Nesta coluna, irei confessar alguns dos erros mais estúpidos que já cometi no poker.
Um dos atributos básicos de um bom jogador é a capacidade de ler as mentes dos outros. Ainda assim, eu já li errado minha própria mão em várias ocasiões e, por obra do destino, sempre havia pelo menos mil no pote. Embora todos esses erros tenham ocorrido há mais de 20 anos, isso não é desculpa para alegar que eu era inexperiente. Eu já ganhava a vida com o poker antes mesmo de eles acontecerem.
Certa vez eu achei que minhas cartas Q♥ 7♦ (a luz estava fraca) eram do mesmo naipe. “Bateu” um flush de três cartas de copas no turn, com o A♥ no bordo. Eu apostei e pagaram, e depois apostei no river. Quando fiz isso e pagaram novamente, eu achava que tinha a melhor mão, pois não tinham aumentado. Eu virei minha mão e disse: “Tudo vermelho”.
Meu oponente olhou para minha mão por um momento, e a ficha caiu em cerca de meio segundo. “Eu tenho um flush”, ele disse. Ele mostrou duas pequenas cartas de copas e levou o pote. Eu me levantei e fui dar uma caminhada, profundamente desgostoso. Quando o baralho com quatro cores surgiu alguns anos mais tarde, eu acolhi a idéia imediatamente.
No Binion’s Horseshoe, cerca de um ano depois de ter aprendido hold’em, eu joguei de forma vigorosa com um par de reis em uma partida de no-limit hold’em. Virou um par no final do bordo, mas eu não prestei muita atenção, pois era um par pequeno e a mão tinha sido aumentada pré-flop. Meu oponente mostrou Q-10, o que garantiu a ele dois pares, damas e dez. Eu dei fold. Cerca de um minuto depois, um espectador que tinha visto minha mão disse: “Você largou a mão vencedora”.
Eu disse: “Eu tinha par de reis; ele tinha dois pares”.
Ele respondeu: “Tinha um par no bordo; você tinha dois pares, sendo um maior”. Argh.
Quando eu morava em Dallas, no começo dos anos 80, costumava jogar no-limit hold’em todos os dias da semana. Ainda assim, cometi um erro horrível certo dia. Eu me envolvi em um pote com Everett Goolsby, colocando todo meu dinheiro, tendo um par de damas. O pote veio 3-3-2, sendo duas do mesmo naipe. Eu achava que Everett provavelmente tinha um flush draw, mas ele tinha um par de dois, acertando um full house. Nenhuma dama surgiu. Eu perdi todo dinheiro que tinha no momento, então me levantei e fui à porta, como se tivesse sido espancado. No dia seguinte, descobri que tinha ganhado de Everett: um três surgiu no river para derrubar a mão do meu oponente e fazer da minha a melhor.
Meu erro de leitura também ocorreu em minha variante favorita: pot-limit Omaha. No Golden Nugget, no centro de Las Vegas, costumávamos jogar essa modalidade regularmente. Um dia eu disputei um grande pote com Puggy Pearson, que tinha adotado Omaha como seu jogo preferido. Estávamos de all-in no flop. Puggy tinha a parte de baixo de uma seqüência, que se tornou o nuts, pois eu tinha a trinca mais alta. O dealer deu mais duas cartas, mas não virou um par no bordo. Também não havia a possibilidade de flush. Eu joguei minha mão virada para cima e ela se misturou às cartas do bordo, embora fosse fácil reconstruí-lo. Nesse momento, eu olhei novamente e notei que tinha acertado uma seqüência maior. Nem preciso dizer que Puggy fez exatamente o que Puggy faria. Ele me disse: “Você descartou sua mão” e, para o dealer: “Dê-me o pote”. Eu, é claro, exigi uma arbitragem.
O Nugget, naquela época, tinha o que muitos de nós considerávamos a melhor equipe de supervisores que já trabalhou em uma card room: Doug Dalton, Jim Albrecht e Jim Brenner. Brenner estava trabalhando nessa ocasião. Depois de ouvir a explicação, ele decidiu dar o pote a Puggy. Isso foi razoável tendo em vista as regras do poker de então, quando não se fazia muito esforço para defender um idiota como hoje (sim, eu fui um idiota). Eu sabia que Jim poderia decidir em favor de qualquer um com argumentos plausíveis. Ainda assim, algum tempo depois, Brenner admitiu que seu julgamento foi influenciado de certo modo pelo fato de ele saber que eu o aceitaria graciosamente, enquanto Puggy reclamaria, durante vários anos, todas as vezes em que o encontrasse, dizendo: “Eu perdi um pote para uma mão descartada por causa de seu julgamento idiota”. Como Jim encontrava Puggy quase todo dia, ele teria que suportar isso durante muito tempo.
Note o tema comum de todos os meus equívocos. Eu estava tão concentrado querendo melhorar minha mão da maneira óbvia, que quando fui ajudado de maneira diferente, falhei em perceber meu golpe de sorte.
Terminarei com aquela que eu considero minha maior idiotice durante um jogo. Isso aconteceu por volta de 2001 em Tunica, Mississippi, em uma partida de pot-limit Omaha. Eu tinha amarrado seis mil dólares em cédulas de cem com um elástico. Em um flop sem pares que continha duas cartas do mesmo naipe, eu estava em posição final com uma mão com um rei e dois valetes. O flop tinha vindo K-J-X. Eu não tinha o nuts, e sabia disso, mas certamente me parecia um muito bom. O primeiro jogador apostou, o segundo aumentou e um jogador em posição central foi de all-in. Eu não tinha nada no pote, e poderia ter desistido com elegância. Contudo, depois de uma longa consideração, decidi que alguém certamente deveria ter um rei com essas apostas, além de mim e do cara que foi de all-in. Eu joguei meu pacote de cédulas no pote e disse: “Eu pago”. Depois que a mão acabou, e o jogador que deu reraise all-in levou o pote com sua trinca de reis, eu me senti um idiota. Desperdicei seis mil dólares em um pote no qual não tinha investido nada, sem possibilidade de ganhar.
Mais tarde, comentei essa mão com Garland Walter e perguntei o que ele teria feito. Garland logicamente me perguntou: “Quem era o cara que foi de all-in?”
“Ronnie Graham”, respondi.
“Ele lhe falou o que ele tinha, mas você não escutou”, disse Garland. Foi a pura verdade. ♠
Bob Ciaffone escreveu quatro livros de poker: Middle Limit Holdem Poker, Pot-limit and No-limit Poker, Improve Your Poker e Omaha Poker. Ciaffone dá aulas de poker no endereço eletrônico: thecoach@chartermi.net. No seu site, www.pokercoach.us, é possível encontrar seu livro de regras, Robert’s Rules of Poker, gratuitamente. Bob também tem um site chamado www.fairlawsonpoker.org