EDIÇÃO 78 » MISCELÂNEA

Final Table

Tradução e adaptação: Marcelo Souza


Craig Tapscott
Grandes campeões analisam mãos chaves que lhes levaram a vitórias nos principais torneios do mundo, seja na internet ou ao vivo.
 
JUSTIN BONOMO E ALGUMAS ESTRATÉGIAS DINÂMICAS DO POKER: TEXTURA DO BORDO, SAIR APOSTANDO NO RIVER E BALANCEAR O RANGE — PARTE II

Justin Bonomo vem jogando profissionalmente há mais de dez anos. Em 2012, ele venceu o EPT Grand Final Monte Carlo No-Limit Hold’em Super High Roller 8-Max e embolsou US$ 2.167.000. Ele é um dos jogadores mais temidos do circuito ao vivo, seja em torneios (MTTs) ou em high-stakes cash game. Seus ganhos combinados (live e online), apenas em MTTs, já ultrapassaram a barreira dos 7,5 milhões de dólares.  
 
Evento 2013 Seminole Hard Rock Poker Open
Jogadores 2.384
Buy-in US$ 5.300
Primeiro Prêmio US$ 1.745.245
Colocação
 
Conceitos-chave: Jogando heads-up; textura do bordo; sair apostando no river; range balanceado.
 
 
Craig Tapscott: Novamente, por que você escolheu essas duas mãos para a nossa análise? [Ver edição 76]

Justin Bonomo: Bem, elas ilustram falhas muito comuns no jogo de vários profissionais. Em ambas, dei check-call no turn, mas a carta do river mudou completamente a textura do bordo. Nessas situações é importante ter um range com o qual você sai apostando no river. 
 
CT: Quando você chegou à mesa final (FT), acredito que você colocou Blair Hinkle como seu principal adversário para conquistar o título. Você veio com algum plano a respeito do jogo dele?
 
JB: Blair chegou à FT como chip leader e estava sentado logo à minha esquerda. Ele gosta de fazer 3-bets, então eu sabia que não poderia jogar tão loose quanto eu gosto, principalmente das posições iniciais. Uma vez no heads-up (HU), eu não tinha muitas informações. Na minha cabeça, ele não tem muito experiência em HUs. Como a maioria dos jogadores de torneio, isso significa apostas muito pequenas e uma postura na seleção de mãos bastante tight. Obviamente, isso é um estereótipo. A verdade é que eu estava no escuro e teria de me ajustar com o andamento da partida. Basicamente, meu plano inicial era jogar de forma sólida e agressiva.

Blair aumenta para 525.000 do button (BTN). Bonomo paga com K9.

JB: A jogada pré-flop aqui é padrão. Blair vinha fazendo sempre 625.000 nesse nível de blind. Esse foi o seu primeiro raise com valor diferente. Eu percebi que era muito provável que fosse um “missclick” e não dei muita importância. De qualquer maneira, não importa o tamanho da aposta, o call com K9s é normal.

CT: E o que você acha de um reraise?
 
JB: Algum jogador inexperiente em HU poderia aplicar uma 3-bet com essa mão sem se perguntar: “Isso é um raise por valor ou blefe?” É importante saber a reposta dessa pergunta. Para o seu range de blefes, na maioria das vezes, você vai escolher mãos que não são lucrativas para dar call, e K9s é definitivamente uma mão que tem valor o bastante para tornar o call lucrativo nesta situação. E se pensarmos no range de valor para a 3-bet, K9s é um pouco fraca para inflar o pote fora de posição. Não está tão longe de ter valor para a 3-bet, mas não é o caso aqui. É uma situação clara de call.

Flop: AK8 (pote: 1.100.000)
Bonomo pede mesa. Hinkle aposta 650.000.

CT: O que está passando na sua cabeça com esse flop? 
JB: Não há muito para dizer. Ele tem todas as mãos com um Ás em seu range, mas eu não, já que eu aplicaria uma 3-bet com Ases fortes. Isso significa que ele tem mais mãos fortes em seu range do que eu tenho. Dito isso, ele pode representar um range bem amplo de mãos fortes. Então, eu espero que ele vá fazer uma continuation bet quase sempre. Uma vez que ele aposta, minha mão é muito forte para cogitar o fold, mas não boa o bastante para dar raise, então...
 
Bonomo paga.
Turn: 2 (pote: 2.400.000) 
Bonomo pede mesa. Hinkle aposta 1.600.000.

CT: Você pode dar call nessa aposta?

JB: Sim, a decisão no turn é bem difícil, mas é a mesma lógica do flop.
 
