EDIÇÃO 85 » COLUNA NACIONAL

Emoção e Razão

Contribuição: Guilherme Barbosa


Felipe Mojave
No artigo de hoje, vou trazer uma mão de um dos nossos atletas da Mojave Sports, Guilherme Barbosa. A jogada mescla tanto o lado técnico quanto comportamental do poker, e é o próprio Guilherme quem faz a análise.
 
“Olá, pessoal.
A mão em questão foi jogada em um torneio 200K Garantidos de um grande clube de São Paulo. Os blinds subiam a cada 40 minutos, o satck inicial era de 20.000 fichas, com reentradas até o 6º nível.
 
Estou em uma mesa que, aparentemente, o nível técnico não é alto, em não vejo jogadores conhecidos. No entanto, há bastante ação, vários potes grandes sendo disputados e, no showdown, há várias mãos marginais. Portanto, levando em conta a imprevisibilidade de meus oponentes, posso dizer que é uma mesa bem difícil também.
 
O jogador mais agressivo está à minha esquerda e jogando com um range bem amplo, mas quase nunca aplicando 3-bets com mãos que não sejam premium. Ele tem jogado cerca de 60% das mãos, características que me fazem pensar que não se trata de um bom jogador.
 
Neste momento do torneio, os blinds são 300-600, eu tenho 26.300 fichas, 44 big blinds.
 
A mesa roda em fold. Tenho 34 no cutoff. Opto pelo raise, uma vez que o jogador no big blind não tem oferecido resistência. Como a minha imagem está boa, é uma grande oportunidade para roubar os blinds. Se necessário, irei para o pós-flop, tendo posição, desde que o button (BTN) desista.
 
Abro raise para 1.425. O Vilão, à minha esquerda, com 35.000 fichas, não pensa muito e já paga. O small blind (SB), que acabou de se sentar, também paga, assim como o big blind (BB).
 
Blinds = 300-600
Guilherme (CO) = 26.300 fichas
BTN = 35.000 fichas
SB = 32.000 fichas
BB = 24.000 fichas
FLOP: Q64 (pote: 5.700)
O SB e o BB pedem mesa.
 
Como o board não me favorece e traz um grande draw, eu opto por não fazer continuation bet, já que dificilmente não irei tomar call de um dos três jogadores. Para a minha surpresa, o Vilão pede mesa.
 
TURN: 6 (pote: 5.700)
O SB e o BB pedem mesa.
Eu paro para pensar um pouco na mão, mas vejo que o Vilão já está mexendo nas fichas e preparando uma aposta. Resolvo dar check para ver qual será a ação dele e dos outros jogadores.
O Vilão aposta 4.600 fichas. SB e BB desistem.
 
Na minha cabeça, não consigo colocá-lo em flush. Quais as mãos de valor ele teria dado call pré-flop? A-6, 6-7s, K-Q, Q-T, Q-J, Q-9s.  Porém, por ser agressivo, acredito que dificilmente ele daria check no flop com top pair, e começo a limitar o range dele em mão que contenham o 6 e blefes. Enquanto estou pensando, percebo que ele está tenso. Ele olha para os lados, às vezes me encara e faz algumas caretas, como se dissesse: “Você já perdeu a mão”. Uma vez que ele esteja representando valor, não vejo motivo para ele querer o meu fold e resolvo dar o call. Antes mesmo de ver o river, ele já pergunta meu stack, com aquela famosa frase: “Quanto sobrou para trás?”, mostrando, em minha opinião, mais um sinal de fraqueza.
 
RIVER: A (POTE 14.900)
 
Muitos acreditam ser uma carta ruim, o que não é verdade, já que consigo eliminar todos os flushes draws nuts que estava apostando ou até mesmo o flush nuts que o jogador poderia ter acertado já no flop — o que explicaria o check dele. Além disso, com o meu call no turn, o oponente pode achar que eu estava esperando o flush e vai desistir de prosseguir com o blefe e por até mesmo dar check com mãos de valor, como uma trinca de Seis.
 
Sem pensar muito, peço mesa. Para a minha surpresa, o Vilão pergunta qual o meu stack e aposta 13.000 fichas. Neste momento, volto a pensar com quais mãos um jogador agressivo dá check flop e aposta nas duas streets posteriores. Posso eliminar o flush com Ás na mão, e tenho um blocker para o full de Quatro sobre Seis, e não acredito que ele pediria mesa com um trinca naquele tipo de flop. Tenho que me preocupar com um A-6 ou com um K, que possa ter acertado o flush no meio do blefe. 
 
Porém, enquanto estou pensando, percebo um grande desequilíbrio do oponente, que mesmo tentando não demonstrar qualquer reação, começa a ficar vermelho e apresentar um grande desconforto em sua respiração. Não havia visto ele se portar daquela forma na mesa, o que me levou a crer que teria grandes chances de ser blefe. Como existem poucas mãos de valor em seu range, opto pelo call. 
 
O Vilão mostra 57, e eu puxo um belo pote”.
 
Eu gostei muito da análise do Guilherme, que é um jogador sendo formado pelo nosso time e evoluiu bastante em pouco tempo. 
 
Essa mão é aquela típica em que o agressor e os defensores praticamente desistem da jogada e quem está em posição decide aproveitar sua vantagem e tentar o blefe. É evidente que a força da mão do Guilherme é fraca, por ser o agressor e não dar combate nesse bordo. O Vilão identificou isso, mas o Guilherme avaliou bem todo o cenário.
 
Espero que vocês tenham gostado este artigo. No futuro, trarei mais análises do nosso time para que possamos analisar juntos.



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