EDIÇÃO 10 » COLUNA NACIONAL

Check-raise

Quando usar essa arma?


Raul Oliveira

Para mim, uma das jogadas mais difíceis de se determinar o momento certo de executar é o check-raise. Eu mesmo, durante muito tempo como jogador de limit, utilizei-a inúmeras vezes, até que, certo dia, perguntei-me se o que estava fazendo aumentava meus lucros ou apenas embelezava minha jogada. Para ser sincero, até hoje tenho dúvidas.

Sei que a modalidade no-limit hold’em tomou conta do planeta, mas como jogador de limit game, vou basear meu artigo nessa modalidade, também tecendo comentários sobre o move em NL. Antes de falar sobre a jogada, gostaria de ressaltar sua dificuldade, salientando sua ligação a dois pontos cruciais, o bordo e o adversário: venho insistindo em falar sobre esse segundo fator por acreditar que, para nos tornarmos grandes jogadores de hold’em, esta seja a variável mais importante a ser dominada.

Assim, levando em conta que tanto o bordo quanto o adversário possuem inúmeras possibilidades de combinação, fica fácil entender por que essa é jogada tão complexa. Para exemplificar, vamos a uma mão que aconteceu comigo numa mesa de $30-60.

Na mão em questão, meu adversário era um jogador extremamente agressivo. Dei raise pré-flop do UTG com 8-8 e ele voltou reraise, do dealer. Como era muito agressivo, dei cap, supondo ter uma mão melhor e querendo tomar o controle da ação. Todos os outros jogadores deram fold e o flop veio 8-5-2 rainbow. Apostei e ele pagou. No turn, um ás, e a dúvida: eu deveria apostar ou aplicar um check-raise? Vamos ao raciocínio: por ter apenas dado call no flop, existem boas chances de ele estar com AK, AQ, AJ ou mesmo AT; caso tivesse um par acima, era quase certo que daria raise no flop. Pensando desse modo, se eu desse check, ele apostaria, e eu daria raise. Então ele pagaria e repetiria a dose no river, me dando 3 big bets de lucro. Agora, sabendo que se trata de um jogador agressivo, se eu apostasse no turn, ele iria me dar raise caso tivesse o ás, e eu poderia colocar 3 bets e mais a do river, ganhando 4 big bets de lucro, ou seja, uma a mais do que aplicando o check-raise – e foi exatamente o que fiz.

Agora, mudando o estilo do jogador para passivo: por eu ter dado cap no flop, posso imaginar que, caso eu apostasse no turn, ele apenas pagaria, mesmo tendo o As. Somada à bet do river, ganharia 2 big bets, porém, caso eu abrisse check, ele apostaria se tivesse um ás. E, conforme já vimos, com o check-raise eu conseguiria 3 big bets. Portanto, nesse caso, o check-raise me dá um big bet a mais de lucro. Com esse exemplo, fica clara a importância de analisarmos contra quem estamos jogando antes de se tomar uma decisão assim. Já que, numa situação semelhante, dependendo do adversário, o lucro com check-raise seria menor no primeiro caso e maior no segundo.

O exemplo seguinte ocorreu em uma situação na qual o intuito ao aplicar o check-raise era, novamente, aumentar o lucro da mão. Entretanto, essa jogada também é usada como blefe, ou ainda para tentar encerrar a mão mais cedo. Vamos aos exemplos.

Você está no big blind com AJ e o dealer aumenta. Você resolve só completar, e o flop vem 7-5-2. Você dá check, seu adversário aposta e sofre um raise seu. Com esse bordo baixo e tendo apenas completado, fica difícil para ele imaginar que o flop não foi bom para você. Normalmente ele irá completar seu raise, mas, se não acertar o turn, largará a mão. Jogando assim, você blefa de forma bem mais eficiente do que se saísse apostando, pois, se ele voltar um raise – o que é bem provável – é você quem vai ficar dependendo do turn.

No próximo exemplo, você abre raise pré-flop com 99 e dois jogadores que falam depois, pagam. O flop vem 8-4-2, excelente para seus planos. Porém, você sabe que, ao sair dando bet por se tratar de limit game, a chance de os dois pagarem é muito alta e são grandes as possibilidades de vir uma carta ruim no turn. Por isso, uma boa jogada aqui é dar check. É provável que eles pensem que você tem AK ou AQ e um dos dois aposte. Então, você aplica o check-raise e, na maioria dos casos, eles não irão até o river, largando a mão no turn. Na hipótese de você sair apostando se o primeiro pagar, o outro também daria call com quase todas as mãos, devido às odds que teria, e, caso o primeiro pague, mesmo que o turn traga outra carta baixa (o que seria bom para você), corre-se o risco de novamente ser pago pelos dois, reduzindo bastante suas chances de levar a mão. 

Apesar de ter falado sobre limit game, os raciocínios também se aplicam ao no-limit. Entretanto, por se tratar de um jogo sem limite de aposta, o cenário muda um pouco. O primeiro ponto perigoso do check-raise em NL é dar uma carta grátis ao adversário, o que não é tão comum em limit. Isso acontece porque, em no-limit, muitos jogadores se defendem em posição dando check com mãos apenas medianamente fortes. Portanto, quando for utilizar o check-raise em NL, tenha bastante convicção de que seu adversário irá apostar, pois, do contrário, dará a ele uma “free card”, o que pode complicar a sua vida. Mesmo em partidas no-limit, o check-raise no flop costuma funcionar porque, como normalmente o pote ainda está pequeno, seu adversário quase sempre arriscará uma bet tentando levar a mão. Já no turn, a jogada nem sempre vai dar certo. Para utilizá-la no river é preciso ter uma leitura clara do que seu adversário tem, além de uma boa noção do estilo de jogo dele.

Em se tratando de NL, outro ponto muito importante é saber que, toda vez que utilizar o check-raise, caso seja pago, o pote gerado será bem grande. Então, é bom já ter em mente o que fazer no turn caso tome call: tente estar um passo a frente quando executar esse move, senão você poderá encontrar dificuldades em dar seqüência à mão.

Mais um aspecto que penso ser valioso na utilização desse movimento, independente da modalidade, é que jogando assim você dificulta à leitura de seu jogo para os adversários. Ainda, em certas situações, conseguirá cartas grátis em seu favor, já que, ao dar check, eles não terão certeza se isso é um sinal de fraqueza ou uma armadilha.

Por último, o check-raise passa uma imagem de um jogador forte na mesa, alguém com criatividade. Por isso, nunca deixe de utilizá-lo, mas sempre tente fazer isso visando a aumentar seus ganhos e não apenas para deixar a jogada mais bonita.




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