EDIÇÃO 12 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Dando Raise antes do Flop


Hugo Mora

Muitos jogadores iniciantes de no-limit hold’em dão raise pré-flop apenas quando têm boas cartas ou estão em posição para roubar os blinds. Porém, existem vários outras circunstâncias em que se deve fazer isso. O livro No Limit Hold’em – Theory and Practice (que estou traduzindo para a Raise Editora) há um capítulo específico, muito interessante, sobre o assunto. Neste artigo, vou apresentar uma síntese deste conteúdo, apresentando as principais idéias colocadas pelos autores David Sklansky e Ed Miller. De acordo com eles, existem pelo menos seis motivos principais para se dar um raise antes do flop. A saber:

- Pelo valor das cartas
- Para se isolar contra menos adversários
- Para roubar os blinds
- Como um semi-blefe
- Para iludir os adversários
- Para manipular o tamanho do pote

Pelo valor das cartas
Este é o motivo mais direto para se dar um raise. Você tem uma mão boa, com grandes chances de vencer um showdown e a idéia é levar o pote imediatamente ou fazer com que os adversários arrisquem mais fichas. Quanto menor for seu stack, mais importante se torna aumentar pelo valor. Ou seja, quanto maior percentual de seu stack (ou do oponente, caso ele tenha menos fichas) o raise pré-flop constituir, mais força em geral será necessária na mão para se dar o raise.

Para se isolar contra um adversário
Muitas vezes você tem uma mão razoável, com possibilidades de conseguir um jogo forte, ou até mesmo uma mão relativamente forte, mas em ambos os casos não gostaria de enfrentar muitos adversários, pois sabe que desta maneira levará a pior ao longo do tempo.  Quando você der um raise antes do flop para tentar se isolar e tomar um reraise, geralmente será preciso largar, perdendo toda sua equidade no pote. Trata-se de uma jogada arriscada em no-limit e, quando comparada com a mesma situação em limit hold’em, vê-se que não é tão lucrativa. A melhor circunstância é quando um jogador fraco com um stack alto entra no pote antes de você. Neste caso, isolar-se com ele na mão poderá lhe render um bom pote. Na média, você ganhará muito mais ao jogar um pote maior em heads-up contra um jogador medíocre, do que ao jogar um pote sem raises contra três ou quatro oponentes, alguns bons e outros ruins.
 
Para roubar os blinds
Do mesmo modo que dar raise para se isolar contra um adversário, aumentar para roubar os blinds tem menos valor em no-limit do que em limit hold’em (no que se refere a jogos em que os stacks são muito maiores do que os blinds). Dois são os motivos para esta afirmação: o primeiro é que as odds imediatas não são tão atrativas em no-limit quanto o são no limit, então os jogadores nos blinds teriam que correr com uma freqüência bem maior para mostrar o mesmo lucro, pois, na maioria das vezes, o raise em no-limit terá que ser bem maior do que em limit, para se conseguir o mesmo resultado. O segundo motivo é que, caso você seja um jogador melhor do que o adversário, é possível ganhar mais ao permitir que ele veja o flop e cometa grandes erros pós-flop, em vez de afugentá-lo da mão imediatamente.

Como um semi-blefe
Ainda que um raise para roubar os blinds seja, tecnicamente, um tipo de semi-blefe, neste caso os autores classificam o “raise como semi-blefe” quando pelo menos um jogador já tenha entrado no pote. Existe uma matemática bem simples por trás desta jogada: você arrisca o valor do seu raise. A idéia é levar o pote imediatamente, mas, se o adversário apenas pagar (ao invés de dar um reraise), ele lhe dá a chance de conseguir um ótimo flop. Em geral, ao dar um raise deste tipo, deve-se fazê-lo com as melhores mãos com as quais você normalmente não teria entrado no pote.
 
Para iludir os adversários
Em no-limit hold’em, particularmente quando jogado com stacks altos, um raise pré-flop para tentar enganar o adversário pode ser o princípio de uma mão na qual você leva todo o stack do oponente. Seu raise muitas vezes fará com que ele descarte jogos fracos de sua possível gama de mãos e, caso o bordo lhe ajude e o adversário acerte algo razoável, é possível ganhar um bom pote. Digamos que você receba 7§5ª e o adversário tenha A©6©, com as seguintes cartas no bordo: Aª6§4©3¨. Seu raise pré-flop poderá levar o adversário a acreditar que sua mão seja algo do tipo AK ou AQ (par de ases com kicker alto), mas dificilmente ele colocará você no straight.
 
Para manipular o tamanho do pote
Quando um pote aumenta de tamanho antes do flop, as apostas pós-flop também aumentam, pois na maioria das vezes elas são baseadas no tamanho do pote. Assim, se os blinds estão muito pequenos e você tem uma mão forte, o raise pré-flop fará com que as apostas pós-flop tornem o pote final mais atrativo. Outra idéia interessante colocada pelos autores é a de que quando você for o melhor jogador da mesa e os blinds forem muito baratos em relação aos stacks, não é uma má estratégia aumentar muitos potes, pois você ganhará potes maiores quando conseguir acertar o bordo e dará ao adversário a chance de cometer grandes erros pós-flop. Além do mais, você saberá correr quando precisar.
 
É isso aí, galera! Esta é apenas uma pequena prévia de uma obra de leitura obrigatória para todos aqueles que queiram aprofundar seus estudos em no-limit hold’em. Estou terminando a tradução, e em breve o livro estará à venda pela Raise Editora. Espero que gostem.
 
Aproveito para parabenizar o primeiro brasileiro a conseguir um bracelete em um evento da WSOP: Alexandre Gomes, grande jogador e excelente pessoa, faturou um evento com buy-in de $2K e field de mais de dois mil jogadores. Ele já vinha destruindo no poker online há algum tempo, e agora conseguiu esse feito inédito para o poker brasileiro. O poker em nosso país já se tornou uma realidade, e hoje é fato que temos jogadores de alto nível, capazes de enfrentar de igual para igual os melhores do mundo.
 No mais, gerais... Abraços a todos e até a próxima!




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