Eu já escrevi longas colunas neste espaço sobre minha excessiva filosofia de torneios de poker, mas, na verdade, posso resumi-la em uma frase: Acumule o máximo de fichas que puder, com a maior freqüência que puder, da maneira que puder. Você concorda ou discorda? Talvez tenha dúvidas. Se for o caso, eu lhe pergunto: se um oponente for all-in na primeira mão do torneio e mostrar A-K, você pagaria com par de damas (presumindo que todo mundo deu fold)? Esse é o teste padrão para avaliar a filosofia de torneio de um jogador. Minha opinião é que você deve pagar com as damas, e que isso não é particularmente conservador. Eu escrevi uma coluna sobre isso (“To Flip or Not to Flip”; Vol. 18/No. 22).
Minha justificação do pagamento é essencialmente que, se você tem 57% de chances de ganhar, quando você precisa de apenas 50% para obter lucro, sua vantagem é muito grande para deixar passar. Assim como a maioria de minhas justificações, essa se baseia em números, e é considerada bastante convincente por muitos. Mas alguns jogadores, particularmente os que se baseiam na intuição, os que se preocupam em demasia em serem premiados e os que têm aversão a matemática, rejeitam-na. Eu gostaria de me dirigir, nesta coluna, aos meus leitores que ainda não estão convencidos. Tentarei explicar minha filosofia de torneios utilizando exemplos não relacionados ao poker. Números ainda vão aparecer, mas você não precisará se confiar apenas neles para compreender meu argumento, pois mostrarei também outras evidências. Aqui vamos nós.
Primeiro, leve em conta um apostador de esportes profissional. Ele ganha a vida colocando obstáculos nos jogos, buscando ineficiências nas linhas e sustentando suas opiniões com dinheiro. Ele está em uma posição difícil, pois em geral precisa ganhar mais de 52,4% de suas apostas apenas para pagar a taxa cobrada pela casa. Mas, se ele for bom, apostará sempre que achar que tem uma vantagem, e sua taxa de vitória ficará entre 55% e 60% (apostadores de esportes que alegam ter maiores lucros no longo prazo estão quase com certeza mentindo ou errando por utilizar pequenas amostras em seus cálculos), e terá uma vida confortável. Agora imagine se você disser a esse sujeito que ele deve apostar apenas quando tiver mais de 57% de chances de vencer. Ele quase não terá mais em que apostar, e precisará começar a procurar um trabalho de verdade. As poucas apostas que ele encontrar, fortes o suficiente para se enquadrar ao critério de 57%, não serão o bastante para ele se sustentar. A analogia com os torneios de poker é que, se você esperar muito tempo pelas oportunidades perfeitas, não será capaz de acumular fichas suficientes para ter chances reais de vencer — e vencendo é que se ganha dinheiro.
E um jogador de blackjack? Se você leu o livro Bringing Down the House (ou, Deus proteja, viu o filme 21 – Quebrando a Banca), conhece a história de alguns estudantes do Instituto de Tecnologia de Massachusetts que ficaram ricos ganhando no blackjack. Que tipo de vantagem eles tinham? O jogador de blackjack jamais tem uma vantagem de mais de alguns pontos percentuais sobre a casa, não importa quão bem ele conte as cartas ou sinalize para seus companheiros. Mesmo assim, jogadores de blackjack podem ganhar enormes somas de dinheiro fazendo grandes apostas com as menores vantagens apenas. É claro que, dessa maneira, às vezes eles sofrem grandes perdas, mas, no longo prazo, eles se reerguem. Forçar uma pequena vantagem em blackjack é uma tática tão temida pela casa que as pessoas são banidas dos cassinos se sequer tentarem executá-la. Se todo jogador de blackjack decidisse não jogar porque 51% de chances de vencer é muito pouco, os cassinos não precisariam de oitenta e seis contadores de cartas. Nós ganhamos dinheiro nos jogos apostando com uma vantagem — ponto final. É tentador pensar que o poker é uma exceção à regra dos jogos de aposta, em que você pode obter uma vantagem muito maior do que um jogador de blackjack ou um apostador de esportes, então uma nova abordagem é necessária. A não ser que você já tenha ganhado muitos torneios de poker usando a estratégia de “esperar por uma grande vantagem”, eu sugiro que você se rebaixe ao nível do milionário de blackjack e comece a ganhar dinheiro do mesmo modo que o restante do mundo dos apostadores. O caminho para se ganhar dinheiro vai incluir o sofrimento de várias perdas à medida que você avança, mas o resultado no longo prazo é o que importa.
Pequenas vantagens se acumulam depressa. Gigantes dos jogos como o Harrah’s construíram um império com base nisso. Seria ótimo se todos nós pudéssemos simplesmente esperar por A-A para enfrentar K-K de outro cara. O problema é que pode muito bem ser que sejamos nós segurando os reis contra os ases do outro cara. Essa é outra coisa importante a favor do acúmulo de fichas explorando pequenas vantagens — torna-se muito mais fácil sobreviver depois que você se depara com uma grande mão ou sofre uma bad beat.
Em resumo, minha filosofia de poker de torneios é que, se você pode fazer um investimento certo — um investimento similar a muitos dos que se mostraram bem-sucedidos em todas as esferas do mundo dos jogos de apostas —, não há por que não fazer tal investimento. Se alguém lhe dissesse que você pode legalmente contar as cartas em blackjack e legalmente variar o tamanho de sua aposta a seu bel prazer, você aprenderia a fazer essas coisas e ficaria rico. Se alguém lhe dissesse que tem um sistema seguro para conseguir 57 vitórias durante as próximas 10 temporadas de baseball, você utilizaria esse sistema e ficaria rico. E se alguém lhe mostrasse A-K depois de ter ido de all-in, você deveria pagar com suas duas damas e aproveitar as chances em seu favor. ♠
Matt Matros é autor de The Making of a Poker Player, disponível online em www.CardPlayer.com. Ele é também um treinador para o www.stoxpoker.com