EDIÇÃO 71 » COLUNA NACIONAL

Ases na manga

Comentários sobre mão jogada na WSOP


Felipe Mojave

No artigo desta edição, vou comentar uma mão que joguei já na World Series of Poker, que segue a todo vapor. A mão aconteceu em um evento de US$ 1.000, cujo stack inicial é de 3.000.

Os blinds eram 50-100, terceiro nível, e eu tinha 6.500 fichas. Naquele momento, a mesa me reconhecia como um jogador bastante agressivo, principalmente pelo fato de eu ter mixado bons blefes com mãos de valor, consequência de eu ter jogado, até então, um número bastante elevado de mãos.

Um dos melhores jogadores da mesa, no meu julgamento momentâneo, abre raise do UTG+1 para 250 fichas. Uma jogadora desconhecida da Alemanha, bem tight, dá o call. Ele tem 5.400 fichas, e ela, 2.300. A ação chega até a mim no BTN. Segurando A-A, faço uma 3-bet para 775 – é bom pontuar que eu havia acabado de ganhar dois potes com 3-bets, em que os oponentes tinham dado fold. A ação volta ao UTG+1 que aplica uma 4-bet para 1.350. Depois de pensar por um bom tempo, a alemã vai all-in por mais 2.250, um total de 2.500. A ação volta até mim novamente.

Como dizemos no poker, "um sonho". Ter a chance de pilotar um stack de quase 150 big blinds, no início de um torneio em que todo mundo tinha 30, seria uma vantagem monstruosa.

Pensando nisso, resolvi aplicar o "slowplay do slowplay", e apenas pagar o all-in dela, tentando incentivar  o UTG+1 a continuar na ação. Nesse caso, eu tinha colocado os meus adversários em mãos bastante específicas para executar essa jogada. O risco era bem menor ali, pois estava jogando contra mãos legítimas. Meu oponente do UTG+1 deu o call e ficou com 30 big blinds para trás.

Nesse momento, eu acreditava que a alemã tinha um range que não poderia fugir de A-Q ou J-J. No caso do UTG+1, na minha cabeça, salvo raras exceções, era A-K ou Q-Q.

O flop veio 6-8-9, rainbow. Meu oponente saiu apostando 400 fichas, e eu fui all-in. Ele pagou instantaneamente com Q-Q. Ela tinha J-J.

Contra aquele range pré-flop, minhas chances de vencer, contra ambos os oponentes, era de 70% – ou seja, as mesmas do que as de jogar contra mão dominada, A-K versus A-Q, por exemplo, mas ganhando mais que duas vezes a minha quantidade de fichas. Foi uma jogada bastante inusitada, mas analisando o risco x retorno, valia à pena.



Já no flop, as minhas chances aumentam para 80%. Infelizmente um 10, no turn, e uma Q no river me fizeram perder tanto o pote principal quanto o paralelo.

Independente do resultado da ação, a análise situacional foi satisfatória. Mesmo contra oponentes desconhecidos, duas horas, nesse limite, são suficientes para um bom jogador ter uma clara noção da mesa que está jogando.

Depois, fiquei imaginando se eu tivesse ido all-in pré-flop. Por mais que eu tivesse um perfil agressivo, o fato de isolar a ação contra uma jogadora tight demonstraria muita força, o que acabaria forçando o meu oponente a dar o fold com uma mão totalmente dominada.

Pelo lado da jogadora alemã, acredito que ela tenha executado a jogada correta. Era totalmente plausível que eu aplicasse uma 3-bet light do botão, assim como o UTG+1 poderia estar contra-atacando com uma 4-bet light, que tende a representar muita força, mas que também pode ser um move bem planejado em cima de um jogador mais agressivo.

Espero que vocês tenham gostado deste artigo. Em breve, trarei mais experiências da maior série de poker do mundo.




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