EDIÇÃO 68 » COLUNA NACIONAL

Trocando de ares


Fábio Eiji

Olá, leitores da Card Player. É com imensa satisfação que estreio a minha coluna, o que representa muito pra mim, já que sou leitor antigo da revista.

Pra quem não me conhece, me chamo Fábio Eiji e jogo com o nick “binhoeiji” no PokerStars. Sou jogador profissional de poker há três anos, especializado em Multi-Table Tournaments (MTTs). Tenho mesas finais no SCOOP, WCOOP, MicroMIllions, Sunday Million e na maioria dos grandes torneios regulares online.

Para esta primeira coluna, escolhi falar sobre um momento comum na carreira de muitos jogadores: a transição dos Sit-and-Go (SNGs) para os MTTs. Falo com certo conhecimento de causa, aproveitando a experiência que tive quando, no começo da minha carreira, optei por essa mesma mudança.

Meu primeiro contato com uma rotina “mais profissional” foi no extinto SNG Team Pro, responsável por grande parte da minha formação na área. Alguns meses depois de deixar a equipe, aceitei o convite para fazer parte do 4bet Team Online, dessa vez voltando as atenções aos MTTs. Esse processo foi bem mais simples para mim, pois tive supervisão, aulas e um programa de stacking (“cavalada”), que me deram bases suficientemente firmes. Porém, a maioria, não tem essa oportunidade e acaba se deparando com grandes dificuldades, que certamente serão atenuadas com as dicas a seguir:



1. MANTENHA A CABEÇA ABERTA PARA NOVAS ESTRATÉGIAS SHORT STACK

Geralmente, o jogador de SNG é muito disciplinado e domina os mais básicos conceitos matemáticos, isso faz com que sigam algumas “regras” à risca. Eles têm dificuldade – com certa razão – em compreender que alguma jogada diferente de shove (all-in), pré-flop, com 10 big blinds seja boa, por exemplo.

Porém, o jogo short stack nos MTTs evoluiu de tal maneira que, hoje, qualquer jogador recreativo domina o básico sobre a estratégia padrão. Essas “verdades” sobre o jogo short stack já foram discutidas, pensadas, repensadas, desconstruídas e reconstruídas. Portanto, é preciso que o jogador esteja preparado para enfrentar, compreender e se adaptar a essa nova realidade. 

2. CUIDADO PARA NÃO FICAR NIT OU SPEWY PRÉ-FLOP


Um dos principais ajustes que deve ser feito é em relação aos ranges pré-flop, principalmente devido ao costume de jogar em outra faixa de stacks nos SNGs. A inexperiência, somada à velha mania de se jogar muitas mesas simultâneas, tende a atrapalhar esse ajuste. Muitas vezes, ser nit (extremamente tight) se configura num erro grave. Não estou aconselhando que você jogue muitas e muitas mãos, mas que esteja focado para não deixar passar mãos demais.

Ao mesmo tempo, é muito comum que os jogadores oriundos do SNG tenham dificuldade e, portanto, receio de jogar pós-flop. Isso faz com que, na ânsia de resolver logo a mão, o jogador adote, despropositadamente, uma postura spewy pré-flop, ou seja, dando muitos calls ou shove marginais com grandes stacks. É preciso ter cuidado para não colocar todas as fichas em situações nas quais ainda não temos o devido controle.

3. FOQUE SEUS ESTUDOS NO JOGO DEEP STACK

Esta dica é um complemento da anterior. O jogador de SNG já domina o jogo short stack (pelo menos o básico), então, é hora de corrigir uma falha que é comum entre grande parte dos jogadores que migram dos SNGs para os MTTs: o jogo com mais de 30 BBs, especialmente quando falamos em stacks com 100 BBs ou mais.

Certamente, essa foi a maior dificuldade que tive – e ainda tenho, resquícios dos tempos de grinder de SNG.  Algo normal, sendo que, na maior parte do tempo, jogamos com stacks entre 08 e 15 BBs em SNGs. Porém, em MTTs, frequentemente estaremos com 40 ou 50 BBs e enfrentando um ou dois jogadores decentes, capazes de explorar nossas maiores fraquezas. E não se assuste, leva tempo e muitos erros até dominar os principais aspectos do jogo pós-flop e deep stack.



4. SEJA AINDA MAIS RÍGIDO NO CONTROLE DE BANKROLL
O jogador que obteve sucesso em SNGs, provavelmente, já segue essa regra básica para poker: uma gestão de bankroll (BR) segura. Então, acredito que isso não será um grande problema. No longo prazo, são poucos os exemplos de sucesso de quem subestima essa regra.

No entanto, as oscilações em MTTs são muito maiores do que as dos SNGs, forçando-nos a adotar um controle de BR ainda mais rígido. Penso que a velha ideia de se jogar com 100 buy-ins de bankroll é bem ultrapassada, considerando os MTTs – principalmente se não estivermos acostumados com grandes swings. Neste caso, é prudente que sejamos mais rigorosos na escolha dos torneios, tanto nos tipos (rebuy, deep, 6-max etc) quanto nos stakes (limites). Essa é a única defesa que temos sobre a temida variância, que certamente será tema de futuros artigos por aqui.

Essas dicas, apesar de básicas, seriam de extremo valor pra mim na época em que eu jogava SNG,  e espero que ajudem àqueles que estejam fazendo ou pretendam fazer essa transição.





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