Quando passeava pelos luxuosos salões dos casinos de Las Vegas, “Amarillo Slim” despertava inúmeras reações. Grande jogador de poker, esse senhor era visto por muitos como um adversário a ser evitado nos feltros, sentimento que não era compartilhado quando o assunto fosse uma aposta. Apesar da sua fama, ainda havia quem insistisse em lhe propor uma bet – talvez por causa do seu sotaque interiorano. O fato é que, se alguém ultrapassasse a linha do “aceito”, era melhor saber que o seu dinheiro pertenceria à Amarillo Slim. Quando ele fazia uma aposta, ela já estava ganha.
No último dia de 1928, na cidade de Johnson no estado de Arkansas, a festa de réveillon foi diferente. Em meio à expectativa da passagem de ano, a família Austin se programava para receber Thomas Austin Junior. Tão rápido com um estouro de champagne, não tardou para que o garoto se destacasse. Na escola, quando se tratava de matemática, era impossível somar-se a ele. No processo de separação dos seus pais, deixou sua mãe ir, ele se sentia mais confortável ao lado do seu velho. Juntos foram para Amarillo, no Texas. E foi ali, no segundo maior estado americano, em meio à imensidão de terra, poeira e petróleo, que aquele garoto ficou conhecido como “Amarillo Slim”.
Grande apostador, Amarillo Slim costumava dizer que “quando eu entre em uma aposta, ela já está ganha”, e mesmo assim ainda havia quem apostasse com ele.
Após alguns anos rodando as bases militares, retornou aos Estados Unidos. De volta à cidade que lhe acolheu, “Amarillo” conheceu Doyle Brunson, e ao seu lado nos salões escuros e obscuros do sul do País, jogavam poker e sonhavam um dia conhecer o oásis dos jogadores, Las Vegas. Ao chegar à cidade do pecado, a dupla ajudou o poker a fazer a transição dos locais ilegais para os cassinos mais luxuosos do mundo.
Exímio jogador, “Amarillo Slim” foi campeão do torneio de poker mais importante do mundo em 1972, o Main Event da World Series Of Poker (WSOP). Na sua carreira, ultrapassou a barreira dos sete dígitos nos campeonatos ao vivo e entrou no Hall of Fame do poker em 1992. Ao adentrar o salão dos imortais, quatro braceletes de ouro reluziam nos seus braços.
“Amarillo Slim” sempre gostou de apostas e desde garoto faturava um dinheiro extra com elas. Entre os seus inusitados triunfos, consta uma vitória sobre Evel Knievel, um famoso dublê e saltador. Os dois jogaram uma partida de golf com martelos no lugar dos tacos, e o homem que superava a morte a cada salto na sua motocicleta não conseguiu derrotar aquele caipira.
Outra vitória histórica veio contra o campeão mundial de tênis de mesa, o popular pingue-pongue. Um famoso apostador do estado do Tennessee, Lefty, afirmou que havia um “amigo” seu capaz de vencer “Amarillo Slim” em uma partida, e com qualquer que fosse a raquete. Lefty já sabia desse truque do seu adversário, e obrigou o seu “amigo”, o campeão mundial, a treinar com frigideiras no lugar das raquetes. Mas para a surpresa da dupla, a partida teve que ser realizada com garrafas de refrigerantes, o que fez do duelo um jogo de apenas um jogador, e ele era “Amarillo Slim”.
Após ser sequestrado por Pablo Escobar, Amarillo decidiu que era prudente ficar próximo aos seus inimigos e enviou para o criminoso diversos botões que o traficante havia gostado.
Apostadores do país inteiro viajaram para assistir o confronto, e além da vitória, “Amarillo Slim” recebeu tanto dinheiro que ele poderia carbonizar um touro com os dólares faturados.
“Amarillo Slim” ganhou fama nos Estados Unidos ao participar de vários programas de rádio e de televisão. Criou em 1979, o Super Bowl of Poker, na época o segundo evento mais importante do mundo. Sua fama lhe rendeu situações inusitadas e um certo prestígio. O jogador participou de mesas de poker com pessoas renomadas, inclusive dois presidentes dos EUA, Lyndon Johnson e Richard Nixon, mas foi na Colômbia que ele teve, “o encontro” da sua vida.
Ao viajar para o País com o objetivo de promover o cassino de um amigo, “Amarillo Slim” teve uma experiência nada agradável. Ao chegar no seu quarto de hotel em Cartagena, viu seu segurança ser rendido por homens encapuzados, e logo em seguida foi levado para um helicóptero. Já no ar, roubaram todos os seus pertences de valor. Durante a viagem, enquanto já se preparava para o pior, ouviu sua descrição em uma conversa de rádio entre os sequestradores e os chefões do Cartel de Medellín. “Amarillo” percebeu que um dos homens do outro lado da linha o conhecia, e fez de tudo para provar que ele era realmente a pessoa de quem eles estavam falando. Foi um anel com o mapa do Texas que garantiu sua versão e salvou a sua vida.
Com duas garrafas de Coca-Cola como raquete, Amarillo Slim venceu o campeão mundial de pingue-pongue. Sem duvida alguma, ele é o melhor jogador do mundo com uma garrafa na mão.
Após desistirem de matá-lo, “Amarillo Slim” foi “convidado” a ir para Medelín, mais precisamente a casa de Pablo Escobar, o maior traficante de drogas do mundo. Apesar de já ter visto mansões espetaculares, na opinião de “Amarillo”, nada se igualava a residência daquele criminoso. Só no pátio principal havia doze limusines.
Depois de uma breve conversa, passearam no mesmo helicóptero que ele havia sido sequestrado. Os dois conversaram muito durante o voo, e o traficante fez questão de mostrar o que ele fazia para o seu “povo”. Entre os seus presentes para a população, uma catedral e um zoológico, no qual ele gastava oito mil dólares por mês para mantê-lo.
Já no final da viagem, após justificar assassinatos e sequestros, Pablo Escobar mudou o rumo da conversa. O que interessava a ele eram os botões de “Amarillo”, na verdade antigas moedas de um dólar que eram usadas para abotoar a camisa. Após o passeio, deixou o jogador no mesmo hotel onde fora sequestrado, e com todos os seus pertences, exceto o anel com o mapa do Texas.
Ao chegar aos Estados Unidos, Amarillo Slim resolveu presentear Escobar com os botões. Como ele gostava de falar, “fique próximo dos seus amigos, e mais próximo ainda dos seus inimigos”. Logo depois foi a vez do mafioso retribuir o presente. Um enviado de Escobar foi a Las Vegas entregar pessoalmente a ele botões feitos com pedras de rubi.
“Amarillo Slim” faleceu no dia 29 de abril de 2012. O ex-jogador deixou três filhos e uma legião de fãs. Ele escreveu o livro "O Grande Malandro" contando várias histórias da sua vida. A obra está à venda no site da Raise Editora.