EDIÇÃO 115 » COLUNA INTERNACIONAL

Um covarde com poucas fichas ou um corajoso eliminado?

Vamos falar sobre a "tournament life"


Doug Polk
Mesmo sendo um iniciante, você já deve ter ouvido a expressão “tournament life”, que significa a sua vida no torneio. Esse é um tema muito debatido entre os jogadores, até mesmo entre os estão no topo da pirâmide.

Muitos jogadores fazem um esforço exagerado para preservarem suas últimas fichas, o que pode lhes custar a chance de chegar a uma mesa final ou até mesmo ao título. Outros não têm amor nenhuma a elas e acabam sendo eliminados em situações que poderiam ser facilmente evitadas. “Tournament life” obviamente tem sua importância, mas até que ponto você deve levar isso em consideração antes de tomar uma decisão?

Primeiro, sua última ficha no torneio vale mais do que qualquer ficha que você venha a ter. Desde que você tenha pelo menos uma ficha, você sempre poderá ganhar mais. Então, você deve, sim, proteger suas fichas, ou pelo menos considerar isso. No entanto, se você se preocupar demais com suas fichas, vai acabar jogando de maneira muito passiva e suas chances de vencer o torneio irão pelo ralo. Lembre-se: vencer um torneio requer que você colete todas as fichas em jogo.

Adotar uma estratégia resultará em vários pequenos resultados frustrantes, como uma bolha de mesa final ou ITMs que pagam pouco mais que o valor da inscrição. Vários jogadores estão nesse barco e não notam. Para perceber isso é preciso uma autoanálise, honesta, sobre seu jogo e seus resultados.



Mas como vamos encontrar o equilíbrio entre proteger nossa vida no torneio e ainda assim jogar agressivamente para vencê-lo? Bem, em um primeiro momento, o mais importante a se considerar são as situações de bolha, seja do dinheiro, seja da mesa final ou seja de uma mudança drástica na premiação (o que acontece sempre na mesa final). Esses são momentos que ao sobreviver, você fará uma quantidade significativa de dinheiro. 

Em uma mesa final de um grande torneio, por exemplo, um fold pode lhe render até US$ 20.000 de equidade, enquanto uma dobrada aumentaria em apenas 1,5 a chance de vencer o torneio. Você precisa evitar esse cenário em que o risco é muito alto e recompensar é inversamente proporcional, especialmente em situações de bolha do ITM e de mesas finais.

Outra coisa para considerar é como os outros jogadores vão se comportar contra você nessas situações. Se você está jogando timidamente, supervalorizando sua vida no torneio e dando fold com mãos fortes, um bom jogador irá perceber isso e conseguirá explorá-lo. Eu tenho quase um código samurai em relação à minha vida no torneio. Eu não quero ser eliminado, mas se eu “tenho” que perder meu stack, que assim seja. Jamais vou deixar de jogar o meu melhor poker.

Quando enfrentar um all-in, uma maneira considerar a sua vida no torneio é pensar em quais mãos você daria call nessa mesma aposta em uma mesa de cash games. Então descarte algumas mãos do bottom do seu range e pronto. Dessa maneira, você ainda estará jogando de maneira agressiva o bastante para vencer o torneio, mas dando mais valor à sua última ficha.



Além disso, se a situação certa se apresentar, pode ser uma boa ideia colocar todas as suas fichas em um blefe. Muitos jogadores se sentem mal por fazer isso, mas a verdade é que eu prefiro ser eliminado blefando meu oponente no river do que dando um call ruim. All-in é uma jogada muito forte, justamente por você estar colocando o seu torneio em risco, o que gera muito folds. Mas não se empolgue saia blefando todo mundo nas bolhas do torneio. Essa deve ser apenas mais uma arma do seu arsenal.

Ache o equilíbrio entre agressividade e proteção quando o assunto é sua vida no torneio. Não deixe os adversários lhe pressionarem por uma ninharia. Ficar ITM pode fazê-lo se sentir melhor do que ser eliminado de bolsos vazios, mas jogar passivamente e se recusar a correr riscos impacta de maneira extremamente negativa o seu ROI. 

A estrutura de pagamento dos torneios significa que se você quer ser um ganhador, você precisa chegar ao topo com frequência. Afinal, é lá que o dinheiro está.

Doug Polk é um dos grandes nomes do poker mundial quando o assunto é high-stakes cash games. Ele também já ganhou mais US$ 5 milhões jogando torneios e é um dos fundadores do site de treinamento UpswingPoker.com, além de dono do canal de YouTube Doug Polk Poker.


NESTA EDIÇÃO



A CardPlayer Brasil™ é um produto da Raise Editora. © 2007-2024. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste site sem prévia autorização.

Lançada em Julho de 2007, a Card Player Brasil reúne o melhor conteúdo das edições Americana e Européia. Matérias exclusivas sobre o poker no Brasil e na América Latina, time de colunistas nacionais composto pelos jogadores mais renomados do Brasil. A revista é voltada para pessoas conectadas às mais modernas tendências mundiais de comportamento e consumo.


contato@cardplayer.com.br
31 3225-2123
LEIA TAMBÉM!×