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Bate-papo com o campeão do mundo

Card Player entrevista o australiano Joseph Hachem



09/05/2012
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Joseph “Joe” Hachem levantou a bandeira australiana com alegria e gritou: "Aussie, Aussie, Aussie!". Ele tinha se tornado o mais recente multimilionário do poker, e o primeiro jogador australiano a vencer a World Series of Poker (WSOP), o torneio mais importante do planeta.


Isso foi em 2005. Quase sete anos depois, ele ainda está nas manchetes, agora com uma nova e excitante jornada na sua carreira. Após a sua vitória no Main Event da WSOP, o libanês naturalizado australiano ficou conhecido no mundo todo e em seguida acrescentou mais títulos a sua carreira, acumulando US$11.6 milhões em premiações, uma das melhores marcas do mundo. Tudo isso enquanto permanecia fiel ao seu papel de marido e um dedicado pai de quatro filhos.


Quando Hachem decidiu deixar o PokerStars, a notícia foi uma surpresa enorme para o mundo do poker. Como um dos mais proeminentes membros do Team PokerStars Pro, ele era uma presença forte nos eventos do European Poker Tour (EPT), e um nome muito popular entre mídia e fãs. No entanto, a distância entre os eventos e a sua família, misturado ao ensejo de estar mais envolvido com o seu lado empresarial, levaram o campeão em uma nova direção, a parceria com a AsianLogic, tornando-o agora o novo embaixador do Asian Poker Tour (APT).


A repórter da Card Player, Rebecca McAdam, conversou com Joe Hachem sobre seu tempo como um membro do Team PokerStars Pro, as lembranças e os lamentos, a sua decisão de seguir em frente, o seu novo papel no poker, a sua família e, de fato, os planos para o futuro:

OLHANDO PARA TRÁS

Rebecca McAdam: Tem acontecido uma série de mudanças para você nos últimos tempos, mas antes de falarmos disso, gostaria que você falasse sobre os seus últimos anos como um PokerStars Pro, e da sensação de viajar e jogar na Europa.

Joe Hachem: Eu tive ótimos momentos viajando pela Europa. A vitória em 2005 foi uma explosão na minha carreira e tive alguns momentos muito bons. Eu comecei a visitar lugares realmente interessantes, conheci pessoas maravilhosas, e joguei poker ao longo desse caminho e conquistando bons resultados. Eu não podia pedir muito mais, considerando que eu nunca fui tímido para admitir que a minha prioridade número um sempre foi a minha família. E por mais que eu ame o jogo de poker, essa não é a minha vida, minha vida é estar em casa com a minha família. No final chegou um ponto que eu tive de dizer para mim mesmo que era hora de diminuir o ritmo. A parceria com o PokerStars foi agradável, mas era hora de parar. No geral, me sinto ótimo sobre a mudança.

RM: A vida no poker pode ser mais fácil para um jovem jogador online que realmente não tem muitos empecilhos na hora de sair e viajar, mas deve ter sido difícil para você encontrar o equilíbrio entre os eventos e a família, considerando que você morava tão longe?

JH: Com certeza! Porque minha casa é tão longe que às vezes é insuportável viajar. Eu realmente tive que pensar muito em cada torneio que eu ia. Mas acabei conseguindo conciliar tudo isso.

UM SALTO NA CARREIRA

RM: É óbvio que a sua carreira deslanchou, nós como espectadores vimos, com a sua vitória no seu evento principal da WSOP, mas quando é que ela realmente começou para você? Quando sua vida mudou totalmente?

JH: Eu acho que foi nos meses que antecederam a WSOP em 2005. No início daquele ano eu estava basicamente no melhor momento da minha vida. Havia ganhado algo em torno dos US$160.000 nos feltros onlines nos limites como $2 - $4, $5 - $10 jogando entre 10 e 15 horas por semana. No Crown Casino eu estava dominando os torneios. Eu não poderia pedir um melhor trampolim para a World Series, para ser honesto com você. Depois, ao chegar em Vegas o meu bom momento continuou! No primeiro torneio que eu joguei, um evento com buy-in de US$1.000, fiz a mesa final e faturei US$ 26.000. Em seguida eu ganhei um campeonato e levei US$50.000 pelo título. Cheguei com a confiança lá no topo quando o Main Event começou. Porém, obviamente, ganhar a WSOP foi uma grande mudança, sem dúvida.

