EDIÇÃO 60 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Tamanho é documento - Parte III


Diógenes Malaquias
Para encerrar nossa série sobre tamanho de apostas, vou analisar uma mão que aconteceu durante o 100K Garantidos do Sierra Poker, novo clube de Belo Horizonte, e que gerou bastante discussão.

O torneio já havia começado há algumas horas. Para dificultar o jogo para os meus adversários, eu jogava tight, agressivo e com alguns blefes. Das 25.000 fichas iniciais, eu já tinha 40.000 naquele momento. Apesar de eu não jogar tantas mãos, a minha imagem na mesa era um pouco loose e de jogador agressivo, pois minha frequência de raises era alta, e eu havia feito algumas 3-bets pré-flop, sem sucesso.

Os blinds estavam em 300/600 com antes de 50. Do UTG, eu aumento para 1.225. A mesa roda em fold, e o Júnior do BH Poker paga no big blind. Ele tinha A-2 do mesmo naipe. Eu não gosto do call pré-flop. Ele vai acertar dois pares apenas 2% das vezes. Flush draw, 11% – das quais, ele só vai completar seu flush em uma a cada três mãos. E, 27% das vezes, quando ele acertar um par, estará jogando fora de posição no pós-flop e com uma mão com boas chances de estar dominado. Mesmo com um pot odds de quase 4-1, esse call não vale a pena.

O flop vem A-Q-2 rainbow. O Júnior pede mesa, eu aposto 1.600, em um pote de 3.300, e ele aumenta para 4.000. Eu pago. Aqui, se eu quisesse colocar todas as fichas no pote, eu não precisaria dar uma 3-bet. Apenas um call flop, e uma aposta no turn e outra no river já faria o serviço. Isso é bom, pois eu posso fazer o mesmo movimento para aplicar um float no meu adversário.

Sobre o check-raise no flop, quando você usar essa jogada é preciso pensar em dois pontos:

1.    Eu faço mãos melhores desistirem?
2.    Eu faço mãos piores continuarem?

Lembre-se de não cair no erro de aplicar um check-raise para “saber onde está” – e mais lucrativo pensar em probabilidades e ranges do que usar uma aposta para isso.

Assim, eu não faria essa jogada no flop. Eu não vejo mãos melhores desistindo, e das mãos que continuam, poucas são piores. Além disso, não há muitos draws para nos preocuparmos. Na maioria das vezes, eu prefiro apostar no flop. Dar mesa e apenas pagar a aposta do adversárop também é uma boa opção.

O turn é carta que não muda nada, um 7. O Júnior aposta 5.000, e eu pago.

O river trás um K, deixando o board A-Q-2-7-K. O pote tem 21.300 fichas. O Junior dá mesa.

Aqui, há várias observações a serem feitas:

1 – Em geral, quando o jogador que é o agressor pede mesa, ele já sabe o que vai fazer. Então, eu posso manipular o tamanho da minha aposta de acordo com a força da minha mão;
2 – Com uma mão boa, nós ganhamos mais dinheiro apostando forte, e sendo pago menos vezes, do que apostando pouco, e sendo pago mais vezes.
Eu apostei 10.000, o Júnior pensou por muito tempo e acabou largando.

Mas e aí? Qual a minha mão?
Levando em contas as mãos fortes, as possíveis combinações são: 2-2, Q-Q, A-A, A-Q, A-K.

De blefes, eu posso ter um K-Q e Q-J do mesmo naipe, pois elas bloqueiam possíveis combos de A-Q e Q-Q que o Júnior possa ter. Sendo assim, deixam o range de valor do Júnior mais fraco – e, no flop, ainda possuem outs para dois pares ou trinca. Outras mãos possíveis são J–T, K–J, K–T do mesmo naipe. Combos bons para o float, já que possuem back door flush draw e broca.

Nesse caso específico, eu possuía QQ.

No mais, parabéns ao Sierra pelo torneio, e um abraço ao pessoal que ficou interessado na mão.

FICOU NA DÚVIDA?
3-bet – O mesmo que reraise.
Back Door Flush Draw – Quando você tem a chance de fazer um flush apenas na última carta.
Rainbow – Quando as cartas que estão no bordo são todas de naipes diferentes.
Float – Quando o um jogador dá call em posição, sem uma mão pronta, para tentar puxar o pote no turn ou no river.




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