Ele é o único tricampeão de eventos abertos do World Poker Tour (WPT) no mundo todo; já ficou in the money sete vezes em eventos da World Series of Poker (WSOP) e ganhou um bracelete do circuito em 2010; é figurinha carimbada nas mesas nosebleed (high stakes) do Full Tilt Poker – site pelo qual é patrocinado – e já ganhou mais de US$ 8 milhões em premiações apenas em torneios ao vivo. Um dos maiores nomes da história do poker, o dinamarquês Gus Hansen esteve no Brasil no último final de semana, onde acompanhou de perto a etapa de encerramento do Brazilian Series of Poker (BSOP).
Durante a sessão de autógrafos do seu livro, “Todas as Mãos Reveladas”, recém lançado em português pela Raise Editora, “The Great Dane”, como é conhecido, falou com exclusividade à Card Player Brasil.
Esta é sua primeira passagem pelo Brasil? Como será seu roteiro por aqui? Vai conhecer outros lugares além de São Paulo?
Gus: É a primeira vez que venho para a América do Sul. Tenho uma programação bastante apertada nesta viagem, muitas coisas pra fazer em apenas uma semana, compromissos profissionais e tal. Então vai ser difícil conhecer outros lugares agora. Vou tentar aproveitar São Paulo, conhecer a vida noturna da cidade que é tão falada, aproveitar o torneio. Além do que, tenho certeza que voltarei no futuro, e aí posso conhecer outras cidades, as praias...
Como é para alguém acostumado a jogar nos maiores torneios do mundo, nos principais centros de poker do planeta, vir participar de um evento no Brasil?
Gus: Eu já joguei em muitos lugares, mesmo. Não vim para cá imaginando encontrar a mesma coisa que nos Estados Unidos, por exemplo, isso é claro. Já joguei também em lugares não tão tradicionais, como Ásia e Austrália. Agora vim para a América do Sul. Obviamente o poker é um esporte novo por aqui. Mas o Brasil é um país muito grande. Aliás, o continente é bem grande. Então mesmo não sendo um centro do poker, vocês têm grande eventos. Só aqui no BSOP são mil jogadores . Isso não é exatamente um exemplo de torneio pequeno (risos). O buy-in é barato, mas isso não diminui a grandiosidade do evento, que é muito interessante. E tenho certeza que estará ainda maior no ano que vem. Se tudo der certo, devo estar aqui novamente na póxima edição.
Você conhece os jogadores brasileiros? O que acha deles?
Gus: O que eu conheço melhor é o Felipe Mojave, que esteve comigo recentemente na primeira edição do World Series of Poker Circuit (WSOPC) na África do Sul. Ele ganhou o torneio de pot-limit Omaha lá, foi o campeão. É um cara muito legal e, apesar de eu nunca ter jogado muito com ele, consigo perceber que é um grande jogador. Aqui no BSOP, vi muitos caras malucos jogando, mas sei que isso tem em todo lugar. Por outro lado, também reparei vários jogadores muito agressivos, alguns outros muito seguros, outros tantos que sabem misturar segurança e agressividade. Dá pra ver que existem variados estilos de jogo no Brasil. Isso é bom.
Você disse que esteve recentemente em um torneio na África. Viu alguma semelhança entre o cenário do poker africano com o brasileiro?
Gus: Tenho certeza que aqui no Brasil o poker é maior do que na África. A América do Sul está um passo ou dois na frente. Na África do Sul o evento foi pequeno, muito menor do que este BSOP – o que não quer dizer que tenha sido ruim. Em países novos no poker, as coisas evoluem aos poucos. Aqui, eu vi uma estrutura muito boa, com um staff muito eficiente no torneio, dealers muito bons. Isso mostra que o poker não é tão embrionário no Brasil. Claro que, para mim, seria muito melhor um torneio com um buy-in mais caro, que gerasse um prizepool maior, mas é evidente que vocês estão no caminho certo. Garanto que em breve vocês poderão acompanhar torneios grandes por aqui, em nível mundial, inclusive. E isso, sem dúvidas, vai acontecer antes aqui do que na África.
