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Stu Ungar

Perder para ganhar, a vida e morte do Garrincha do Poker



16/05/2012
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Na década de 1960, os garotos em Nova York compravam cards de baseball e passavam as tardes nas quadras de basquete. Os mais eufóricos sonhavam em ganhar um beijo da mais bela menina da vizinhança, e quem sabe levá-la ao cinema. Na mesma cidade, aos 14 anos, Stu Ungar não podia se dar o luxo de ter uma adolescência como essa. Para começar o jovem não era como os outros. Dono de uma inteligência fora do comum, composta por uma memória fotográfica, Stu Ungar estava à frente dos garotos da sua idade. No colégio, já estudava com os alunos mais velhos. Porém, após perder o pai em 1966, vítima de um infarto, ele questionou o seu dom. Naquele triste dia, tudo que ele queria era esquecer-se de tudo.

No ano seguinte, a família Ungar recebeu outro golpe. A mãe de Stu foi vítima de um acidente vascular cerebral (AVC). Filho mais velho, ele foi obrigado a administrar a casa e cuidar das suas irmãs. A partir daquele momento, a diversão virou coisa de criança. Exímio jogador de gin rummy, encontrou no mafioso local, Carmine Romano, um parceiro de trabalho, e juntos viviam nas mesas da cidade.


Aos 14 anos, Stu Ungar precisou cuidar da sua família e o ganha-pão veio do que ele ganhava nas mesas de gin rummy.

Todas as vezes que a dupla ia jogar, a estratégia era a mesma. Romano era o primeiro a sentar à mesa. Quando estava para perder todo o seu dinheiro, alegava cansaço e pedia licença aos outros jogadores. No seu lugar, sentava-se o seu “sobrinho” Stu Ungar. Todos os seus adversários concordavam rapidamente com a troca, e nas próximas horas eram devorados por aquele jovem franzino.

No ano seguinte, Stu Ungar já era o melhor jogador da cidade, e em pouco tempo não havia mais ninguém disposto a lhe desafiar. O jogador chegou a vencer um torneio sem perder uma mão sequer. Porém ele não sabia administrar o que ganhava. Todo o dinheiro que caía em suas mãos ia para a de outros apostadores. Seu fraco era as corridas de cavalos em Nova York. Devendo muitas pessoas, sua vida começou a ficar perigosa e ele se viu na obrigação de se mudar para Miami, e logo depois para Las Vegas.

O jogador chegou à cidade do pecado em 1978. Ao pisar no deserto de Nevada, Stu Ungar conseguiu “secar” os seus adversários no gin rummy. O jovem impressionava a todos nas mesas. Foi questão de tempo até que o último corajoso ficasse de pé. Como não encontrava concorrentes, o mago de Nova York decidiu enfeitiçar o blackjack, o 21, e em pouco tempo os cassinos viraram sua vítima.

Entretanto, Stu Ungar provocou um adversário forte demais, e esse confronto lhe custou o direito de jogar. Certa vez, foi interrompido por um administrador que percebeu que ele estava contando as cartas, e a partir desse dia todos os casinos de Las Vegas passaram a usar mais de um baralho no jogo, e Stu Ungar ficou impedido de jogar.


As apostas sempre foram o ponto fraco do jogador que terminou a vida na miséria.

Longe da companhia dos crupiês do blackjack, Stu Ungar migrou para outro jogo de cartas, o Texas Hold’em. Na velocidade de um click fotográfico, ele se tornou um fenômeno do esporte. Em 1980, mesmo com pouca experiência na modalidade, chocou o mundo ao vencer o Evento Principal da World Serioes Of Poker (WSOP), torneio mais importante do planeta. Na mesa final, enfrentou um dos maiores nomes do poker, Doyle Brunson, e, num piscar de olhos, derrotou aquele senhor de muitos anos e milhões na sua conta bancária. Naquele dia, Stu se tornou o jogador mais jovem a vencer o evento. A vitória lhe rendeu o apelido de “The Kid”.

No ano seguinte, ele repetiria o feito, e se tornaria o segundo jogador na história do poker a vencer o Main Event em dois anos consecutivos.

Mesmo conquistando diversos torneios e sempre lucrando nos cassinos, Stu Ungar continuava apostando tudo que ganhava. Certa vez, ele chegou a perder 80 mil dólares em uma partida de golfe. Suas maiores derrotas ainda eram nas corridas de cavalo. As drogas também assombravam o jogador.
Por mais de 15 anos, Stu Ungar ficou longe dos olhares da mídia e do público. Porém, sua volta aos feltros, em 1997, foi triunfal. A conquista do tricampeonato do Main Event da WSOP foi histórica e colocou “The Kid” na lista dos maiores vencedores da série.


Por problemas com a máfia, Stu Ungar foi obrigado a abandonar Nova York, sua cidade natal.

Antes do início do campeonato, nem o dinheiro para inscrição o jogador conseguiu arrumar, e precisou ser “cavalado”. Parecia que ele perdia tudo que ganhava para voltar a ganhar no poker.

Um ano depois da sua conquista, Stu Ungar foi encontrado morto em um hotel tão sujo e estranho que até os policiais ficaram com medo de entrar ali. No seu sangue, os peritos encontraram resíduos de cocaína e outras drogas.

No seu bolso, apenas 800 dólares, todo o dinheiro que o jogador tinha em vida. Dos milhões que conquistou na sua carreira, o que restou foram apenas algumas notas sujas e amassadas.

Membro do Hall of Fame do Poker desde 1988, Stu Ungar é considerado por muitos como o maior jogador de Texas Hold’em de todos os tempos. Na sua carreira, venceu 10 torneios com buy-in superior aos 10 mil dólares. Apesar da pouca experiência, foi um campeão nos feltros e um marco na história do esporte.


Diego Scorvo

Especialista em esportes desconhecidos, encontrou no poker um porto seguro. Converse com ele cinco minutos, e ele vai citar umas cinquenta pessoas. Vinte delas não existem, dez você não conhece e o resto ele falou o nome errado.


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