemplo. O poker desportivo tem muito a crescer no nosso país, e se aqueles que, mesmo não sendo adeptos do nosso esporte, tiverem uma noção real do que é um torneio, ganharemos cada vez mais força e respeito da população.
Exceto algumas “invencionices”, os usos e costumes arraigados de um povo são as principais fontes inspiradoras para a criação de leis. Por este motivo é que devemos, sempre que pudermos, apresentar nosso esporte a novos interessados, pois quanto maior o número de praticantes, mais força teremos para reivindicar nossos direitos.
Para se ter uma idéia de como o tempo muda todas as coisas, diga-se que a capoeira - uma arte genuinamente brasileira, reconhecida no mundo inteiro - era proibida em nosso país até 1930, sendo considerada uma “prática de marginais”. A situação se modificou quando o então presidente Getúlio Vargas assistiu a uma apresentação organizada por “Mestre Bimba”. Vargas ficou tão impressionado com o espetáculo, que retirou a capoeira do código penal e a transformou em esporte nacional.
Ainda sobre o efeito do tempo, basta lembrar que nos anos 70, surfistas e skatistas eram tidos como “desocupados e alienados”. Hoje o cenário está tão diferente, que empresas do porte da Petrobrás apoiam o surfe brasileiro. Quanto ao skate, muitos de vocês sabem que o brasileiro Bob Burnquist é considerado o melhor do mundo na atualidade, sendo patrocinados por algumas da principais marcas esportivas que existem. Além disso, não é difícil encontrar competições de surfe e skate na TV, várias delas sendo transmitidas ao vivo.
Com relação ao futebol, até bem recentemente (nos anos 80), os jogadores eram bastante discriminados - nenhum pai ficava satisfeito ao saber que sua filha estava namorando um “boleiro”. A partir da segunda metade daquela década, quando começou o grande êxodo de jogadores para a Europa, com seus salários milionários, as coisas mudaram. Atualmente, os grandes jogadores profissionais de futebol estão parte de cima da pirâmide social.
Nós que vivemos do poker – incluindo jogadores, organizadores, dealers e outros – não devemos nos envergonhar do que fazemos. Nosso trabalho é tão nobre e “árduo” quanto qualquer outro. Algumas pessoas não fazem idéia do que é trocar o dia pela noite, sem falar nos momentos de convivência que deixamos de usufruir com a família. Mas todo profissional que deseje ser bem sucedido, e ter um bom retorno financeiro e bem estar pessoal precisa se dedicar e se sacrificar.
Para acabar com o preconceito, produtos como revistas, sites, programas de TV, fóruns de discussão, são todas ações importantes, mas nada se compara a uma conversa olho-no-olho, com argumentações e esclarecimentos de maneira didática. Hoje, estamos muito melhor do que três anos atrás, quando começou a febre do poker no Brasil. Mas o caminho ainda é longo e temos muitos obstáculos a superar. Faça sua parte: comece com seus familiares e amigos, e os faça ficar do seu lado. Peça a eles que também esclareçam para as pessoas do seu convívio – é um trabalho de “formiguinha”, mas que nos ajudará bastante a regulamentar definitivamente nosso esporte.
Em minha opinião, devido ao crescimento exponencial do poker no Brasil, a “hora da batalha” está próxima. Portanto, quanto maior o número de pessoas corretamente informadas sobre o que é um torneio de poker, mais rápida será nossa, e também mais fácil, quem sabe.