Seu livro, “Todas as Mãos Reveladas”, acaba de ser lançado no Brasil, em português. Quando escreveu, imaginou que o livro seria publicado em várias línguas diferentes?
Gus: Estou muito feliz e orgulhoso. Escrevi o livro em inglês, com um plano inicial de publicá-lo nos Estados Unidos e, talvez, em outros países de língua inglesa como Reino Unido e Austrália. Depois, recebi a notícia que ele seria publicado também em dinamarquês, minha língua nativa. E, na sequência, recebi muitas reações positivas sobre o livro, e pessoas de vários países entraram em contato comigo e com meu empresário para publicá-lo nas mais variadas línguas, como espanhol, italiano, japonês, hebraico e, é claro, português. Acho que são 15 línguas diferentes, já.
E depois de todo esse sucesso do livro, jogar poker ficou mais difícil para você? Agora todo mundo conhece seu modo de agir nas mesas...
Gus: Sinceramente, não acho que o livro tenha atrapalhado meu jogo. Sou da opinião de que a coisa mais importante para um jogador de poker profissional é conseguir variar seu estilo de jogo e sua estratégia. Se as pessoas pensam que você é agressivo e você joga tight – ou o contrário – sairá com uma boa vantagem. Mas uma coisa é clara para mim desde que publiquei o livro: agora, todo mundo acha que eu sou completamente louco. Hoje, basicamente, tenho que jogar mais tight do que gostaria. Mas não acho que seja a maneira correta de jogar poker. Gosto do jogo agressivo, de testar meus oponentes. Mas, se eles sempre me dão call, não posso ficar blefando. Depois do livro, e dos programas de televisão que fiz para o WPT, as pessoas sempre acham que tenho 72 na mão. Isso me obrigou a mudar meu jeito de jogar, mas não significa que me atrapalhou.
Mas, para você, não deve ser fácil ter que jogar de maneira mais segura hoje em dia, já que você se tornou conhecido justamente pelo estilo super agressivo...
Gus: Pois é. Gosto mais do meu estilo antigo, mais agressivo, jogando muitas mãos . Mas é bom testar várias maneiras de jogar. Como falei, saber misturar estilos é fundamental para quem joga poker em alto nível. Hoje, sou um “tight Gus”. E está funcionando.
Ainda sobre o livro... é um livro que vai fazer os leitores desenvolverem seu jogo, ou é apenas a história de um torneio?
Gus: Posso dizer que, pelo jeito como foi escrito, é a história de um torneio, do começo ao fim. Mas, nesse caminho, tem muita informação. E pode, com certeza, ajudar muitos jogadores a ver que existem várias formas de jogar poker. Você não precisa esperar ases ou reis o tempo todo. Tenho certeza que o livro vai ajudar bastante gente, porque mostra que, para jogar poker em alto nivel, você precisa se ajustar às situações. Agora, em 2010, estou jogando de um jeito diferente do que quando escrevi o livro. Mas acho que a grande lição do livro é que você pode jogar de várias maneiras diferentes para vencer.
Então dá para dizer que o seu livro contém uma fórmula vencedora para o poker?
Gus: O que está no livro foi um fórmula vencedora para aquele torneio especificamente. Tanto é que fui campeão fazendo aquilo que descrevi no livro. Mas isso não quer dizer que jogando da forma como citei no livro, você vá ser campeão de tudo. O ponto é: não existe fórmula vencedora no poker. O que funcionou hoje, pode não funcionar amanhã. O que funciona para mim, pode não funcionar para outro. Não tem certo e errado. Às vezes você tem que blefar, às vezes tem que esperar cartas boas. O meu livro contém apenas uma das infinitas fórmulas vencedoras. Saiba misturar um pouco de cada, e certamente você será um jogador de sucesso.
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