Algum tempo atrás, eu escrevi uma coluna em que fiz uma escavação arqueológica, por assim dizer, em minha sabedoria do poker do passado, por assim dizer, e investiguei se aquelas velhas idéias haviam sobrevivido ao teste do tempo. Bem, alguns de vocês pareceram gostar daquela investigação e vieram até mim para dizer isso, e como eu não largo o osso quando se trata de elogios, respondi imediatamente fazendo outra viagem pelos arquivos de meus primeiros escritos sobre poker, por volta de 1988. Vamos voltar ao passado?
Metafísica Desesperada: Às vezes os jogadores de poker têm má sorte. Isso não é novidade, mas a maneira como lidamos com a má sorte distingue os vencedores dos perdedores, no poker e na vida. Em tempos de má sorte, algumas pessoas acham que apenas a utilização de rituais estranhos ou apelos diretos aos deuses do poker vão tirá-los de seu temor e colocá-los de volta na maré da vitória. Isso, meus amigos, é metafísica desesperada, e eu estou aqui para dizer que isso é errado, errado, errado.
E nessa aí, eu estava certo, certo, certo. De lá para cá, aprendi o que todo jogador de poker sólido sabe: quedas acontecem, e se deve dar a volta por cima não através de orações aos deuses do poker, mas por meio da aplicação racional de princípios básicos. Fique mais tight. Diminua a marcha. Desça de nível. Tire uma folga. Renove sua compreensão do poker por meio do estudo. Considerando que a má sorte é uma tempestade (pelo menos em parte) autoprovocada, a maneira de acalmá-la é reduzindo os danos internos.
Relaxe! Por que ficar tenso? Por que ficar irritado? Você está jogando poker, pelo amor de Deus! É claro que parece uma tortura ter de largar 10 mãos em seqüência, mas é uma tortura de verdade? Acalme-se. Dê uma gorjeta à garçonete. Ame a vida um pouco, por que não? Poderia ser pior: você poderia estar trabalhando.
Alguns anos depois de submeter essa observação a publicação, eu me deparei com uma maneira melhor de descrever a mentalidade negativa que alguns de nós se permite desenvolver. Chama-se crise do luxo, e ocorre quando nos sentimos mal em relação a alguma coisa sobre a qual não deveríamos nos sentir mal de modo algum. A meu ver, parece que qualquer um que tenha o privilégio de jogar poker, por diversão ou para se manter, não tem o direito de reclamar de nada, pelo simples fato de que estar na mesa significa fazer parte de um privilégio que 99,9% da população não possui. Mas quer saber? Não importa o quanto eu aconselhe as pessoas a relaxar, elas não parecem escutar. Eu creio que é verdade aquilo que dizem: para um idiota, o mundo inteiro parece escuro.
Não é ruim quando aumentam contra seus blinds. Em uma full table, com uma ação de nove ou 10 jogadores, mesmo que seus blinds não sejam aumentados, você ainda vai perder para a maioria das mãos-lixo depois do flop. Então, ao dar fold diante de um aumento pré-flop, tudo que perdeu foi a chance de ver um — improvável — flop milagroso ou a chance de acertar um flop tentador meio-miraculoso que apenas lhe arrastaria para o perigo. Quando eles aumentam seus blinds, estão na verdade lhe fazendo um favor. Ah, e se certifique de pegar de volta esse favor.
Eu não acho que tenha percebido quão valioso foi esse conselho à época. A posição é tão poderosa no hold’em que quase não há bons argumentos que justifiquem o envolvimento em uma mão quando você não possui uma vantagem. (a necessidade de entrar na ação é um argumento — mas não é dos melhores). E lembre que a vantagem da posição não vem apenas de falar por último, mas de ter o controle da mão e, especialmente, de ganhar potes por meio de blefes e steals. É muito difícil blefar quando se está fora de posição ou mesmo encontrar uma linha de jogo eficiente. Por que se envolver com essa desvantagem? A não ser que você tenha cartas ou leituras muito fortes, apenas entregue seus blinds e siga em frente.
Não olhe para o flop! É claro que você quer ver se o flop lhe ajuda. Todo mundo quer. Portanto, observe os outros jogadores em vez disso. Você irá aprender muito com as reações deles, ou no mínimo não dar nenhuma dica por meio de sua própria reação. Em outras palavras, estude seus oponentes antes de estudar as cartas. Aquele flop não vai sair dali, mas informações fundamentais (reações e tells) são passageiras. Jamais olhe um flop sendo colocado na mesa novamente.
Foi preciso muito tempo para que eu me treinasse a ponto de não olhar para o flop e, para dizer a verdade, não tenho certeza se isso me beneficiou muito. Hoje em dia, quase ninguém contra quem eu jogo é bom o suficiente em ocultar suas reações e dão informações pouco úteis em termos de reações e dicas. Ainda assim, eu continuo a me impressionar com a fixação da maioria dos jogadores com o flop. Eles literalmente não conseguem tirar seus olhos dele. Portanto, arquive essa informação na pasta “boa higiene de cartas”. É senso comum observar os jogadores em vez do flop. Você provavelmente não aprenderá nada, mas definitivamente não dará nenhuma informação. Como bônus, o tempo que você leva para absorver a informação do flop irá diminuir o ritmo e lhe dará mais tempo para chegar à conclusão correta sobre como proceder.
Visão geral: Assim que você se senta para jogar, suas cartas não importam. Na verdade, elas lhe farão um grande favor se não forem muito boas, pois você não estará preparado para competir de início — não até que tenha a oportunidade de analisar os estilos de seus jogadores. Tenha uma visão geral e não se apresse. Lembre-se de que sua meta não é ganhar essa ou aquela mão, mas vencer o jogo e conseguir dinheiro. Para tal, a primeira coisa de que precisa é informação, e você pode consegui-la jogando mãos ou não.
Quando eu comecei a pensar em visão geral, eu pensava nos 20 minutos ou meia hora que eu levaria para descobrir as fraquezas e forças de meus adversários. Depois de 20 anos escrevendo sobre poker e apenas vivendo a vida, eu hoje encaro “a visão geral” em um sentido bem mais amplo, e uso isso para me impedir de enlouquecer diante de bad beats e pequenas quedas. Atualmente, eu invoco a Regra dos 20 Anos: “Se isso não vai importar daqui a 20 anos, não importa agora”. Contudo, ainda é uma boa idéia respirar fundo em um jogo de poker. Informação é poder, e quanto mais você a adquire antes de ir à guerra, melhores serão seus resultados. ♠
John Vorhaus é autor da série de livros Killer Poker e do novo romance de poker Under the Gun, disponível nas livrarias. Ele mora no cyberespaço em vorza.com,e blogueia para o mundo de somnifer.typepad.com. Foto de John Vorhaus: Gerard Brewer.
