EDIÇÃO 96 » COLUNA NACIONAL

O Dilema do Longo Prazo


Fabio "F1oba" Maritan
Quando se fala em poker profissional, o tema longo prazo rotineiramente entra em pauta, respaldado nas mais diferentes opiniões. Algo natural, pois aqueles que procuram o poker como renda querem saber quando e com que frequência, de fato, o retorno pelo esforço chegará. A resposta para estas perguntas dependem de como o jogador trabalha com algumas variáveis fundamentais e inter-relacionadas: volume, técnica e gestão de banca. A intenção deste artigo é esmiuçar ao máximo o assunto, clareando a visão do leitor a partir da minha experiência adquirida ao longo dos últimos anos.
 
Pois bem, para falarmos de volume, nada melhor que o dito popular, “de grão em grão a galinha enche o papo”. Simples assim. Muitos reclamam que não enxergam retorno, porém não imprimem um volume minimamente aceitável. Não vou entrar no debate entre volume e qualidade de jogo, pois é possível trabalhar em poucas telas simultaneamente e ainda assim ter um volume aceitável ao final do mês. Para quantificar, exemplificando dentro da minha especialidade, os torneios (MTTs), posso afirmar que, salvo algumas exceções, a grande maioria dos jogadores com retornos regulares possuem mais de 5.000 torneios jogados por ano. Cabe falar também sobre aquelas premiações fora da curva que ocorrem de forma mais esporádica e que mudam a vida de qualquer jogador: o big hit. Ao meu ver, jogadores profissionais volumam na grade regular e se preparam ao máximo para quando surgir a oportunidade do big hit, não se iludindo com o mesmo. Digo que, em relação ao volume, a grade regular é vista como o “arroz e feijão” de todo dia, algo que não deve faltar e que dá a sustentabilidade necessária para o momento em que os prêmios muito maiores vierem (se vierem). No meu caso, por exemplo, tenho o foco voltado ao poker online. Invariavelmente, jogo alguns torneios ao vivo que estão longe de representar uma renda regular esperada em meu orçamento, justamente por não impor um volume adequado. Na realidade, vejo como um bônus, algo extra que eu pratico com o maior prazer e que pode complementar meus ganhos. Por último, procure o profissional de poker especializado na modalidade que consiga focar, seja torneio, cash ou sit&go, online ou ao vivo, e busque a orientação necessária em relação ao volume aceitável.
 
Definitivamente, perceba que não adianta imprimir um volume forte se as decisões forem precipitadas. Evoluir tecnicamente talvez seja a parte mais custosa pra se alcançar o longo prazo. Muitos acreditam que investir somente em um único coach e aplicar aquilo para sempre o tornarão lucrativos da noite para o dia. Ledo engano. Como dizem por aí, não há receitas prontas e nem segredos mágicos. Na realidade, o que há é muita determinação e trabalho de uma minoria constantemente preocupada em se sobressair em relação a uma maioria de concorrentes. Sobrevivem os mais fortes e o processo de evolução é o clássico. Isso explica porque os times de poker conseguem resultados muito frequentes. Trata-se de um grupo de jogadores vivendo situações similares todos os dias, cercados de boas referências, todos estudando e debatendo os mais variados aspectos do jogo. Não há dúvida que todos têm muito a ganhar e se destacar da maioria de competidores. Por isso, entenda que erros e dúvidas aparecem todos os dias. O que ocorre é que o jogador profissional usa os mesmos erros e dúvidas para alimentar seu aprendizado em um processo cíclico e constante. 
 
O longo prazo jamais chega para quem não respeita a gestão de banca e está sempre próximo de quebrar o montante destinado ao investimento no poker. Não adianta ter técnica se sua banca não suporta a variância entre ganhos e perdas dos limites em que joga. Em suma, você deve ter uma banca independente de suas finanças pessoais e outros investimentos, bem como administrar coerentemente os limites que joga. Um trabalho que consiste em entender que é lucrativo onde está investindo e, ao mesmo tempo, saber quando subir ou descer os limites. Para mais detalhes sobre gestão de banca, sugiro o artigo escrito em parceria com João Bauer, “Gestão de Capital” [Card Player Brasil, nº 90, janeiro/2015].
 
Por fim, para atingir o longo prazo, recomendo fortemente o acompanhamento constante por parte de um profissional de referência, que junto com você pode estreitar muitos caminhos. Reconheça que o longo prazo existe para aqueles que não perdem seu tempo criando desculpas ou reclamando de tudo e de todos, mas sim trabalham duramente para que ele aconteça. 
 
Sucesso nas mesas.
 



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