RM: Você tinha alguma expectativa sobre o que iria acontecer? Alguma vez você chegou a imaginar que sua vida mudaria completamente?

JH: Não, não, nunca pensei. Mesmo depois que eu ganhei a WSOP, eu não entendia muito bem o quanto minha vida iria mudar a partir dali. Demorou uns dois anos para eu estar confortável com a minha situação. Foi difícil perceber que as coisas jamais voltariam ao normal novamente. O que agora é normal, antes parecia ser um mundo novo.

RM: A personalidade das pessoas pode mudar após uma grande vitória?

JH: Com certeza. Um monte de jogadores começam a acreditar na mentira que as pessoas lhes dizem, porque ninguém diz não a você. Na verdade todo mundo quer tentar agradá-lo, e se você não manter os pés no chão, antes que você perceba, você já se transformou em outra pessoa no final do dia.

Joe Hachem com a esposa Jeanie (esq) e a filha Justine (dir)

PRIMEIRO A FAMÍLIA

RM: Fiquei surpresa ao ouvir que o seu filho mais velho está com quase 21 anos e que o mais novo tem 16. Como que eles vêm a sua vida de jogador de poker?

JH: Meus filhos me vêm mais como um empresário do que um jogador de poker. Eles sabem que eu pratico poker, mas como sempre estou envolvido em vários projetos associados ao esporte, eles já perceberam que o seu pai não vive somente nas mesas. Tentei retratar para eles que essa é uma vida dura, e que é difícil realmente ganhar dinheiro nos feltros.

RM: Eles jogam poker ? Estão interessados no assunto?
JH: Sim, os meninos adoram brincar, mas eu não deixo eles jogarem muito. Meu objetivo é que eles se concentrem somente nos seus estudos agora. Eu sempre disse aos meus filhos que eu não seria aquele pai hipócrita, que diz para os seus filhos fazerem algo que ele nunca fez. Eu fui para universidade, terminei meu curso, tive uma carreira, uma vida, e estou me certificando de que eles façam a mesma coisa, e se ainda optarem por jogar quando ficarem mais velhos, então que sigam essa caminho.

POKER STARS

RM: Foi difícil para você deixar o PokerStars ou foi uma decisão natural?

JH: Inicialmente eu comecei a pensar nisso há 12 meses e imaginei que seria muito difícil, mas no momento em que falei com eles parecia o certo. É engraçado, logo que eu tomei a coragem de anunciar a minha decisão senti um alívio. Foi a escolha correta na hora certa.

RM: Como o papel de embaixador do Asian Poker Tour (APT) surgiu?

JH: Eu sempre tive um relacionamento estável com Tom Hall, que é o CEO da APT há alguns anos e ele me dizia: "Se em algum momento você decidir que as coisas não estão funcionando com o PokerStars, ou se você desejar estar mais perto de casa, me conte que nos adoraríamos tê-lo conosco ", e foi exatamente o que aconteceu. E como nos já tínhamos uma relação estabelecida, não foi preciso negociações ou coisas do tipo.

RM: Qual é o seu papel?

JH: Basicamente eu sou o embaixador da APT e nos temos planos para a implantação de alguns projetos, tanto na Ásia e na Austrália durante os próximos 12 meses, mas eu não posso falar sobre isto agora. Obviamente se trata de poker (tanto online como ao vivo) e jogos. O que eu gostei desta posição é que eu sou mais que um rosto, Joe Hachem faz parte da empresa.

RM: Você tem algum arrependimento, ou qualquer coisa que você gostaria de ter feito diferente?

JH: Você que saber, estou muito satisfeito com minha jornada. Eu tentei tomar boas decisões ao longo do caminho, e eu acho que me mantive longe de problemas. Eu não saí dos trilhos, e cuidei muito bem de tudo que conquistei. Jamais me envolvi com jogos maiores que as minhas capacidades, e nunca tive contato com drogas ou coisas do tipo. Estou feliz, tudo correu bem, e trabalhei duro para isso. As pessoas me perguntam: “Você está orgulhoso de sua realização na WSOP?" E a realidade é que eu estou realmente orgulhoso de como lidei com tudo após a minha vitória, porque é nessas horas que as pessoas parecem encher-se. Eles contam com a sorte de correr tudo bem na hora certa, como aconteceu comigo, e depois jogam tudo foram. Você vê isso o tempo todo, cansei de presenciar um superstar cravar um grande torneio e no dia seguinte não ter dinheiro para um buy-in.


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