Existe algo que precisa estar bem claro para quem adora jogar torneios sit and go turbo/speed: saber pressionar os adversários na hora em que se está chegando à zona de premiação. Com os pingos nas alturas e a possibilidade iminente de os oponentes poderem receber a “justa recompensa por suas infinitas habilidades”, o jogo torna-se muito mais simples do que se possa supor.
Não estou sendo irônico à toa. Vários fatores influenciam para que o agredido não defenda seu pingo nessa fase vital para a vitória no sit and go. Pode ser pressão financeira (vários jogadores utilizam o seu último tostão nesse torneio ). Pode ser a influência dos softwares de poker que analisam se colocar ou pagar all-in pré-flop possui expectativa positiva (sit and go power tools, por exemplo ). Pode ser também o puro ego e a ignorância de quem acha que não deve arriscar nada porque são muito superiores aos demais jogadores, do tipo, “olha lá, aquele idiota só sabe meter all-in, não tem um mínimo de técnica”.
Acho que dos três fatores acima, só vale a pena ocupar este espaço (e a sua paciência) a questão da análise matemática sobre a expectativa ser positiva ou não ao atacar de all-in. Respeito muito as análises dos softwares que pregam que “pagar uma aposta e arriscar ser bubble do torneio só deve ser feito em casos excepcionais” – pretendo, num futuro próximo, fazer um artigo sobre isso.
Portanto, aqui estou me atendo somente ao fator ataque. Se é correto ou não se segurar contra um roubo de pingo vindo de quem tem fichas para lhe eliminar ou machucá-lo seriamente no torneio não vem ao caso. O fato é que, correta ou incorretamente, poucos jogadores pagam um ataque valendo a sobrevivência do torneio, a não ser que as cartas em mãos sejam realmente boas.
Se você aprender e fizer uso dos conceitos acima, será bem mais fácil escolher a melhor jogada a ser executada nesta seqüência de lances.
Temos uma “posição ideal” ocorrendo. Restam quatro jogadores, três chegam à zona de premiação e um deles está sendo engolido pelo pingo. Outra informação preciosa que deve ser levada em consideração é a próxima seqüência de jogadas. Faltavam alguns segundos para a mudança do pingo para 200/400/ante25. Fiz uma “cera” básica e voltei all-in convicto – o que faria com quaisquer cartas em mãos. Após o óbvio fold (eu chutaria mais de 90% de sucesso nesse caso, fora as vezes em que o oponente paga e eu ganho o confronto), o recado ficou bem claro: “Não chegue perto que eu mordo!”
Como resultado, disparei na liderança, e o melhor é que havia dois adversários à minha esquerda que estavam muito à frente do quarto lugar em contagem em fichas, mesmo após esse re-steal aplicado com sucesso. Para minha surpresa, logo na mão seguinte, o UTG resolve entrar de call.
Minha reação na hora foi falar: “Deu call? Muito obrigado! All-in correndo”. Obviamente, fold de todos. Nem precisa considerar as cartas em mãos. “Ah, mas como você sabe que ele não está de slowplay com um KK na mão?” Eu não sei, eu suponho. Nunca tenho certeza de coisa alguma no poker, apenas faço estimativas se a jogada possui expectativa positiva ou não. Nesse caso me pareceu nítido o quanto se ganha ao enfiar o all-in sem a menor hesitação.
Dessa forma, fiquei com o dobro de fichas dos segundo e terceiro lugares do torneio. Portanto, vou dar uma descansadinha, certo?
ERRADO! ALL-IN NELES SEM HESITAR. Lembre-se de que o objetivo aqui é ficar ITM com a maior quantidade possível de fichas e continuar explorando o fato de que o short stack fica observando a sua situação piorar, sem fazer o movimento de agressão necessário. Ele irá pingar na próxima rodada, e a expectativa dos outros dois na mesa é de esperar para ver o que acontece. O fold deles foi trivial.
Agora, como monstro em fichas, vem um 2-2. Vamos coletar mais fichas ou partir para o confronto contra o short stack, certo?