Quais são as principais motivações que o levam a jogar poker? Dinheiro, fama, a disputa em si ou apenas passar o tempo? No meu caso em particular, depois de quase três anos militando no meio, tenho certeza de que a minha maior motivação são os troféus, medalhas e rankings. Sinto uma tremenda satisfação quando vejo na sala de minha casa alguns troféus e medalhas que ganhei. Eles são eternos, enquanto os prêmios, por maiores que sejam, se vão sem a gente perceber. É obvio que um dinheirinho extra não faz mal a ninguém, mas eu não jogo pensando no prêmio: jogo pelo troféu, o prêmio é uma conseqüência.
Como sempre pratiquei esportes de competição (fui atleta profissional de futsal até os 33 anos), foi fácil perceber quais seriam minhas motivações ao jogar poker. Muitas vezes, às vésperas de uma partida importante, eu não conseguia dormir – ficava tentando imaginar como seria o jogo e planejava algumas coisas na minha cabeça. Antes do início das partidas dava um friozinho na barriga, quem quer que fosse o adversário. Os torneios me possibilitaram reviver essas sensações na mesma intensidade, por isso sou tão apaixonado por esse esporte e me dedico tanto a ele.
Também valorizo muito o lado social do poker. Regularmente, na casa de meus pais, fazemos um jogo em família que às vezes chega a ter 15 pessoas. O buy-in é simbólico, 5 ou 10 reais, mas a satisfação de vencer a disputa é a mesma. Eu esqueço que estou numa brincadeira puramente social e meu coração dispara quando recebo AA ou KK – da mesma forma, fico tiltado quando tomo uma bad beat. Porém, o mais importante é ter três gerações da minha família sentadas ao redor de uma mesa, divertindo-se por horas seguidas.
Outro fator que me encanta é a diversidade de pessoas que o praticam. Existe algum outro esporte tão democrático a ponto de permitir que um senhor de 80 anos enfrente um garoto de 20? Ou que um homem e uma mulher disputem as glórias em total igualdade de condições? Acredito que não.
E você, tem certeza dos seus objetivos no poker? Ter consciência dos seus anseios ao se sentar numa mesa ou ligar o computador é de suma importância para a definição do “quê”, “como” e “onde” jogar.
Para as pessoas que encaram o feltro apenas como passatempo, meu conselho é que procurem torneios “baratos”. Claro que esse conceito varia de pessoa para pessoa, mas o que quero dizer é que o ideal é buscar jogos nos quais, em caso de perdas, elas não causem estragos nas suas finanças. Desta forma você não jogará pressionado pelo valor das apostas e ainda poderá dar uma “forradinha”. Que outra opção de lazer lhe dá a oportunidade de se divertir muito e ainda ganhar uma graninha?
Se você é uma daquelas pessoas cuja única ambição no poker é ganhar dinheiro, sugiro que se especialize – com absoluto cuidado e planejamento – em cash games, pois são bem mais rentáveis. Lembrando que os praticantes dessa modalidade precisam de muito preparo psicológico para enfrentar as bad beats e as bad runs (períodos em que tudo dá errado, e que alguns chamam de azar), levando em conta isso afeta diretamente o bolso. Além disso, o bankroll deve ser adequado ao valor da mesa que você irá jogar (não adianta você ter 200 reais e entrar numa mesa com pingos de $5-$10). A título de estratégia de jogo, pode-se entrar numa mesa de cash com poucas fichas, sendo preciso ter uma boa reserva guardada, pois colocar na mesa de cash todo dinheiro que se tem, é prejuízo na certa. A pressão de não “poder perder” atrapalha o desempenho de qualquer jogador.
Agora se você, assim como eu, realmente considera o poker um esporte, e busca simplesmente troféus e o reconhecimento como bom jogador, dispute torneios. Neles, as perdas financeiras são limitadas e os prêmios geralmente são bons. A sensação de alcançar uma mesa final é indescritível, e a de vencer, então, é mágica – mas muitas vezes os torneios são ingratos. Aquela bad beat na bolha ou numa faixa de premiação inexpressiva pode fazer com que o desânimo tome conta: não deixe isso acontecer, porque um triunfo futuro compensará as frustrações anteriores.
Outro fator que me atrai para os torneios é o fato de que o jogador deve se adaptar às suas diversas fases e situações, analisando as inúmeras variáveis que se apresentam durante a disputa, como stacks, blinds, adversário agressivo ou tight, etc.
Alguém pode achar que é demagogia, mas os que me conhecem mais profundamente sabem que é desta forma que penso. Não recrimino quem joga somente pelo dinheiro, apenas enxergo o poker de uma forma diferente. Eu já passei por momentos nos quais tive dúvidas sobre meus reais objetivos no feltro. Momentos nos quais eu transitava entre cashes e torneios sem o menor planejamento, e também com muito pouco prazer no que fazia.
Minha intenção neste artigo é apenas sugerir àqueles que ainda não têm definido os seus reais anseios, que reflitam bastante sobre o assunto, e assim possam desfrutar ainda mais e melhor o nosso esporte.
CURITIBANO ALEXANDRE FAZ HISTÓRIA EM VEGAS
Finalizei este artigo algumas horas depois de Alexandre Gomes, nosso “allingomes”, realizar o maior feito da história do poker nacional ao conquistar o tão cobiçado Bracelete da WSOP, no evento #48.
Para ilustrar um pouco mais o texto acima, diga-se que o Bracelete (com letra maiúscula mesmo) será idolatrado – muito mais do que pelo prêmio em dinheiro – pelo fato de ele simbolizar toda a dedicação e competência de Alexandre, que será lembrado muito mais como “o cara que ganhou o bracelete”, do que como “o cara que forrou em Vegas”.
Prometo aos leitores muitas informações para a próxima edição.
Parabéns Alexandre, você é um monstro!
