Existem situações, no poker, em que você sabe que tem a melhor mão e que o oponente não está forte o bastante encarar uma aposta. Nesses casos, muita gente costuma dar check, torcendo para que o adversário blefe. Aqui, veremos como induzir esse blefe fingindo ter uma mão com pouca força. Na nossa série sobre jogadas eficientes, mas pouco utilizadas, chegou a hora de aprender a “dar uma de migué” para arrancar ainda mais fichas do inimigo.
Suponha o seguinte cenário: uma mesa de $5-$10 em que todo mundo tenha 100 big blinds. Você está no big blind com A♣ J♠, e o cutoff dispara $40. A mesa roda em fold até você, que volta reraise de $125. O cutoff paga, o pote agora tem $255, e vocês dois veem o flop com J♣ 2♠ 7♦.
A menos que ele tenha acertado uma trinca no flop ou esteja fazendo slowplay com um par alto, a melhor mão aqui é a sua. Você decide apostar $175, e toma call. Embora seja possível que ele esteja fazendo um slowplay, esse não deve ser seu foco. Em um flop como esse, você simplesmente não terá como desistir da mão, a menos que tenha uma leitura sobrenatural do oponente – ou que ele tenha a reputação de ser absurdamente tight, duro feito uma rocha. Levando em conta que não há quedas neste bordo, quase sempre seu oponente terá uma mão feita marginal, algo como 8-8, 9-9 ou 10-10, ou J-10 a K-J.
Com o pote em $605, e você e o adversário tendo $700 restantes, um A♥ vem no turn. Embora esta possa parecer uma ótima carta, ela acaba com a ação. Antes de o ás vir no turn, a gama dele consistia de mãos que tinham apenas dois ou três outs, em um bordo que ainda parecia tentador para você.
Agora que uma azeitona bateu no turn, seu oponente deve ter, na melhor das hipóteses, dois outs. E quase nenhuma confiança em suas cartas. O difícil será extrair valor da gama dele. A melhor forma de fazer isso é simplesmente apostando fraco no turn para induzir ação. Colocar mais $125 no pote de $605 deve ser o bastante.
Essa aposta é uma coisa linda. Primeiro, dá odds ruins ao oponente para tentar completar a mão. Depois, desperta no jogador agressivo o instinto de dar raise para tirar você da disputa. E, finalmente, ela confunde o sujeito, que vai ficar sem saber o que fazer. Com esse call a preço de liquidação, ele simplesmente talvez não consiga dar fold com mão nenhuma.
Essa é daquelas jogadas sem efeitos colaterais conhecidos, pois não há como extrair valor da gama dele com uma aposta alta. Além disso, como ele está com morrendo de medo de tomar um all-in na cabeça, é pouco provável que faça graça e aposte com uma mão pronta querendo que você pense que é um blefe.
Outra grande vantagem dessa jogada é que você pode colocar alguns blefes em sua gama. Digamos que, no mesmo cenário, você tenha 5♠ 6♠ em vez de A♣ J♠. Dá para apostar $125 no turn, arriscando somente isto para ganhar os $605 do pote. E foi um blefe descarado, com seis como carta mais alta. Para ser lucrativo, ele só precisa dar certo uma a cada cinco tentativas. É um bom negócio, e uma bela forma de você equilibrar sua gama nessas situações.
Há ainda uma variação bem interessante desta jogada, que eu batizei de “c-bet rivotril”. Ela é recomendada contra jogadores “tarja preta”, aqueles insanos, e deve ser utilizada principalmente no flop, com moderação. Todos nós já tivemos alguma experiência com malucos que pagam seu raise fora de posição e dão check-raise em aparentemente todos os flops. É complicado combater essa mania, pois é difícil acertar alguma coisa capaz de encarar um check-raise logo nas três primeiras cartas. Se sua mão não for boa o bastante para aguentar uma pancada assim no flop, é ainda menos provável que ela consiga enfrentar uma aposta no turn, de modo que seu stack inteiro pode estar em risco nesse ponto.
Ainda nesta mesa $5-$10, em que todos têm stacks de 100 big blind, vamos dizer que você dê raise para $40 de posição inicial e seu oponente pague do big blind. O pote contém $90.
Esqueça as cartas aqui. Foque na dinâmica do jogo. Você vê seu oponente dar check. Em vez de disparar uma continuation bet no flop, dê check também. Você sabe que é muito provável que ele dê check-raise, e o preço disso seria ter que tomar uma decisão difícil mais tarde. É provável que você precise comprometer boa parte de suas fichas levar esse pote na marra, sem qualquer garantia de que vai dar certo.
Em vez disso, devolva a batata quente para ele. Quando ele inevitavelmente apostar $60 no turn, dispare $180. Isso o colocará na berlinda, e o forçará a ter uma mão. Se você tomar check-raise, o ônus é seu. Essa jogada é uma forma excelente de virar o jogo, e forçá-lo a ter que fazer uma jogada valendo um montante significativo de fichas se quiser levar o pote.
Como em qualquer jogada de no-limit, lembre-se de agir com moderação. Se você passar da conta, os adversários saberão explorar. Seja esperto na hora de equilibrar a “c-bet para dar uma de migué” e a “c-bet rivotril”. Se for o caso, até considere dar fold em flops coordenados, que aumentam a chance de o oponente ter cartas boas para um call. Nessas horas, faça como o velho Bezerra, e mostre quem é malandro e quem é mané. ♠