EDIÇÃO 7 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Flopei um monstro! E aí?


Hugo Mora

Sabe aquelas vezes em que acertamos um jogo muito bom logo no flop? Aquelas situações em que conseguimos uma mão com a qual apostaríamos todas as fichas para dobrar nosso stack ou tentar eliminar os adversários que estivessem na disputa? Pois é, muitos jogadores não conseguem tomar as melhores decisões para atingir esses objetivos. Na coluna desta edição, mostrarei detalhadamente um caso em que isso ocorreu, e como foi que eu procedi.

Esta mão aconteceu um torneio MTT. Recebi 88 e entrei de limp (blinds em 30/60), estando em uma das primeiras posições da mesa. Dois outros jogadores pagaram, incluindo o small blind, e o big blind pediu mesa. O flop foi 8TA. O primeiro pensamento que veio à cabeça foi que, de algum jeito, eu precisaria colocar todas as minhas fichas em jogo. É nessas horas que devemos ter muita calma e planejar a mão para conseguir atingir nossa meta. Naquela situação, eu estava com 4.900 fichas, a média era de aproximadamente 3.400 (ainda bem no início do torneio), e os blinds estavam muito pequenos se comparados aos stacks.

Então, como elevar tanto as apostas para conseguir que alguém coloque todas as suas fichas em jogo? Os adversários tinham, naquele momento, 2.900 fichas (small blind), 3150 fichas (big blind) e 4800 fichas (limper em middle position). O pote estava em 240 e eu teria que arrumar uma maneira de levar todas as fichas de pelo menos um dos adversários. Decisão n. 1 – as apostas deveriam ser muito altas em relação aos blinds.

Analisando a textura do flop, vimos que o mesmo foi excelente, dado o ás no bordo, e considerando que muitos jogadores gostam de entrar em qualquer mão com Ax. As três cartas são de naipes diferentes, logo, não existem draws para o flush – os resultados aqui não seriam tantos. Se alguém tiver dois pares, como AT ou um (bem menos provável) A8, eu teria grandes chances de conseguir dobrar ou eliminá-lo, a não ser que ele acerte o full. Caso alguém tivesse uma trinca maior do que a minha, eu dobraria o stack desse oponente (mas isso não seria provável, pois alguém com TT ou AA provavelmente daria raise pré-flop). Se alguém possuir uma pedida de sequência nas duas pontas ou na gaveta, devo tentar o mesmo objetivo. Se ele acertar, dobrará; mas aqui as odds são muito favoráveis e não há motivos para não querer arriscar – o que valeria para o caso de o adversário ter dois pares.

Outra situação seria a de eu estar enfrentando alguém com Ax. Muitos jogadores com esse tipo de mão entrariam na briga por este pote. Um detalhe importante é o de conseguir identificar quais dos adversários na mão se encaixariam nesta situação. Teríamos que pensar em duas opções: a primeira seria tentar um slowplay e ver quem dos três outros jogadores estaria realmente disposto a levar o pote. A segunda, em já sair atirando para começar a elevar o valor do pote, visando ter todas as fichas no pote após as apostas no river. Decisão n. 2 – Como havia quatro jogadores na mão, preferi fazer um slowplay.

Se fosse um pote com apenas um adversário, geralmente optaria por apostar para aumentar o pote já naquele momento; a não ser que o adversário fosse um jogador agressivo, que provavelmente apostasse para tentar roubar o pote, caso eu pedisse mesa.

Voltando à mão em questão, após o small blind pedir mesa, o big blind aposta 160 e eu apenas pago. Com vários jogadores no pote, considero essa uma boa estratégia, principalmente para verificar se algum dos outros adversários tem alguma coisa. Se algum deles der reraise, já saberia que é sobre ele que eu deveria planejar o restante da mão. O jogador que entrou de limp em MP aumentou a aposta para 480, e o small blind e o big blind deram fold. Tinha chegando a hora de fazer um planejamento para conseguir levar todo o stack do adversário.

No pote temos 1.040 (240+160+160+480). Eu ainda tinha 4.740 em fichas e seria preciso completar mais 320 – após o reraise no flop, o adversário estava com 4.320. O que fazer para obter todas as fichas dele? A única informação que tinha é que ele gostava de entrar de limp em muitos potes. Será que ele realmente tinha acertado alguma coisa ou estava apenas tentando um squeeze? Se fosse esse o caso, provavelmente não extrairia mais nada dele nas apostas seguintes; contudo, caso ele tivesse conseguido algo, seria possível que eu levasse todas as suas fichas. Decisão n. 3 – Com base nisso, resolvi aumentar ainda mais o pote, dando um mini-raise de 800. Foi uma aposta bem convidativa, que oferecia boas odds ao adversário (principalmente se ele estivesse com algum draw). E ele pagou imediatamente.
Naquele instante havia 2.000 no pote, eu estava com 4.100 fichas e o adversário tinha 3.900. Agora podia facilmente colocar apostas não muito altas, que me dariam a possibilidade de eliminá-lo. No turn tivemos um 5. Uma carta inofensiva que acabou com as possibilidades de um backdoor flush. Resolvi apostar 60% do pote (1.200), dessa maneira, se o adversário pagasse, o pote chegaria a 4.400 e ele ficaria com 2700 fichas. Decisão n. 4 – No river, eu o colocaria de all-in. Desse modo, ele precisaria pagar 2.700 em um pote com 7.300 fichas. Ele teria boas money odds e estaria bem comprometido com o pote, então, segui essa estratégia.

O adversário pagou minha aposta no turn, e no river tivemos um J. Eu perderia a mão se ele estivesse com AA, TT, JJ ou KQ. Nenhuma delas era provável (embora alguns jogadores cometam o erro de entrar de limp com pares altos em estágios iniciais de torneios). Com o reraise que ele executou no flop, não achei que ele tivesse KQ. Apostei o all-in no river. Ele pagou imediatamente, e mostrou AJ. A quinta carta ainda me ajudou ao fazê-lo acertar dois pares, e fiquei bem confortável em fichas: a estratégia funcionou.
O que quero deixar claro na coluna deste mês é que, em situações como essa, nas quais conseguimos um jogo muito forte no flop, é preciso sempre fazer um planejamento estratégico para conseguir obter o máximo possível e, de preferência, levar todas as fichas do adversário que estiver na mão.

A nossa linha de raciocínio dependerá de vários fatores: quantos jogadores estão na mão; qual o estilo de jogo dos mesmos; quantas fichas possuímos, em comparação com os blinds e com o pote; qual a nossa imagem na mesa etc. Algumas vezes é preciso executar um slowplay, em outras, é melhor sair apostando. Tudo depende desses (e de outros) aspectos. Mas, raciocínio e planejamento são fundamentais para atingirmos nosso objetivo.

Bons flops a todos!




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