EDIÇÃO 70 » COLUNA NACIONAL

A Culpada Não é a Sorte


Thiago Decano

Nos últimos dois artigos, falei sobre “valor” e “blefe”. Foi gratificante o retorno que tive. Recebi muitos elogios, mas muitas questões foram levantadas acerca do tema. E, como eu já disse antes, esse é o princípio fundamental do nosso esporte.

Desta forma, é de suma importância o estudo aprofundado, já que, mesmo em diferentes níveis, os jogadores costumam se perder. Já vi competidores excelentes e bem lucrativos, repentinamente, se deparando com uma situação em que não sabem se estão blefando ou jogando a mão por valor. Portanto, é perfeitamente normal o surgimento das dúvidas. O poker é um jogo tão complexo que só a habilidade, técnica e experiência nas mesas fará um jogador compreendê-lo com mais precisão.

Tanto em meus cursos como nos coachings individuais, percebo claramente que jogadores de torneios têm maior dificuldade em entender o conceito de valor e blefe em relação aos jogadores de cash game. E o motivo disso é simples: o jogador de torneios só joga deep stack no início, quando os blinds estão baixos e as mãos são decididas principalmente no flop, turn e river. Do meio para o fim do torneio, geralmente, a média de fichas estão entre 25 e 40 big blinds. Assim, na maior parte das vezes, as mãos são decididas  pré-flop ou no flop.

O ser humano tem a memória seletiva e tende a achar que o motivo de sua queda no torneio foi a mão fatal ou aquela em que perdeu grande parte do stack. Na verdade, ele não percebe que a mão decisiva foi aquela em que ele deu check depois do seu oponente, em vez de apostar extraindo o valor máximo de sua mão no river quando o pote estava grande, ou então foi no “hero fold” que deveria ter dado, mas que acabou dando call e perdendo um caminhão de fichas para um adversário que tinha uma mão de mais valor.

Costumamos culpar a má sorte quando caímos perdendo um AK x AQ, ou aquele flip gigantesco em que ficaríamos entre os primeiros do torneio na reta decisiva. Mas não nos culpamos quando poderíamos ter aproveitado duas ou três situações ótimas para fazer uma 3-bet ou uma 4-bet e acabamos optando pelo fold.



Jogar bem pós-flop é determinar o range de mãos do adversário, quantificar percentualmente quando ele estará com valor máximo, médio ou blefe, saber qual o range de mãos que você está representando e, aí sim, decidir – observando se você tem ou não posição em relação ao oponente – se você deve apostar, pedir mesa ou da fold em cada uma das streets. Relembrando o artigo anterior, caso opte por apostar, você sempre deve ter um objetivo: “Ao apostar ou aumentar uma aposta, você deve desejar que seu oponente desista (blefe), pague (mão de valor médio) ou aumente (mão de valor alto)”.

O jogador de cash game geralmente terá mais facilidade em jogar pós-flop. Ele já está acostumado a situações deep stack, com ação até o river na maioria das mãos. Assim, compreende melhor o conceito de valor e blefe. Porém, como não está acostumado a jogar short – com algo entre 10 e 30 blinds –, muitas vezes, ele se perde. Ele opta jogar pós-flop uma mão que, apesar da boa equidade, não terá espaço para jogadas mais elaboradas como o float (pagar uma aposta sem uma mão, com o objetivo de tirar o adversário da jogada caso ele demonstre fraquezas nas streets posteriores) ou aumentar com nada (air) . Ao invés do call pré-flop, ele poderia ter optado pelo resteal, jogando por stacks.



Muitos perguntam sobre meus cursos e coaching: se é mais direcionado para o live ou para o online, se é para jogadores de cash game ou torneios. Sempre digo que abordo o poker como um jogo único. Em minhas aulas, tenho sempre que me preocupar na evolução do aluno como um todo. Ensinar tanto o jogador de torneios a jogar bem pós-flop como o jogador de cash games a jogar bem por stacks.

Desde já, agradeço confiança dos que já foram meus alunos e que já estão tendo ótimos resultados, assim como o grande interesse para futuras aulas. Vou me desdobrar para atender a todos.

Continuem a acompanhar a minha carreira pelo meu site, twitter ou facebook.




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