EDIÇÃO 8 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Estilo: "Cautela-aggressive"

Dicas valiosas para quem está começando


Gabriel Fullmagai

Este mês vou falar sobre jogar agressivo, mas com cautela.

Quando comecei no poker, meu estilo era muito tight: jogava apenas com mãos premium, tipo AA, KK, AK, AQ (estratégia que, por sinal, ainda é válida). Com o amadurecimento do meu estilo, fui vendo que, para ser um vencedor, teria que “ir para briga” com muito mais mãos: havia chegado a hora de jogar com mãos como TJ, 89, 78, Q8, tendo em mente que elas não serviam para tentar levar o pote com top pair, e sim com dois pares, seqüência etc. Hoje, jogo com qualquer mão, só que dando ênfase a ser um dos últimos a falar pós-flop, de preferência sendo o button, ou seja, tenho priorizado a posição. Essa vantagem nos permite ver a ação dos oponentes, e é impressionante como esse aspecto às vezes vale muito mais do que as cartas.

Sempre que estou em posição e a mesa roda em check, eu aposto, e repito a dose pós-flop. Se, depois do flop, alguém apostar pouco (metade do pote ou menos), volto reraise com middle pair, flush draw ou straight draw. Quando não acerto par nenhum e o jogador coloca aposta mínima (big blind), “volto” nele também. Aqui vai uma lição que aprendi com a experiência: bons jogadores raramente apenas pagam uma aposta (cold-call), eles quase sempre voltam reraise! Somente dar call é um movimento que costuma ser ruim, pois entrega para todo mundo que você tem um draw, um middle pair ou até um top pair com kicker fraco. Ao executar um reraise, você consegue disfarçar sua mão, assustar seu adversário e até fazer com que ele largue um jogo melhor. Mas cuidado: se a aposta dele for acima de 2/3 do pote, pode acontecer de se construir um pote muito grande em relação a seu stack. Portanto, só volte reraise se realmente tiver algum jogo.

Note que o reraise é a melhor forma de se obter uma informação sobre o adversário.  É viável fazer isso com dois pares ou uma trinca, por exemplo. Se o oponente tiver uma mão ainda mais forte, quase sempre vai voltar “a casa”, então é preciso largar.

Como se pode ver, posição é tudo. Para se ter uma idéia da importância desse fundamento na estratégia que venho utilizando, quando sou UTG ou UTG+1 e recebo AK ou AQ, apenas entro de limp, esperando que alguém na minha frente aumente a aposta. Dessa forma, posso resolver se sigo em frente ou largo a mão, pois sei que, depois do flop, serei um dos primeiros a falar, o que dificulta bastante a decisão a ser tomada.

Vou explicar esse tipo de jogada através de um exemplo que aconteceu comigo no 100K de Brasília, organizado pela Nutzz. Eu recebi AK de naipes diferentes no UTG, com blinds caros (500/1000). Como estava Under The Gun, aumentei apenas 3 vezes o big blind (3000). No UTG+1 estava meu amigo Felipe Irvay, que voltou um reraise pesado, de 10.000 fichas, e todo mundo deu fold. Como só restávamos nós dois na mão, a primeira coisa em que pensei foi no modo como o Felipe vinha jogando pré-flop: sempre com uma postura agressiva, pois era um dos chip leaders, com 90.000 fichas. O detalhe é que ele estava colocando entre 3 e 5 blinds com mãos tipo AK, AQ, JJ. Portanto, 10 big blinds era uma aposta diferente das outras que tinha feito – imaginei que ele tivesse AA ou KK. Eu possuía 54.000 fichas, quase duas vezes a média do torneio. Se eu desse apenas call na aposta, seria o primeiro a falar depois do flop, e, mesmo que batesse um A ou K, ainda não saberia se estava ganhando. Então, call, nem pensar. Restou-me a opção de voltar um reraise pesado, mas é aí que está a sutileza do jogo e do raciocínio estratégico: faltavam apenas cinco minutos para se encerrar o primeiro dia de torneio, e quem passasse já estaria na final. Resultado? Larguei a mão. Ele me mostrou JJ, mas tudo bem, eu não queria um coin flip naquela hora.

Vejamos o outro lado da moeda: se eu tivesse entrado de limp no UTG, certamente ele teria feito uma bet de aproximadamente 5 big blinds (como vinha fazendo), e assim eu acompanharia a aposta dele e veria o flop sem medo de AA ou KK.

Moral da história? Se estiver fora de posição, tenha todo cuidado ao engordar o pote, pois, se alguém tiver AK ou AQ e quiser entrar na mão, é quase certo que voltará um reraise contra você, deixando-o confuso e dificultando sua decisão.

No final das contas, acabei ficando em 16º no torneio, entre 200 jogadores inscritos.

Parabéns a Gabriel Almeida, de BH, que faturou mais um evento e mostrou que está jogando muito!  Tudo bem, ele contou com uma “mãozinha” (ou duas) dos deuses do poker, mas isso em nada diminui seu mérito pela vitória! Parabéns também para o Nilson, aqui de Goiânia, que conseguiu um honroso 3º lugar.




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