EDIÇÃO 69 » COLUNA NACIONAL

Chegou o momento de descer?

Saber a hora de descer os limites é uma das habilidades necessárias para uma carreira de sucesso


Fábio Eiji

Construir um bankroll confortável, desenvolver seu nível técnico e jogar os limites mais caros disponíveis, concorrendo às maiores premiações, recebendo reconhecimento e disputando as primeiras posições nos rankings dos sites especializados. Esses são, sem dúvidas, os primeiros sonhos da maior parte dos aspirantes a jogador profissional. E realmente é muito satisfatório chegar ao nível de jogar, regularmente, os maiores torneios das principais salas de poker. Enfrentar os melhores jogadores do mundo é estimulante – e ser reconhecido por isso, satisfatório.

Porém, quero falar aqui sobre um lado que tem menos glamour e, ao mesmo tempo, é realidade na história e cotidiano de quase todos os jogadores profissionais: o momento de descer os limites (move down). Apesar de ser um tema relacionado a qualquer modalidade, pretendo me ater aos torneios.

Considerando um cenário ideal, fazer move down nos limites que se joga, geralmente, seria uma grande perda de tempo. Isso porque, neste caso, o jogador tem um psicológico muito forte e um bankroll grande o suficiente para enfrentar as já previstas variações (swings) em seu gráfico de ganhos. Ou seja, perder um determinado valor já faz parte do planejamento do nosso sóbrio e maduro herói, que confia plenamente em suas habilidades e sabe que tudo isso faz parte de sua vitoriosa história.



Mas como a maioria dos jogadores, mesmo os profissionais, não têm um perfil como o do exemplo acima, há três cenários mais comuns em que o move down se mostra necessário:

1)    QUANDO O BANKROLL APERTA
Este é o cenário mais corriqueiro. Ele acontece quando o jogador subestima o controle de bankroll e o tamanho das swings, que, em MTTs, podem ser assustadoras. Não é raro que jogador passe meses sem lucrar. Existem diversas histórias de profissionais vencedores que já ficaram até um ano inteiro perdendo.

2)    QUANDO O JOGADOR ENTRA EM TILT

O segundo cenário geralmente está relacionado ao primeiro. É muito difícil jogar o seu melhor se os resultados não aparecem. Quando as coisas começam a sair dos eixos, muita gente muda o estilo de jogo, chegando a ficar mais tight ou muito mais spewy. Isso faz com que elas sintam-se pressionadas demais em retas finais, deixando de fazer as jogadas necessárias.

3)    QUANDO A SUBIDA DE LIMITES (MOVE UP) FOI ERRADA

Já o terceiro cenário, também muito comum, dá-se quando o jogador gerencia equivocadamente e de maneira amadora a sua própria carreira, apressando objetivos.

Neste caso, inclui-se ainda a falta de maturação do jogador em diversos aspectos, inclusive em suas habilidades. Aqui, muitas vezes, a variância serve convenientemente de desculpas para os fracassos – quando, na verdade, ela já deveria ter sido considerada no momento do planejamento do move up.



Em MTTs, as swings também acontecem pra cima. Então, é comum que jogadores vençam torneios mesmo sem estar devidamente capacitados para tal feito. Isso acaba afetando na avaliação do seu próprio nível de jogo e levando a uma supervalorização de si mesmo.

Portanto, meu primeiro conselho é aquele que já é dito aos quatro ventos há muito tempo: uma gestão saudável de bankroll que lhe permita jogar tranquilamente e que aguente as variações às quais todos os jogadores estão sujeitos.

Geralmente, as variações são normais, mas não significa que deva aceitá-las passivamente – o que nos leva ao segundo conselho: esteja atento à qualidade de seu jogo! Tenha uma rotina de estudos que lhe permita manter a cabeça no lugar e perceber os erros mais básicos.

Por último, mas não menos importante: seja honesto, humilde e sincero consigo mesmo. Quanto mais alto o limite que se joga, maior tende a ser a variância, pois lá se encontram os jogadores mais qualificados. Assim, além de considerar o bankroll e se preparar para as oscilações, ainda é necessário uma rigorosa autoavaliação, do seu próprio nível técnico, para que se saiba se está realmente apto para o novo desafio que se apresenta.





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