EDIÇÃO 77 » ESPECIAIS

Fernando "Grow" - Multicampeão

Fernando Brunca Garcia, o “Grow”, é o tipo de sujeito de que você já quer se tornar amigo após um simples cumprimento. Com seu jeito simples e carismático, ele conseguiu, fora das mesas, o mesmo respeito adquirido no feltros. Profissional há quase cinco anos, Grow viveu seu melhor ano no poker em 2013. De maneira incontestável, ele unificou os títulos de campeão nacional ao sagrar-se Campeão Brasileiro de Poker e Campeão Brasileiro de Omaha.


Marcelo Souza
Praticamente empatado com seus concorrentes diretos no ranking, Luiz Carlos e Ramon Sfalsin, Grow sabia que qualquer pontuação seria importante na briga pelo título, o que o fez optar por não jogar o Main Event e se concentrar no paralelos. Nos dois primeiros dias, ele viu Ramon perder a chance de ultrapassá-lo ao cair na bolha de dois eventos, do HORSE e do Shootout. 

Os primeiros pontos vieram no torneio Hyper Turbo, mas Luiz Carlos também pontuou, o que frustrou temporariamente os planos do santista de 36 anos, que seguia na segunda colocação do ranking. 
A consagração veio em um dos últimos eventos da série, e de maneira emblemática: uma vitória esmagadora no High Roller, um dos torneios mais difíceis do BSOP. O título garantiu também o bracelete de Campeão Brasileiro de Poker.

Confira a entrevista exclusiva da Card Player Brasil realizou com o novo campeão:

Como foi o seu envolvimento com o poker?
 
Foi na época da faculdade. Uma turma de amigos que jogava de maneira esporádica. Depois, já trabalhando, montamos um home game, que acontecia uma vez na semana. Em 2006, abriram a primeira casa de São Paulo, o Texas Tatuapé. Nunca tinha jogado em um lugar como aquele, profissional. Fui conhecer, achei bem legal e comecei a frequentar. Jogava cada vez mais, uma, duas, três vezes na semana, até que chegou o momento que decidi: “Vou apenas jogar poker”.

E como foi a reação da família?

No começo não soou muito legal. Porque como na maioria de todas as casas, havia a discriminação com o poker, “eu conheço alguém que perdeu casa, fazenda”, “é um jogo ilegal”. Comigo também aconteceu isso. Só que eu perdi a minha mãe cedo. Éramos só o meu pai e eu, mas ele faleceu há algum tempo. No entanto, ele já começou a ver o poker de um jeito diferente. Começou a ver na televisão e a imagem do jogo mudou. Infelizmente, não deu para o meu pai ver que chegou nesse nível profissional, mas a mudança se deve ao trabalho que o pessoal fez para desmitificar esse lance de que o jogo é roubado, de viciado etc. 

Você é um cara que nós costumamos dizer que “sobreviveu ao teste do tempo”, já que vem jogando em alto nível e sendo lucrativo há anos. Como foi seu desenvolvimento como jogador?

Se você for analisar da época que eu comecei até hoje, mudou muita coisa. É o mesmo jogo, mas as pessoas jogavam de forma diferente. Com o passar do tempo, foram criando-se novas tendências e estilos de jogos. O pessoal foi tendo acesso a mais informação, e eu me incluo nesse grupo. Tive que me atualizar desde lá. Por mais que eu seja antigo, da época dos precursores, se eu não tivesse me atualizado, eu teria ficado para trás. Eu tenho um grupo de amigos muito bom, com quem converso muito. São caras que também correm o circuito, e a gente conversa bastante. O poker é um jogo que você tem que estudar, estudar e estudar. 

E o que mudou no poker de 2006, quando você começou, para hoje?

Mudou tudo. Da água para o vinho. Quando eu conheci o poker, o Campeonato Paulista (CPH) era jogado na casa de amigos, em um mesa de bar, com churrasco, com chope. A organização do BSOP não tinha dealer. Era totalmente diferente dos dias atuais. Hoje é tudo muito profissional. Se fosse para mensurar, eu diria que a mudança foi de uns 800%. E foi impressionante como cresceu, de ano para ano, a evolução era gritante. Acho que um dos principais caras que ajudaram, sem dúvida, foi o Igor “Federal”. Com uma visão única de empreendedorismo, ele conseguiu transformar o hobby do pessoal no que é o poker hoje no Brasil.

Hoje, você é o campeão brasileiro, e uma coisa que chamou a atenção no seu título foi quantidade de pessoas que estavam torcendo por você. Mesmo oponentes diretos, como o Ramon Sfalsin, ficaram felizes pela sua conquista. A que se deve isso?

Realmente a coisa foi bem legal. Durante o evento, eu encontrei muita gente que vinha conversar comigo e falar que estavam torcendo, pessoas que eu nem conhecia. Isso me deixou muito feliz. Mas acho que tem muito dessa coisa de eu ser um caras das antigas, que convive com muitas pessoas, conhece muita gente.

Além do título brasileiro, você foi campeão de Omaha. O que você prefere jogar atualmente?

Eu jogo de tudo, mas o meu jogo do dia a dia é Omaha (cash games). Acho até que o Omaha me deu muita vantagem para jogar o pós-flop nos torneios de hold’em. Hoje, todo mundo tem uma noção básica, então você tem que aproveitar aquele detalhezinho. Qualquer vantagem que você conseguir pode ser a diferença entre a vitória e a derrota. 

