EDIÇÃO 8 » COLUNA NACIONAL

Jogar o Jogador

É disso que se trata o poker


Raul Oliveira

Na coluna deste mês vou falar sobre um dos assuntos mais importantes do universo do feltro, mas que normalmente não é muito mencionado. Trabalharemos a aplicação das técnicas estudadas e das habilidades desenvolvidas em relação ao aspecto mais importante do poker: o adversário.

É incrível como uma mesma situação pode ser jogada de várias formas diferentes, e um dos pontos que mais deve exercer influência sobre essas escolhas é o adversário. Como sabemos, existem diversos tipos de jogadores, mas aqui vou focar na estratégia utilizada ao nos deparamos com um oponente bem mais fraco e loose, ou seja, que participa de muitas mãos.

A primeira medida é sentar-se à esquerda dele, se possível. Assim, na maioria das mãos, você falará depois e sua vantagem técnica ganhará ainda mais força, graças à posição. Para quem não entendeu exatamente, estar à esquerda de alguém, numa mesa com dez jogadores, implica dizer duas coisas: (a) pré-flop, ao longo de uma volta, ou dez mãos, em apenas uma delas você falará antes dele (quando ele for big blind e você o UTG); (b) pós-flop, somente em uma dessas dez mãos você falará antes (quando ele for o dealer e você o small blind). Então, sua vantagem posicional é absurda.

Partindo dessa premissa, é preciso aproveitar as mãos nas quais você se encontrar em late position e participar de praticamente todas as que ele entrar de limp ou com um raise no gap. Afinal, tendo em vista que metade da mesa já deu fold na maioria desses casos, você vai estar, depois do flop, numa situação de “heads-up em posição” (falando por último) contra um jogador mais fraco – tudo que nós queremos.

Eu, como jogador especialista em limit game, restrinjo um pouco as mãos nessa variante. Isso ocorre porque, sendo o adversário um jogador fraco, a tendência é que ele nos acompanhe (pague as apostas) até o fim, com qualquer ás na mão. Então, para entrar contra ele, são interessantes mãos que tenham uma boa desenvoltura pós-flop, como suited connectors e semi-connectors, ou ainda quaisquer duas figuras, qualquer par ou qualquer ás, que costumam ter bons resultados contra adversários desse tipo.

Em se tratando de no-limit, acho que o leque de jogos que se pode utilizar na situação citada e bem maior, já que seu poder de aposta é forte, tornando mais fácil a missão de fazê-lo largar um ace-high. A propósito, alguns bons jogadores, toda vez que se deparam com um oponente fraco que esteja com muitas fichas, tendem a jogar quase todas as mão em posição contra eles, por verem aí uma grande chance de capitalizar fichas para seu stack. Outro artifício utilizado contra esses adversários é mirar seus blinds, ou seja, toda vez que estiverem no big blind e a mesa rodar em fold, dispare um raise, pois é provável que completem a maioria das vezes, e você terá vantagem de posição.

O cuidado a ser tomado nesse tipo de estratégia é que, quando se exagera na marcação sobre um determinado jogador, isso pode chamar a atenção dos outros profissionais à mesa, que passarão a usar essa arma contra você. Por exemplo, numa mão em que você entrar de reraise sobre o jogador marcado, um adversário competente dará call no seu reraise, falando depois, ou voltará um reraise por cima, já que ele tem quase certeza de que você está jogando com mãos mais fracas do que de costume, dada a situação.

Por isso, é sempre bom variar o jogo durante uma sessão de cash ou num torneio. Quanto à possibilidade de o jogador mais fraco se irritar com a sua marcação, isso não deve ser problema, pelo contrário, talvez só aumente nossa margem de lucro.

Agora, vamos a um exemplo de situação na qual se joga apenas o jogador. Suponhamos que você esteja num torneio e receba 54s no dealer. Nosso oponente abre um raise na posição de cut-off e você resolver dar call. Ambos têm muitas fichas. O flop vem A-J-7 sem nenhuma do seu naipe, mas você, por estar jogando há algum tempo contra ele, já sabe que ele aposta no flop; entretanto, quando é pago e não tem uma mão boa, não repete a bet no turn (por isso você deu call no flop). Na quarta carta abre um 3 e, como esperado, ele dá check. Você aposta 70% do pote e ele desiste, aumentando sua pilha de fichas. Repare que, apesar de o flop ter sido perigoso, o fato de ele ter aberto raise do cut-off, no gap, fez com que a chance de não ter uma mão forte fosse muito grande, e, com um ás no bordo, basta ele não ter essa carta para facilitar – e muito – seu take down nessa mão.

Obviamente, a situação acima é apenas um exemplo, e o importante é mostrar o quanto podemos nos desapegar de nossas cartas em determinadas situações. Então, a dica que deixo é: quando se deparar com um jogador como esse, minimize o valor das suas cartas e maximize o valor da posição que você tem sobre ele. Em se tratando de torneios, claro, é preciso levar em conta também a quantidade de fichas que você e ele têm.

Grande abraço a todos!




NESTA EDIÇÃO



A CardPlayer Brasil™ é um produto da Raise Editora. © 2007-2024. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste site sem prévia autorização.

Lançada em Julho de 2007, a Card Player Brasil reúne o melhor conteúdo das edições Americana e Européia. Matérias exclusivas sobre o poker no Brasil e na América Latina, time de colunistas nacionais composto pelos jogadores mais renomados do Brasil. A revista é voltada para pessoas conectadas às mais modernas tendências mundiais de comportamento e consumo.


contato@cardplayer.com.br
31 3225-2123
LEIA TAMBÉM!×