EDIÇÃO 15 » COLUNA INTERNACIONAL

A Insanidade Prevalece… ou Não!

O Main Event da WSOP


Gus Hansen

Algumas pessoas vão para Barbados e algumas para Fiji, enquanto outras vão para sua cidade natal Copenhagen para ficar com a família e velhos amigos.

Mas eu ainda tenho algum tempo para poker na Internet — muito tempo!

Eu certamente tenho sido um dos jogadores mais ativos no Full Tilt, jogando pot-limit Omaha, H.O.R.S.E. e Omaha eight-or-better, que é uma modalidade divertida e bastante complexo, e meus resultados até agora têm sido bastante promissores.

O Main Event Assombrado
Eu tenho refletido sobre o que aconteceu no Evento Principal da World Series of Poker e ainda não acredito no nível de insanidade. Permita-me explicar mostrando uma mão do Main Event, no Dia 6: éramos apenas 21 jogadores, a contagem média de fichas era de cerca de 6,5 milhões, e um lugar na mesa final valia quase $1 milhão, com mais de $9 milhões para o primeiro colocado.

Histórico da Mão

Kelly Kim abriu raise de 275.000, Brandon Cantu reaumentou para 950.000, e Dean Hamrick foi all-in com cerca de 2,5 milhões no total. Kim descartou sua mão, e foi a vez de Cantu refletir. Ele pensou bem durante cinco minutos antes de dizer: “Eu pago”.

Cantu: 10 5
Hamrick: A A

Houve uma descrença generalizada da multidão quando Cantu revelou sua mão.

O flop veio 8 7 5, e Cantu conseguiu um par de cincos. O turn foi o 8, que era uma carta ruim para Cantu, pois Hamrick tinha dois pares maiores, incluindo ases. Cantu andava para longe e voltava à mesa, parecendo resignado com seu destino enquanto sua trupe pedia um 5. Porém o river foi o 10, e Cantu tinha melhorado sua mão, mas isso não o tinha ajudado, pois os ases e oitos de Hamrick foram melhores e ele levou o enorme pote.

Cantu ficou com apenas 2,4 milhões depois da mão, enquanto Hamrick subiu para 5,5 milhões. Cantu era agora o detentor do menor estoque do torneio.

Minha Análise
Então, o que aconteceu aqui? Cantu pagou mais de 1,5 milhões com 10 5? Vamos analisar a matemática. Ele precisa pagar 1,55 milhões a mais para ganhar 3,95 milhões: devia ter 28,2% de chances de vencer. Dean Hamrick poderia ter A-K do mesmo naipe? Acho que sim. Era mais provável que ele tivesse um overpair? Poderia ser. Isso justificaria matematicamente o call de Cantu? Dificilmente. Ele tem 13% de chances contra overpairs (sem mencionar 6% de chances contra 10-10), e cerca de 31% de chances contra A-K do mesmo naipe.

Estrategicamente, a decisão faz ainda menos sentido. Eu não me importo muito com Cantu reforçando o aumento original de Kim (embora, se você for um jogador do calibre de Cantu, deve pelo menos escolher uma mão medíocre em vez de lixo absoluto para fazer isso), pois eu ouvi que Cantu estava jogando muito intuitivamente e era muito provável que ele estivesse sentindo fraqueza da parte de Kim.

Mas vamos insistir um pouco nessa fraqueza. Se ele realmente tivesse uma dica em relação a Kim, por que não aumentar apenas para 750.000 e deixar uma saída para ele caso alguém voltasse a casa? Nesse mesmo cenário, ele precisaria de 31,8% de chances de ganhar, o que torna correto desistir mesmo contra duas overcards.

Voltemos à situação real: dessa vez ele é pego, não pela pessoa supostamente fraca em face da qual ele reaumentou, mas por um cara depois dele. Recorde — se Cantu desistir, ele ainda tem cerca de 4 milhões. Os blinds são de 50.000-100.000 com um ante de 10.000, o que dá a ele um M (tamanho do estoque dividido pelo total de blinds e antes por rodada) de mais de 16. O que Cantu ganha arriscando nessa situação? Ele não possui justificativa matemática nem estratégica. Ainda assim, ele pagou. Por quê?

Conclusão
A resposta honesta é — eu não faço idéia! Essa coluna não tem o objetivo de apontar o dedo para Cantu (o cara é um campeão do WPT, e muito perigoso e pouco ortodoxo na mesa), mas a mão exemplifica algumas das jogadas que testemunhamos durante o Main Event desse ano. Esse não foi um caso isolado. Um número crescente de jogadores está fazendo jogadas e truques impossíveis de se categorizar. Esqueça “agressivo” e esqueça “superagressivo.” Tente “insanidade”.

O mais interessante é: como combater esses jogadores? Dean Hamrick teve uma jogada fácil, mas o que você faz quando um desses caras re-reaumenta all-in pré-flop, ou, como fez Cantu mais cedo no Evento Principal, empurra todo seu estoque em um bordo contendo Q 10 10 2 tendo mais fichas que você? Você paga sem um full house ou pelo menos um 10 na sua mão?

A resposta é simples: decida no começo da mão! Diga a si mesmo: “Contra esse cara, aconteça o que acontecer, eu não vou sair dessa mão”. Não tente analisar sua maneira de tomar “a decisão correta”, porque, na maioria das vezes, não há lógica aparente para ser encontrada.

Seja lá o que você acabe fazendo e seja lá qual for o resultado, não há dúvidas de que as “jogadas insanas” deram um valor adicional de entretenimento ao jogo. Apostas ousadas serão divertidas de se ver!




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