Até a vitória no evento High Roller, o título estava nas mãos do Luiz Carlos. Como foi o evento? Em algum momento, você se retraiu para não correr riscos?

O High Roller é um evento extremamente difícil. Por possuir o buy-in mais elevado, você vai jogar com mais profissionais, mais regulares. E por causa da premiação, todo mundo vai com aquela gana de ganhar. E o de são Paulo foi sensacional. Foram 275 entradas. Peguei mesas difíceis. Na segunda delas, eu joguei contra Decano, “PIUlimeira” e Matheus Pimenta, caras que já ganharam tudo. Não teve vida fácil. Foi passo a passo, devagar. 

No Dia 2, quando se aproximou a bolha, eu estava apertado, com pouco mais de 10 bbs, mas o estouro foi de repente, sem hand-for-hand. Depois fiquei grande e veio a mesa final. Para mim, era muito importante chegar entre os quatro primeiros lugares, então eu posso até ter tirado o pé em alguns momentos, mas joguei o jogo e o resultado foi a vitória.

O título sempre foi um objetivo ou uma consequência do trabalho?

Na verdade eu jogo todos os anos. Mas em nenhum outro ano que consegui jogar todos as etapas. Este foi o primeiro ano em que eu consegui rodar todo o circuito e me empenhar de verdade para ser campeão. Desta vez, na primeira etapa, eu ganhei o evento de Omaha, então já fiquei em uma boa colocação no ranking. Como tinha começado bem, veio aquele ânimo a mais de brigar pelo título. No meio do ano eu até abri uma boa distância, só que nas últimas etapas o Ramon Sfalsin despontou, o que também só valorizou a conquista, porque a briga foi até o final. E ele é um excelente jogador, uma pessoa do bem. Se tivesse ganhado o título também teria ficado em boas mãos. E o tinha também o Luiz Carlos, que foi fazendo o papel dele e liderou até a última etapa.

Os holofotes agora estão virados para o Grow. O que muda para você?

Eu serei o mesmo cara de antes, e basicamente com a mesma rotina. Vou continuar jogando meu jogo semanal, continuar frequentando os BSOPs, ainda mais agora que não tenho que pagar buy-in (risos). Neste ano já joguei quase todas as etapas do LAPT, para 2014, quero tentar jogar todas. A expectativa também é jogar algo na Europa, como o EPT, para pegar uma experiência lá fora e fazer uma boa reta em Las Vegas, já que não consegui fazer isso ainda.

Atualmente, a grande referência do poker nacional é o André Akkari. Qual a sensação de ver um ídolo como ele dedicar um post inteiro em seu blog para falar sobre o seu título?

O Akkari é um cara sensacional, como pessoa e jogador. Ele merece tudo que conquistou. É o nosso representante. Quando eu vi o que ele escreveu, fiquei extremamente feliz. É muito gratificante.

E o que esperar do Grow para 2014?

Vou brigar. Vou brigar pelo BSOP de novo. Vou ter que trabalhar o ano inteiro para conseguir de volta. Vou correr todas as etapas, jogar para ganhar, para ficar com o título. Vou jogar o LAPT, vou para Vegas, jogar PCA (já tinha a passagem comprada antes mesmo de ganhar o pacote, pois era um torneio que eu queria jogar muito). Acho que 2014 será uma ano legal.
 
 
RANKING FINAL DO BSOP 2013
1 Fernando Grow  2.585
2 Luiz Carlos 2.000
3 Ramon Sfalsin 1.855
4 Zaiden Neto 1.625
5 Pedro Padilha 1.582
6 José Luiz 1.470
7 Daniel de Freitas 1.450
8 Marcelo Horta 1.435
9 Rafael Caiaffa 1.430
10 Bruno Marino 1.377
 
FERNANDO GROW NO BSOP 2013
 
1ª Etapa: PL Omaha (São Paulo) - 530 pontos
3ª Etapa: PL Omaha (Costa do Sauípe) - 420 pontos
3ª Etapa: High Roller (Costa do Sauípe) - 225 pontos
5ª Etapa: Evento Principal (São Paulo) - 100 pontos
5ª Etapa: 6-Max (São Paulo) - 150 pontos
6ª Etapa: PL Omaha (Rio Quente) - 300 pontos
6ª Etapa: Hyper Turbo (Rio Quente) - 60 pontos
7ª Etapa: Evento Principal (Florianópolis) - 100 pontos
8ª Etapa: Hyper Turbo 2 (São Paulo) - 50 pontos
8ª Etapa: High Roller (São Paulo) - 650 pontos
 
OS PRÊMIOS DO CAMPEÃO
Uma moto Ducati Monster 796, avaliada em R$ 37.900
Um pacote completo para jogar o Main Event do PokerStars Caribbean Adventure (PCA)
Buy-in para todos os Eventos Principais do BSOP 2014
Dois braceletes de prata, avaliados em R$ 5.000
Três pacotes de viagem (nacional, internacional e Las Vegas)
R$ 12.000 em dinheiro



NESTA EDIÇÃO



A CardPlayer Brasil™ é um produto da Raise Editora. © 2007-2024. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste site sem prévia autorização.

Lançada em Julho de 2007, a Card Player Brasil reúne o melhor conteúdo das edições Americana e Européia. Matérias exclusivas sobre o poker no Brasil e na América Latina, time de colunistas nacionais composto pelos jogadores mais renomados do Brasil. A revista é voltada para pessoas conectadas às mais modernas tendências mundiais de comportamento e consumo.


contato@cardplayer.com.br
31 3225-2123
LEIA TAMBÉM!×