EDIÇÃO 12 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Softwares de Poker

A Reinvenção do Jogo


Vicenzo Camilotti

Nesta edição iniciarei uma série de artigos sobre uma ferramenta extremamente importante no poker online: os softwares de análise de dados . Desde o primeiro momento em que levei o jogo mais a sério, me interessei imensamente por eles. Isso tem influência direta do xadrez e do gamão, que eu praticava antes de ser arrastado pela “onda Moneymaker – Televisão” em 2003; e também graças ao meu amigo Albert Silver, especialista e desenvolvedor de softwares de xadrez e gamão, que abriu meus olhos há tempos, e a quem agradeço por me dar condições de escrever esta série.

Dentre outras funções, os softwares de xadrez e gamão são “oráculos” que consultamos para saber se nossa jogada foi boa ou ruim. Digo isso porque esses programas jogam muito melhor do que qualquer profissional por aí (Kasparov não está incluído, pois em 1997 ele perdeu para o “deep blue” de propósito, descaradamente, por motivo$ que o público do poker nem está muito interessado em ouvir).

A diferença é que, no feltro, o espaço para o subjetivismo é bem maior. Por isso mesmo, acho fundamental estar muito bem armado com esses programas. Eles são a única parte matemática e sólida em um mar de subjetividade, egocentricidade e polêmica que envolve o poker. Para exemplificar, suponhamos que um determinado jogador ache que sabe jogar muito bem – costumo dizer que 90% acham que jogam bem, e 9% têm certeza – e resolve contratar um técnico, ou coach (essa atitude é fervorosamente aconselhada por Alan Schoonmaker em seu mais recente livro, Your Best Poker Friend, no qual ele dedica um capítulo inteiro a esse tema). Qual a primeira informação que o treinador vai pedir ao seu discípulo? Números concretos. Leia-se: banco de dados de mãos jogadas online para colocá-las no poker office, tracker, holdem manager etc, e analisar detalhadamente seus números, pois somente os softwares podem dizer com precisão, estatisticamente, como você joga. E não pára por aí: indicam como jogam seus oponentes na mesa (vide meu artigo para a edição n. 7 da CardPlayer Brasil), ensinam probabilidades (vide poker stove), fazem cálculos bastante complexos de equidade no call e no all-in (sngegt , heads-up trainer e sng quiz ). E muito está por vir e a melhorar.

Se você não está convencido da importância dos softwares, pare de ler este artigo agora. Do contrário, se for um jogador sintonizado com as novas e importantes tendências do poker online, esta série é para você.

SNGEGT
Vou começar falando do sngegt (www.sngegt.com), um programa fantástico – e gratuito – que informa quando se deve dar um all-in (push) ou pagar um all-in.  É possível simular uma infinidade de situações e ver matematicamente se uma jogada tem a expectativa positiva ou não.

É um software que permite uma flexibilidade imensa nas simulações. Você pode inserir de 2 a 10 jogadores, informar quais as suas cartas, o numero de fichas de qualquer jogador, a posição, e ainda estipular qual a gama de mãos (range) com que cada oponente pagará o seu eventual all-in. Nesse mesmo sentido, temos também o “stngo power tools” e o “sitngo wizard”, que possuem muito mais recursos, mas são pagos – para quem se dedica exclusivamente a sit-and-go, o preço vale o beneficio adicional.

Entretanto, as possibilidades do software escolhido para esta análise já são mais do que suficientes para preencher o espaço inteiro da matéria e ainda ter a sensação de que há mais para falar. Mas vamos simplificar com exemplos práticos. Comecemos com algo bem básico, para que todos possam entender o funcionamento do programa.

Como se pode ver, esta situação envolve quatro jogadores, e você está dando all-in com 9-3 off. Perceba que, mesmo com uma mão lixo, sua expectativa sobre o total da premiação (EV) aumenta de 31,1% para 32,1% – diferença de 1% no EV. Coloquei 3% de chance de o SB e o BB darem call com JJ+ e AKo, uma hipótese bem realista, considerando que falta apenas um jogador ser eliminado para se entrar na zona de premiação, e que temos um blinded out que deu fold e irá pingar grande na próxima mão.

Todas as variáveis são passíveis de modificação. Atente para as opções que aparecem na tela de players, hand, blinds, stack e position. Para determinar a posição de cada um, quem vai mandar all-in ou não etc, basta clicar no BTN, como no caso acima. 

E como fazer para saber com quais as mãos o programa “autoriza” o push? Basta clicar no botão “compute all”, e as que estiverem em verde indicam que o sngegt as considera aptas para o all-in, ou seja, têm +EV (nesse caso específico, ele considera todas as mãos corretas para o push). Aqui vai uma dica: ficar “brincando” de modificar as pilhas de fichas, os pingos, gama de mãos, posições e número de jogadores também é muito importante para o estudo.

Exemplificando, vamos modificar o range dos dois adversários de 3% para 7%. Note que decai consideravelmente o grupamento de cartas cuja expectativa em caso de all-in é tida como positiva, visto que nesta situação os dois adversários pagariam com qualquer par acima de 88, bem como ATs+.

Agora, faremos uma “sutil” modificação nos pingos, passando para 100/200 com antes de 25. Veja o que o acontece. (vide diagrama 2)

Temos agora uma situaçao-limite, na qual o push com 93 off é EV positivo em 0,2%. A partir de pingos 100/200 sem ante para baixo o EV se torna negativo, indicando que há pouco a ganhar em caso de roubo dos pingos e muito a perder se alguém resolver confrontar sua mão lixo.

Isso tudo se refere a dar um all-in. Façamos então um breve estudo sobre pagar um all-in. Para utilizar este recurso, em vez de ativar a opção “push”, basta clicar em “call”. Quanto às opções de pilhas, pingos, números de jogadores e range, nada muda. A única diferença é que será necessário selecionar um jogador para ser o executor do o all-in e definir seu push range logo ao lado.

Com isso, caso você seja o BB com 3900 fichas, e o pingo esteja em 200/400/ante 25 e venha um all in do BTN (que tem fichas para lhe eliminar), com range de 50% das mãos (isso mesmo, metade do baralho), segundo o software, só é correto pagar com par de valete ou melhor, excluíndo até mesmo o AK. Parece estranho, mas tudo se baseia em cálculos matemáticos absolutamente precisos.

As razões para que isso aconteça serão discutidas na próxima edição, na qual falarei com mais detalhes sobre o “SNG Quiz” e o “Heads-Up Trainer”, dois softwares da mesma família do SNGEGT. Até lá!




NESTA EDIÇÃO



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