EDIÇÃO 8 » COLUNA INTERNACIONAL

Confiança é um Trunfo!

Sem coragem não há glória


Phil Hellmuth

Se você passa muito tempo da sua vida em uma atividade — como golfe, por exemplo — tende a testemunhar algo incrível de vez em quando, como uma bola no buraco com apenas uma tacada. Eu já joguei muito poker em minha vida, e eis um desses momentos, uma das mãos mais incríveis e divertidas das que me envolvi.

Primeiro, ela não se deu na televisão ou em outro evento vultoso, mas em um de meus jogos domésticos favoritos, o Wisconsin Homeboys Holiday Poker Game, há pouco tempo. Os blinds eram de $5-$5, o buy-in era de $1.000 e os rebuys de no mínimo $500. O jogo se iniciou na casa de Jon Ferraro em Pewaukee, Wisconsin, ao meio-dia, e à meia-noite havia mais de $70.000 na mesa.

Depois de 14 horas de jogo, eu tinha construído a reputação de alguém extremamente tight. Eu vinha dando muitos folds no começo das mãos, mas várias vezes durante a partida eu pagava uma aposta ou um aumento com A-K ou melhor, apenas para que outro jogador aumentasse ou desse reraise. E quando a ação voltava a mim, eu empurrava grande reraise. Eu vi Paul Clements descartar A-Q imediatamente em uma dessas ocasiões em que eu mostrei A-K. Vamos resumir da seguinte maneira: eu estava jogando um poker sólido, às vezes armando contra os jogadores com mãos grandes.

Agora, você está preparado para isso? Eis como foi incrível a mão. Ferraro aumentou para $40 no button, o que significava que Craig “Spa Man” Hueffner, que estava no small blind, tinha de falar primeiro, e assim ele fez, pagando os $40 com J-9 de naipes distintos.

Eu dei call com 6-3 off e Clements aumentou para $210 com A-K. Eric Behling então pagou os $210 com seu próprio A-K — e Spa Man pagou. Então eu anunciei: “Raise do tamanho do pote”, o que significava que eu pagava $160 e aumentava mais $880. Clements ponderou um pouco e, quando eu disse “Eu não tenho nada”, ele desistiu, provavelmente porque me ouviu dizer isso o dia inteiro quando, na realidade, eu segurava um grande jogo.

Depois, Behling desistiu de seu A-K também! Então eu me virei para meu último oponente e disse: “Eles acabaram de desistir com mãos fortes. Vamos lá, Spa Man, apenas mais $880 para jogar com o campeão!” Spa Man pagou os $880 e, quando o flop veio A-K-9 — formando um par com o 9 dele — ele apostou $400 (aqueles que desistiram devem ter morrido silenciosamente quando viram o que o flop trouxe!)

Eu pensei comigo mesmo que tinha jogado de modo paciente durante a noite inteira, e que era hora de colocar minha reputação arduamente construída para funcionar. Então eu disse de novo: “Eu aumento o pote”. Eu paguei a aposta de $400 e aumentei para $3.340.

Naquele momento, Spa Man fez algo raramente visto em qualquer jogo. Ele virou suas cartas para cima! Eu sabia que a mão dele não estava morta, não nesse jogo, e depois de um minuto inteiro, eu temi que ele pagasse minha aposta. Eu temi por três razões: primeiro, porque eu já o tinha visto fazer alguns calls difíceis; segundo, porque eu sabia que ele não tinha medo de colocar suas fichas no pote; e, finalmente, porque ele parecia não acreditar em mim. Sentindo-me perdido, eu me questionei: como eu posso sair dessa cilada? Minhas cartas não ajudaram, então eu tinha que me confiar em outra coisa.

Então, eu decidi me igualar à loucura de Spa Man fazendo uma loucura própria. Com convicção, fiz uma oferta ridícula: “Spa Man, se você pagar os $3.340, eu coloco $1.000 desse valor para você”. Eu esperei mais 45 segundos e disse: “Essa oferta é válida por mais cinco segundos — cinco, quatro, três, dois...” Spa Man rapidamente disse: “Eu pago. Aqui estão $2.340. Por favor adicione seus $1.000”. Então, eu contribuí com $1.000 em fichas em uma aposta de meu oponente contra mim!

Nesse instante, outros observadores de toda a sala nos tinham rodeado, e, em meio a muita agitação, viram que a carta do turn foi o 2. Eu sabia que precisava ser corajoso o suficiente para continuar com meu blefe, então apostei $3.000, e, para meu grande alívio, Spa Man desistiu. Eu estava emocionalmente confuso quando empurrei minhas cartas em direção ao dealer.

Mas todo mundo gritou: “Mostre a mão, mostre a mão!” Em um jogo normal de Las Vegas, as cartas já teriam se juntado ao baralho, mas o dealer (Wayne “Tilly” Tyler) as mantinha separadas à medida que a multidão gritava mais alto. Enfim, eu pensei comigo mesmo: por que não? Eu então revelei minhas cartas e todos ficaram boquiabertos ao verem meu 6-3 de naipes diferentes! E então todos aplaudiram!

O que aconteceu de incrível nessa mão? Dois jogadores receberam A-K e ambos descartaram antes do flop, que, incrivelmente, trouxe A-K-9. Spa Man mostrou sua mão durante o jogo para todos verem, e depois pagou uma grande aposta. E, o mais incrível, sob o pretexto de demonstrar confiança, eu contribuí com $1.000 de minhas próprias fichas na aposta dele contra mim! (Eu não tenho certeza de como pensei nessa jogada, acho que a idéia simplesmente surgiu na minha mente). Além do mais, a pior mão acabou ganhando, enquanto as melhores perderam.

Às vezes um cara não coloca a bola no buraco com apenas uma tacada porque tem mais habilidade, mas porque tem coragem suficiente para tentar. E no poker, como na vida, certas vezes um grande pote é levado não pelo cara que tem as melhores cartas, mas por aquele que joga com mais confiança.




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