CT: Que seria?
JB: Eu espero que Blair aposte com muitas combinações de mãos que não acertaram pares, mas que tenham uma carta de copas. Há também algumas mãos que eu derroto, como K-7, que são boas para apostar por valor. Apesar disso, é uma decisão complicada, minha mão é apenas razoável contra o seu range, e ele ainda pode ter um Ás, o que me deixaria praticamente sem chances. 

River: K (pote: 5.600.000)

JB: Eu acertei a carta dos sonhos no river. Como na mão anterior [ver edição 76], é um grande erro sair pedindo mesa automaticamente. Na verdade, é um erro maior aqui do que na primeira mão.

CT: Por quê?

JB: Grande parte do range de valor de Blair, no turn, é um Ás. Isso significa que quando ele está blefando, ele também está representando um Ás. Depois desse river, acho que dificilmente ele apostará por valor segurando um Ás. Eu tenho várias combinações de Rei na minha mão, e ele esperar que eu pague uma terceira aposta com um Oito é muita ambição, apesar de não ser impossível. Quando o Rei aparece, ele está derrotado na maioria das vezes. Veja bem, eu tenho qualquer K-X em meu range de mãos no turn, enquanto Blair dará check com a maioria dos seus Reis no turn.

CT: Então com quais mãos você aposta aqui?

JB: Como antes, com as minhas melhores (top range) e piores mãos (bottom range), assim meu range estará polarizado. Minhas melhores mãos incluem não apenas combos de Rei, mas também flushes, que eu decidi não dar raise no turn. É um pouco estranho jogar um flush dessa maneira, mas, se pararmos para pensar, é a mesma lógica que me faz sair apostando no river com o Rei. O river acerta muito mais o meu range do que o dele, e espero que ele peça mesa com quase todas as mãos que segura. Então, sair apostando com mãos de valor aumenta também o range de mãos que posso blefar nessa situação.

CT: E com quais mãos você blefa?

JB: Com o bottom do meu range, especialmente mãos com bons blockers, como a Q. Eu não pagaria uma aposta no turn com Q-J sem uma carta de copas, por exemplo. Isso significa que todas as minhas mãos que não parearam têm de conter uma carta de copas. Todas elas estão no meu range de blefe, mas há outras. Posso pagar esse turn com mãos do tipo 55x e 78x. Nem sempre tenho tempo na mesa para balancear meu range perfeitamente, mas estou inclinada a blefar com quase todas as minhas mãos que contenham um 8 e com todas piores que 8-X.

Bonomo aposta 4.000.000.

CT: Por que uma aposta desse tamanho?

JB: Eu escolhi um bom valor, 70% do pote. O range dele tem muito mais fulls do que o meu, o que deixa overbets fora de questão. Mesmo que eu possa ter K-2 ou K-8, não há muitas combinações no meu range que me deixam nuts. Apesar disso, meu range é polarizado entre apostas fortes por valor e blefes, então não há razão para apostar pouco. Com certeza, Blair poderia ter escolhido me blefar aqui, já que ele tem muito mais combinações para o nuts em seu range. Felizmente, para mim, ele deu aquele conhecido suspiro de quem diz, “eu não vou aumentar”. Ele pensou por uns três minutos...

Hinkle paga e mostra A8. Bonomo puxa um pote de 13.600.000.

JB: Depois de assistir a toda mesa final, percebe-se o quanto é importante ter uma imagem de alguém que blefa com certa frequência. Se as pessoas estão fazendo “hero folds” porque parece que você nunca blefa, isso será ruim no longo prazo. Por outro lado, se você está sempre colocando seu adversário em situações difíceis, então a chance de as coisas saírem do jeito que você planeja é grande. Durante a mesa final, mostrei sempre estar propenso a blefar, o que certamente funcionou bem a meu favor.

CT: Eu conversei com vários jogadores que acham você um dos melhores jogadores de heads-up do mundo, e você também é um regular de cash games high-stakes. Você poderia dar algumas dicas de como desenvolver seu jogo para HUs?

JB: Minha primeira dica é sempre encarar o jogo de forma acadêmica. Você deve estar em aprendizado constante. Estude tudo o que puder. Para heads-up, especificamente, já que você está jogando contra um único jogador — em um torneio, por exemplo, de nove mãos que você joga, (quase) todas são contra oponentes diferentes —, os ranges serão mais específicos. Alguns jogadores darão muitos raises em bordos com muitos draws, mesmo com um range fraco. Um bom jogador irá explorar isso, blefando nesses tipos de bordos. Você precisa pensar sobre o seu range e o que você pode representar com ele, tanto mãos de valor como blefes. Se você jogar heads-up à base de adivinhação, será difícil ser um vencedor, mas se a cada street, cada ação, você parar para analisar o range do seu adversário, quando menos esperar, estará vencendo de forma bastante natural.  



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