EDIÇÃO 6 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Avaliando um Jogo

Desenvolvendo um ritual quando entrar em uma partida


Ed Miller

Muitos estudantes querem saber como eu avalio uma partida. Assim que chego à mesa, o que eu faço em seguida? Quantas fichas eu compro? Qual é a minha estratégia nas primeiras mãos? Em quê eu presto atenção? Como eu uso esses momentos iniciais para conseguir uma vantagem que persistirá durante toda a sessão? Dividirei com vocês o modo como eu lido com essas decisões iniciais. Outros jogadores que conheço fazem coisas completamente diferentes, então saibam que minha abordagem não é a única. Mas, mesmo que proceda de modo diferente, você pode achar útil saber como outras pessoas chegam ao jogo.

Eu venço partidas de no-limit hold’em sobrepujando meus oponentes. Para fazer isso, preciso de duas coisas: conhecimento de suas fraquezas e uma estratégia que as explore. Do contrário, não há como superar ninguém, e fico limitado a movimentos elementares para vencer a partida. Com o tempo, fundamentos sólidos irão ganhar, mas uma estratégia de exploração sob medida vencerá mais e melhor.
Quando eu me sento pela primeira vez em uma mesa, quero aprender sobre meus oponentes o mais rápido possível. Para tanto, geralmente compro cerca da metade do buy-in máximo. Por exemplo, em uma mesa de $2-$5, costumo começar com $300 em vez dos $500 máximos. Em colunas anteriores eu disse que jogar com um estoque menor do que o de seus oponentes possui vantagens inerentes. Então, quando chego a uma partida, enquanto sei relativamente pouco sobre meus oponentes, uso essas vantagens jogando com poucas fichas. Às vezes, depois de uma volta ou duas, completo meu estoque até o máximo permitido. Mas, ocasionalmente, se eu achar que é melhor jogar com um stack menor, não compro mais. Não entrar com o máximo lhe dá flexibilidade: antes de qualquer mão você pode sempre comprar mais fichas, mas jamais pode tirá-las da mesa.

Eu também jogo tight. Particularmente acho que sou mais observador quando não estou participando de uma mão do que quando estou no pote. Talvez o envolvimento emocional obscureça meu pensamento, mas, quando meu dinheiro não está em jogo, minha leitura fica mais aguçada e meu pensamento estratégico mais ágil. Assim, a não ser que eu receba algo obviamente digno de ser jogado, me abstenho das 10 primeiras mãos mais ou menos, e deixo meu cérebro se concentrar totalmente em analisar meus oponentes e formular estratégias.

Que tipos de coisas eu procuro? Primeiro, eu quero saber qual é o tamanho padrão do raise pré-flop e com que freqüência as pessoas pagam. Online, aumentos pré-flop geralmente são bem pequenos, mas ao vivo costumam ter seu próprio tamanho padrão, que pode variar entre três e dez vezes o valor do big blind, ou até mais (já joguei em mesas de $1-$2 em que os jogadores rotineiramente abriam o pote com $25 ou $30). Eu nem sempre me atenho ao raise padrão — nunca, na verdade — mas preciso saber o que os outros jogadores esperam e o que parece comum e incomum para eles. Também quero saber quantos jogadores pagam raises pré-flop. Digamos que dois jogadores entrem de limp em um jogo de $2-$5, e então alguém suba para $30. Esses dois irão pagar ou desistir? Aquele que aumentou deve esperar um oponente ou quatro? Essas observações me ajudam a determinar com que mãos eu devo aumentar antes do flop e qual será o tamanho do raise que farei.

Em seguida, procuro um jogador que pareça estar jogando muito loose. Se alguém entra de limp e paga um raise mais de uma vez, começo a me concentrar nele. Jogadores assim não apenas são muito lucrativos, como também é provável que eu jogue muitas mãos contra eles, já que entram em muitos potes.

Quando me concentro em um jogador, tento desenvolver um modelo de seu processo decisório pós-flop. O simples fato de alguém ser loose pré-flop não implica dizer que vai continuar desse jeito ao longo da mão. Na verdade, alguns jogadores agem de modo oposto: ficam felizes em ver o flop pagando um raise ou reraise com uma mão fraca, mas relutam em pagar grandes apostas pós-flop sem ter um monstro. Esse é meu tipo favorito de oponente, então eu sempre fico contente quando detecto esse padrão. Suspeito que alguém seja assim quando o vejo pagar alguns aumentos pré-flop, para depois cair fora diante de apostas no flop ou no turn.

Alguns jogadores loose não são tão fáceis. Se eles não desistem, eu tento descobrir com que tipos de mãos estão pagando. Eles pagam no flop de forma automática, mesmo se aparentemente não se beneficiaram? Pagam apostas desproporcionais quando têm draws? (Recentemente, numa dessas 10 primeiras mãos em uma mesa, vi um jogador loose pagar um all-in de $900 no turn em um pote de $200 apenas com um flush draw. Naturalmente, ele acertou o jogo no river).

Eu também procuro jogadores traiçoeiros ou agressivos. Quando seus oponentes são dóceis, esperando mãos fortes para fazer grandes apostas ou aumentos, você pode se dar bem fazendo uso da esperteza. Por exemplo, se parecer que ninguém quer um pote de $40, é possível blefar com apenas $5 ou $10, economizando muito dinheiro se alguém pagar. Ou, se você tem um par alto decente, mas não quer fazer uma aposta forte, pode colocar uma modesta, confiante de que apenas mãos melhores aumentarão, e as que você pode derrotar, pagarão. Essas jogadas podem impulsionar seus ganhos em uma partida “sem surpresa” de $1-$2 ou $2-$5.

Contudo, contra os agressivos elas podem falhar. Jogadores traiçoeiros irão perceber sua fraqueza e lhe pressionar com blefes e mini-raises. Então eu tento descobrir quais jogadores não irão me punir se eu “sair da linha” e quais deles irão, e não usar jogadas assim contra os jogadores perigosos.

É esse meu ritual quando chego à mesa. Eu começo com poucas fichas, sabendo que sempre posso comprar mais, mas não posso retirá-las do jogo. Descarto a maioria de minhas mãos iniciais, e gasto minha energia mental para identificar as condições da partida (especialmente o quanto as pessoas aumentam pré-flop e com que freqüência pagam) e analisar alguns jogadores interessantes. Se alguém parece ser particularmente loose, passo a observar seu jogo pós-flop e tento desenvolver um modelo de como ele toma decisões. Depois, aperfeiçôo minha estratégia para explorar os erros deles. Durante todo esse tempo, tenho o cuidado de procurar jogadores perigosos que podem me impedir de usar algumas jogadas mais óbvias.

Em minhas próximas colunas, colocarei essas idéias em prática, escolhendo condições de jogo hipotéticas e explicando como eu reagiria a elas.




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