EDIÇÃO 11 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Na Bolha de um Satélite

Vale a pena pagar um all-in com KK?


Hugo Mora

Estava eu outro dia jogando um satélite de $11+R em um dos grandes torneios semanais online, quando faltavam dois jogadores para cair. O satélite oferecia doze vagas e restavam no momento quatorze jogadores.

Havia sete na minha mesa e eu era o segundo a falar. Estava com 36K fichas (a média era de aproximadamente 30K), em situação confortável, e com uma mão mediana dei fold após o UTG também ter corrido. Ou seja, me tornei apenas um observador naquela mão. A mesa rodou em fold até o jogador no button, o chip leader do satélite com 61K fichas. Naquele instante, os blinds eram de 1K/2K e quatro jogadores tinham menos de 20K fichas no torneio. Ele empurra all-in para cima dos blinds.

O jogador no small blind foge e o jogador no big blind, o terceiro em fichas com 39K, dá insta-call com KK. Será que vale a pena pagar o all-in estando nessa situação? Eu acredito que não. Mesmo com um jogo tão forte como par de reis? Bem, eu daria fold. Para quê arriscar sua vaga, que está praticamente garantida? Com doze sendo oferecidas, e com o jogador que deu este call estando à frente de onze dos quatorze jogadores restantes, e alguns já ficando desesperados, com menos de dez big blinds de stack.
Realmente um par de reis é muito bonito. Receber um jogo com tamanha força em uma mesa de poker é sempre uma agradável surpresa, mas há momentos em que é preciso saber largar, mesmo sendo uma mão tão forte.

Na rodada em questão, o jogador que deu o all-in mostrou AQ, também forte, principalmente em uma mesa com apenas sete jogadores. As probabilidades naquele momento diziam que o jogador com o par de reis perderia em aproximadamente 32% das vezes. Suas odds eram de 2-para-1 a favor. Qualquer Ax teria uma probabilidade de levar a mão contra o par de reis, próxima a 30%. E neste caso o flop foi cruel com o par de reis, trazendo AQ7, dando dois pares para o chip leader do torneio. Nada no turn nem no river acabou eliminando o jogador com King Kong.

Normalmente, em um torneio de no-limit hold’em, qualquer jogador estará mais do que disposto a pagar um all-in pré-flop com um par de reis, mas quando se está praticamente na bolha de um satélite, dependendo da sua situação de fichas e também da do oponente, o risco-benefício não compensa.

Naquela mão, qual seria a chance aproximada de quem pagou o all-in conseguir a vaga, caso não tivesse se envolvido na ação? Se todos os jogadores ainda vivos no satélite tivessem os mesmos stacks, seria de aproximadamente 85% [Chance = (100% / 14) x 12]. Mesmo que o adversário tenha um par menor, ele ainda teria aproximadamente 20% de chance de levar a mão, fazendo com que o call seja perdedor no longo prazo (em relação à chance de conseguir a vaga).

Mas este jogador tem 39K fichas, 9K acima da média, além de existirem alguns adversários com relativamente poucas fichas. Então suas chances são ainda maiores do que 85%. E se ele for mais habilidoso do que a média, as chances aumentam mais ainda. Ou seja, arriscar tomar uma bad beat numa situação dessas não vale a pena. É simplesmente desnecessário.

Cada situação em uma mesa de poker deve ser bem analisada antes de se tomar uma decisão. Neste caso, não era tão difícil chegar à conclusão de que o fold seria a melhor jogada, mesmo com um forte jogo pré-flop como o par de barbudos. O insta-call mostrou claramente uma decisão baseada apenas nas cartas, sem levar em consideração vários outros aspectos do jogo. Em minha opinião, foi uma péssima jogada.

Mudando de assunto, deixo aqui meus parabéns para o Thiago “TheDecano”, que conseguiu uma fenomenal terceira colocação no WPT de Barcelona. Já tive o prazer de jogar um torneio ao lado desta grande fera, que no ano passado detonou no poker online, liderando por vários meses o ranking da rede Ongame. Parabéns, Thiago, e que você continue jogando com muito sucesso!




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