Ao jogar e realizar um exercício de autoanálise bem-feito é fácil notar que, em alguns momentos, por algum motivo, não conseguimos pensar com clareza. Por um instante, é comum ficarmos confusos e aflitos; ou pensar no que não se deve pensar, perdendo assim a linha de raciocínio.
Esses estados de perturbações mentais, em maior ou menor grau, atingem quase 100% dos jogadores – e, a meu ver, é a causa primária dos principais fracassos no poker.
Tudo isso tem uma razão. Aos que ainda não a identificaram, eu apresento-lhes o pior vilão das mesas, um velho conhecido que chamamos de “ansiedade”.
Antes de qualquer coisa, é preciso entender que a ansiedade é um fenômeno que pode ser benéfico ou prejudicial. Tudo vai depender da sua intensidade. Por um lado, ela te estimula a entrar em ação. Por outro, em excesso, faz exatamente o contrário: deixa-te travado – distorcendo a realidade e, de maneira geral, impedindo reações.
Uma de suas principais causas nos jogadores de poker é a falta de controle e conhecimento sobre o que está acontecendo na mesa. Sabemos que é muito mais fácil e menos estressante abrir um raise pré-flop do que jogar uma mão em que sofremos um reraise de um jogador desconhecido. Quanto mais familiaridade com o poker melhor será a capacidade de reagir às situações não corriqueiras, maior será a confiança e, consequentemente, menor a ansiedade.
Também noto que os jogadores – principalmente alguns alunos que um dia foram grandes vencedores em limites altos, mas que hoje estão ganhando menos – estão muito ansiosos para voltar a ganhar como antes. As expectativas são altas, e eles querem os resultados de forma rápida. Isso atrapalha bastante. Eles acabam vivendo intensivamente o futuro, mas deixam o presente de lado. Os que retornam a seus tempos áureos são os que gerenciam melhor as expectativas e, naturalmente, acabam percebendo melhor as nuances do jogo.
A segunda dica para controlar a ansiedade e ainda melhorar a qualidade de vida é bem simples: aprender a respirar da maneira correta. A respiração tem influência direta nos nossos estados mentais e emocionais – é esse o motivo que faz você perder o ar quando segura um par de ases. Na verdade, você acabou de contrair a barriga e parou de respirar. Como se não bastasse, você agora está respirando de maneira mais curta – normalmente, a respiração acontece de forma constante e longa. Daí a importância em praticar atividades que estimulam uma maior consciência aeróbica, como meditação e exercícios físicos, por exemplo.
Segundo o Dr. David Frawley, considerado o maior especialista ocidental em Terapia Ayurvédica, "nossa energia vem, basicamente, da respiração (...) Se o cérebro não recebe a quantidade certa de oxigênio, não temos a energia vital suficiente para nos desenvolver e mudar". Ele ainda fala: “Aprendendo a controlar a respiração, damos fim a todas as perturbações da mente e dos sentidos”.
Se você sofre com a ansiedade e joga poker online, uma das dicas mais interessantes que eu posso te dar é jogar em câmera lenta. A definição de jogar em câmera lenta seria teclar, clicar e mexer o mouse lentamente, com pausas para tomar cada ação. Se fizer esse exercício em todas as atividades do dia, você conseguirá diminuir a ansiedade e executar diversas tarefas em pleno potencial.
Agir com rapidez só contribuirá para um estado mental ansioso e compulsivo e te colocará a um passo de entrar em tilt. Então, em vez de cometer esse erro, observe o tempo de aposta dos seus adversários e identifique quem são os jogadores mais ansiosos da mesa.
Detectá-los é simples. Todo hábito compulsivo é rápido e demonstra um estado de ansiedade. Fique atento a quem está fazendo apostas e dando calls muito rápidos, principalmente os ‘’hero calls’’, que, teoricamente, seriam situação em que os jogadores mais deveriam pensar. Sabendo quem são os ansiosos da mesa, fica fácil explorá-los.
Primeiramente, devemos fazer notes de todos eles. Um exemplo, “deu hero call sem pensar no river”. A partir daí é interessante fazer apostas fortes, próximas do valor pote, com mãos de valor, simulando um range em que o volume de blefes é maior do que as mãos de valor. O vilão nos colocará em um range polarizado e pagará mais vezes com mãos marginais, e, de quebra, vamos extrair mais fichas.
Para finalizar, gostaria de enfatizar mais uma vez a importância da autocrítica. Uma pessoa é sempre diferente da outra, logo, o que funciona para um deve ser questionado e adaptado para o outro. Mas uma coisa é certa, trate o jogo com a seriedade de um atleta e será recompensado por isso. Mantenha a postura, respire e curta o presente. O momento é agora!♠